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quarta-feira, 28 de maio de 2014

A direita tem medo da extrema-direita ou de perder os “tachos”?

Os dirigentes europeus tentam minimizar a subida da extrema-direita, mas os líderes francês e britânico querem uma nova aposta na economia.
Depois das vitórias do UKIP e da Frente Nacional, Cameron e Hollande não perderam tempo a pedir mudanças e reformas à União Europeia, que o presidente francês diz agora ser "muito complexa e distante", enquanto Cameron fez um apelo aos dirigentes da União para que ouçam as preocupações dos europeus, principalmente dos que votaram em partidos de extrema-direita e que deram a vitória a partidos de extrema-direita no Reino Unido, França, Dinamarca ou Holanda. Antes da reunião de ontem entre os chefes de Estado e de governo sobre a presidência da Comissão Europeia, Cameron sublinhava que "não pode ficar tudo na mesma" e que a União tem que fazer reformas, começando pela relação entre Bruxelas e cada Estado-membro. Um sinal do que pode ser a sua resposta, vem do que defendeu em Bruxelas: "Precisamos de uma abordagem que se concentre no que realmente importa, no crescimento e nos empregos, sem tentar fazer demasiado".
Depois de ter cerca de 14% nas eleições de domingo, François Hollande afinou pela necessidade de mudança, mas com referências à necessidade de relançar a economia da União Europeia, que tem agora um projecto "distante e incompreensível. A Europa tem que ser simples e clara para ser eficaz onde for necessária e poder não se meter onde não for necessária" e considera que as respostas de Bruxelas para enfrentar a crise tiveram resultados, mas questiona: "Com que custos? Foi uma austeridade que acabou por desiludir as pessoas".
Já se percebeu que os burocratas iluminados da UE passaram por cima das brasas da fogueira das europeias e continuam mais um round, para nos “neoliberalizar”, pagar os calotes de terceiros, sem sequer fazerem um intervalo para ganhar fôlego, que foi coisa que nunca lhes faltou nesta “caça ao pobre” contribuinte…
Apenas Cameron, de direita, e Hollande de “faz de conta que é socialista”, ficaram assustados com o avanço da extrema-direita nos seus países, que os ultrapassaram, e de que maneira, ameaçando destroná-los e incendiar o Parlamento Europeu, numa tática à Putin. Vai daí, tocam os sinos a rebate, culpando a direita a que pertencem, pelas medidas espoliadoras que puseram em prática e que, naturalmente, levaram os eleitores a “contratar” uns snipers políticos para lhes furar os tachos e as falácias.
E enquanto Cameron vem dizer, agora, que "precisamos de uma abordagem que se concentre no que realmente importa, no crescimento e nos empregos, sem tentar fazer demasiado", Hollande vem dizer quase o mesmo, reconhecendo que as respostas de Bruxelas para enfrentar a crise tiveram resultados, mas “foi uma austeridade que acabou por desiludir as pessoas". Eles não tiveram qualquer culpa no cartório, claro!
E bastava-lhes ter ouvido o povo…
Pois! É urgente que os cidadãos e eleitores vejam os resultados benéficos de tão “benéficas” medidas, à medida que o tempo lhes escasseia!
Não há hipótese de sobrevivência para uma União Europeia receosa dos seus cidadãos.
Álvaro Vasconcelos
Um espectro paira sobre a Europa: o espectro dos cidadãos. A União não se pode construir sem os europeus, numa espécie de autismo vanguardista. A tentação de fazer a União contra os europeus levará à sua desintegração, com riscos acrescidos do regresso à Europa dos nacionalismos, de tão má memória.
Os europeus acabam de mostrar um grande descontentamento com a União Europeia. A abstenção já era a imagem de marca das eleições europeias, um problema que nunca foi frontalmente enfrentado, e o populismo também não é novidade – mas a dimensão dos 2 fenómenos é deveras preocupante. Se alguma dúvida houvesse sobre o crescimento do populismo, os resultados eleitorais confirmam-no plenamente, trazendo à tona todos os velhos fantasmas da Europa – o medo do mundo, a xenofobia e o racismo –, num discurso que em muitos países tem sido banalizado por partidos democráticos.
Seria um erro reduzir as eleições ao triunfo da demagogia populista. O populismo é, antes de tudo, consequência da falta de confiança nos partidos democráticos e nas instituições europeias – por isso a atual crise europeia, que as eleições espelham, é uma gravíssima fratura política.
Com a crise económica e social muitos cidadãos acordaram brutalmente para a realidade de que a União Europeia não é uma questão de política externa, mas tem a ver com questões tão essenciais como o emprego ou as reformas. O voto do 25 de Maio é um grito de protesto contra a política de austeridade, pela sua ineficácia e os seus devastadores efeitos sociais. Mas também é um grito contra uma política que não foi decidida democraticamente e é imposta por entidades com um funcionamento opaco, ou mesmo, como em Portugal ou na Grécia, por uma troika que ninguém elegeu e a quem os próprios governos democraticamente eleitos se dizem ter que submeter.
O défice democrático da União não se resolve com mais e melhor propaganda, como muitos pensam em Bruxelas. O lamento, tantas vezes ouvido – não somos amados porque não explicamos bem o que fazemos – é absurdo. Há cidadãos que genuinamente e por vezes com boas razões são contra as políticas seguidas e dizem-no cada vez com mais força. O problema é que a União Europeia vive mal com a opinião dissidente e é forte a tentação de se impor aos ditames populares, escolhendo vias obscuras para ultrapassar o que se pensam ser dificuldades momentâneas, como aconteceu com a recusa do Tratado Constitucional em referendos e a posterior aprovação de um tratado em muitos aspetos idêntico sem consulta popular.
As 3 maiores forças políticas europeias perderam o apoio de uma larga fatia do eleitorado (com um decréscimo de 88 deputados). Esta eleição confirma que muitos cidadãos europeus perderam a confiança nos partidos que construíram a Europa unida. Por mais que se procurem as diferenças, vinga a perceção, tanto no espaço europeu como nacional, que nada de essencial distingue estas famílias políticas, que da alternância não surge uma real alternativa.
Muitos não votam nas eleições europeias porque consideram que o seu voto não pode mudar as políticas, perante uma capacidade limitada, senão nula, de influenciar as decisões europeias. Forçoso é admitir que têm razão, apesar do reforço dos poderes do Parlamento Europeu. Os cidadãos consideram que é a nível nacional que podem influenciar as políticas e por isso não há indignados europeus, mas somente espanhóis ou portugueses.
Perante o escuro túnel que se apresenta aos nossos olhos, importa não perder de vista que existe uma alternativa: ousar a União Europeia Democrática, respondendo à vontade dos cidadãos, nomeadamente dos mais jovens, de participar e de ser ouvidos. É a consequência natural de uma tendência não só europeia como mundial, a da crescente capacitação dos indivíduos, como atestam os resultados de estudos europeus e norte-americanos (1). Os cidadãos da classe média, hoje potenciados pela educação, a emancipação da mulher e as tecnologias da informação, querem ser ouvidos diretamente, querem uma democracia mais participativa e colocam uma enorme pressão sobre governos incapazes de corresponder às suas expectativas, como sucede em França, onde o Partido Socialista ganhou tudo há 2 anos e agora teve apenas 14% dos votos
Os partidos democráticos europeus necessitam de uma reforma profunda que passa necessariamente pela intransigência na defesa dos valores fundamentais, pela abertura ao Mundo, por tirar partido da vontade de participação dos cidadãos, por dar mais protagonismo à sociedade civil, ao poder local e regional na tomada de decisões e na sua execução.

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