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sexta-feira, 16 de maio de 2014

Quando o burlesco se torna ridículo e pode matar…

Causou furor e muito comentarismo nos OCS e nas Redes Sociais uma série absolutamente fabulosa de Fotos da Agência LUSA, na qual o Primeiro-ministro (PM) e sua prezada Comitiva aparecem numa visita guiada e interactiva a um recém-inaugurado “Museu dos Descobrimentos”.
Eduardo Ferraz da Rosa
Foto de Fernando Veludo
– Ora dessas sugestivas e inspiradoras imagens especialmente apreciadas têm sido aquelas que mostram a selecta e dita tripulação museologicamente sentada num lindo bote-barca (ver reportagem aqui), embasbacada toda com tanto exotismo de polímeros sintéticos numa tropical cenografia, que só visto...
Deixando porém nos devidos lugares tanto a iniciativa privada que investiu no dito “Museu”, quanto, no seu anedótico barco, quem por ali navegou deslumbrado em aventureira fita..., – o que se espera em sequência é que idêntica atenção e fascínio pela promoção da Cultura, da Arte, do Pensamento e da Ciência (diga-se tamanho incentivo ao Progresso, ao tão falado “Empreendorismo” e à Criatividade nacionais...), venham a ser sempre e doravante concedidos pelo Governo (por este ou por outro qualquer de igual jaez!) – sequer ao menos em parecida medida e divulgação – aos autênticos Museus de Portugal e seus preciosos acervos histórico-civilizacionais (ao abandono); aos Institutos de Investigação Científica (sem verbas suficientes); aos Laboratórios (estagnados ou em retorta fria); às Universidades (desorçamentadas); às Escolas (degradadas); às Bibliotecas e Arquivos (com documentação a apodrecer); à preservação urgente dos nossos verdadeiros Patrimónios monumentais (a perderem-se por esse País fora); às Galerias de Arte (desamparadas e esquecidas), e – enfim – ao trabalho credenciado dos nossos Historiadores, Cientistas, Estudiosos, Alunos, Professores, Escritores, Intelectuais, Trabalhadores a Animadores Culturais, Artistas e Investigadores portugueses, – tantos deles, amiúde os melhores, condenados ao ostracismo, ao desalento, à subalternização académica, à estagnação institucional sistemática e à emigração, crescentemente penalizados e destruídos no seu trabalho e talento por cegueiras, mediocridades instaladas, imprevidências e ignorâncias políticas projectadas em investimentos de miséria e irresponsáveis lógicas de planeamento sem prioridades estrategicamente acauteladas, sem realismo nem imaginário que lhes valha uma artificial espuma em corrente de lucidez governativa e patriótica!
– O resto, como seria de contra-argumentar, por muito meritório que fosse, pode não ir muito além da criação de novos modelos privados ou públicos (no caso tanto faz!) para a proliferação menor de uma espécie supostamente moderna e tecnologicamente sofisticada de outros, novos ou velhos “Portugal dos pequeninos”, talvez apenas para turista ou criança lusa ver como quem vai a um Parque de Diversões ou a uma qualquer Lusolândia mais ou menos fantasista, virtual ou teatral nos seus discutíveis materiais, símbolos, pastiches e avalizados conteúdos...
Mas seja como for, nada disso invalida nem anulará o que, na antecâmara de um surrealismo pueril, está aqui em diversa e hilariante possibilidade de observação:
– Esta mesma, a das ridículas figuras grupais que deslizam abancadas naquela lancha-batel de plástico museológico, dentro da qual o PM e a sua selecta Comitiva de improvisados navegantes governamentais (mais ou menos ciceroniados a preceito e embevecidamente embasbacados todos...), à medida que vão passando por bichos medonhos, selvas de arrepiar cabelo, peças armadas e quadros alegóricos das nossas excêntricas e heróicas viagens de descoberta, conquista e epopeia de antanho, perante o quase incrédulo, divertidamente contraposto, irreprimível e espontâneo desejo de tantos Portugueses os verem antes... afundando-se, molhados até à cintura e esbracejando nas próprias e falsas marés das suas duplas simulações merecidamente sonorizadas por uma desopilante gargalhada geral – dobrada agora e ainda mais deliciosa pelo País inteiro –, como no lembrado tempo de mestre Gil Vicente, quando eles (os mesmos... ou os seus antepassados ainda próximos?) já então iam dando pé à prancha para o Inferno que os há-de guardar, “com fumosa senhoria, / cuidando na tirania / do pobre povo queixoso”, assim chamando-os o próprio Diabo:
“Á barca, à barca, senhores! / Oh que maré tão de prata! Um ventezinho que mata / e valentes remadores”...

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