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quinta-feira, 29 de maio de 2014

Contra (estes) argumentos não há factos que os contradigam!

É difícil não sair destas eleições com medo. O medo de não perceber como pode acabar o que já começou. Quem não tinha visto até ontem, viu agora. A chicotada no regime em Portugal. A decadência da União Europeia. O desabamento do sistema começa dentro do sistema.
Pedro Santos Guerreiro
Em eleições parlamentares, pode perder-se mesmo tendo mais votos. Os partidos europeístas perderam para os antieuropeístas. Perderam a minoria, mas perderam. O Parlamento Europeu vai ter mais de uma centena de deputados que são contra a União Europeia. As leis nacionais já estão a incorporar essas tensões. O final da campanha foi uma vergonha de proteccionismo económico e xenofobia mesmo entre europeus.
É fácil culpar os líderes políticos das instituições europeias. É fácil porque é verdade. Falharam como líderes europeus, falharam na diplomacia política entre os estados-membros, falharam na resposta à crise do euro, a concentração de austeridade foi um erro económico e teve custo político. A política não se faz apesar das pessoas. A União Europeia não se está a fazer nem pelas pessoas nem para as pessoas. As liberdades fundadoras vão ser postas em causa no Parlamento Europeu. A da circulação de pessoas é a primeira. Segue-se a liberdade de comércio, como se defende em França? E a de capitais - a moeda única?
Também é fácil culpar os líderes políticos nacionais. É fácil porque é verdade. Merkel impôs as suas forças para fora da Alemanha, Hollande sucumbiu às suas fraquezas para dentro de França, David Cameron foi ultrapassado nas ambiguidades britânicas. Marine Le Pen só é possível por causa de Hollande, que foi humilhado ontem, em França está tudo a correr errado. Na Grécia e na Hungria é um susto. Em Itália, curiosamente, o mesmo Matteo Renzi que subiu de esguelha impõe-se agora aos demais.
Também é fácil culpar os líderes políticos portugueses. É fácil porque é verdade. O PS ganhou, Seguro não. O PSD perdeu, Passos não. É assim que eles pensam. Pensam mal. Mais do que perderem votos, estão a perder o país. O bloco central está a passar de solução ideal para reformar a solução de emergência para governar. E Seguro e Passos agarram-se ao calendário cruzando um dia de cada vez, à espera das legislativas de 2015. Querem lá chegar. Cavaco, de longe, não pode estar a sorrir. O Presidente está a tornar-se menos que Pilatos, é a água invisível em que as mãos do sistema se lavam.
Os eleitores não mostraram cartões amarelos nem ligaram sinais laranjas. Quase 2 em cada 3 não votou. Mais de 200.000 votaram em branco ou nulo. Marinho Pinto tem mandato, PCP sai reforçado, o Bloco de Esquerda quase extinto, o CDS nem se dá por ele. O arco da governação está a deixar de ser arco, a tornar-se segmento de recta. O regime está a perder a voz. E, provavelmente, não percebeu. Pode o PS amotinar-se, o PSD confundir-se com a paisagem e o CDS fazer-se de morto, isso nada muda. Se não mudam, ficarão a falar sozinhos. E é tão fácil ouvir o que os eleitores dizem. Tão, mas tão fácil.

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