Do El País |
A Juve Leo celebrizou em 2002 um
cântico de êxtase. "Só eu sei porque
não fico em casa..." transformou-se num pedaço de banda sonora de
celebração sempre e quando o Sporting obtém sucessos, mais ou menos ocasionais.
A estrofe é adaptável a múltiplas situações exteriores ao círculo de Alvalade.
Em certos casos, como o das eleições europeias, pode no entanto induzir
pensamentos erróneos.
Fernando Santos
Do DN |
Afinal, a troca do sofá e do convívio
entre 4 paredes não é indicativa do exercício do direito/dever de votar. Como
na história da pescada, as eleições europeias confirmaram todas as suspeitas: a
maioria dos portugueses esteve-se nas tintas para a escolha nas urnas dos seus
21 representantes entre 751 no próximo Parlamento Europeu, permutando o
exercício da preferência por um passeio à beira-mar ou pelos corredores dos
centros comerciais. "Que se lixem as
eleições!" foi a palavra de ordem orientadora.
Os números dos abstencionistas são,
com certeza, alvo de várias interpretações. Dos 9.696.473 portugueses
recenseados (244.849 no estrangeiro), ter-se-ão de descontar os falecidos
(quantos?) ainda não descarregados dos cadernos eleitorais, mais umas centenas
de milhares de desafiadores de uma nova vida nos últimos anos, optando pela
busca de uma "zona de conforto"
na emigração. Mais ou menos subjetiva, esta quantificação de ausentes não tapa
o essencial: o divórcio dos cidadãos da generalidade do mundo da política - e
particularmente o desagrado vincado pelo recuo de que dá mostras a
solidificação de um projeto de modelo social europeu.
Sintomático de indiferença e na
antítese do protesto ativo pela via dos votos nulos ou brancos, o
abstencionismo nas eleições europeias é tanto mais preocupante quanto o país
vive há 3 anos um figurino de protetorado e subjugação aos ditames do FMI e de
duas entidades europeias - o BCE e a Comissão Europeia -, as quais manterão por
muitos anos o protagonismo e o poder decisório-condicionante da vida dos
portugueses.
Porque marcada por paupérrimas ou
nenhumas ideias e diatribes de baixíssimo nível dos principais candidatos ao
Parlamento Europeu, a pior campanha eleitoral de que há memória no pós-25 de
Abril não ajudou em nada à mobilização dos cidadãos. É verdade. Devia no
entanto bastar a degradação das condições de vida, sobretudo dos últimos 3 anos
"troikistas", para que os portugueses tivessem recusado a
indiferença.
Legitimados os novos representantes do
Parlamento Europeu pela pior das vias - elevado abstencionismo -, seguem-se,
como sempre, leituras políticas de cariz oportunista, enviesando-se mesmo os
resultados.
Infelizmente, o discurso tradicional
dos partidos políticos trará mais do mesmo. Pior será manter-se também a
dialética de uma parte substancial de portugueses, sempre dispostos a protestar
à mesa do café, mas incapazes de participação ativa nas eleições. Os
indiferentes ainda não perceberam o cometimento de um erro crasso: levam por
tabela com as decisões dos representantes da minoria votante.
Inscritos
|
9.680.111
|
100,00%
|
Toda a gente sabe que não somos 9.680.111 eleitores, porque muitos já morreram… mas continuam a fazer parte das contas…
Matematicamente e democraticamente, os resultados das eleições em Portugal foram os seguintes:
Votantes
|
3.281.761
|
33,90%
|
Abstenções
|
6.398.350
|
66,10%
|
PS
|
1.032.238
|
10,66%
|
Aliança Portugal
|
909.374
|
9,39%
|
CDU
|
416.147
|
4,30%
|
MPT
|
234.522
|
2,42%
|
BE
|
149.579
|
1,55%
|
Outros Partidos
|
294.579
|
3,04%
|
Brancos
|
144.838
|
1,69%
|
Nulos
|
100.484
|
1,04%
|
“Politicamente” cada um interpreta como quiser, mas os partidos do “arco” não tiveram 49,16% como dizem, tiveram sim, 20,05% dos eleitores…
Se juntarmos as Abstenções com os votos Brancos e Nulos, então a leitura dos resultados seria ainda mais deprimente e menos representativa…
E “isto” não é democracia!
Mas o que interessa é o que se passou na União Europeia, que nos deixa preocupados ou não, porque finalmente se sabe para onde vai ou não, com a identificação dos que rejeitam esta gerigonça…
Porque “isto” não é mesmo democracia!
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