Num ano em que se prevê que a participação nas eleições europeias seja a mais baixa de sempre, a especialista em política nas redes sociais Elizabeth Linder explica por que é tão importante trazer o debate político para a rede. Não genericamente e em busca dos likes - que pouco ou nada se traduzem em votos - mas de forma pensada e personalizada.
Elizabeth Linder
Há 3 anos mudei-me de Silicon Valley para a Europa. Desde então tenho reunido com inúmeros políticos e líderes da sociedade civil em locais muito distintos – desde Ramallah a Berlim ou Bruxelas – com o objetivo de, por um lado, compreender como se ligam ao seu eleitorado e, por outro, para ajudá-los a entender como podem ser parte integrante do debate político online. Agora, com a aproximação das eleições europeias, tenho refletido sobre essas conversas.
O ano de 2014 vai ser decisivo para a política europeia, porém prevê-se que o número de cidadãos a participar nas eleições europeias seja o mais baixo de sempre – alguns estudos anteveem abaixo de 40%.
Durante os últimos anos, observei que as barreiras tradicionais entre os eleitores e os políticos podem mudar rapidamente, e em parte devido às redes sociais. É evidente que existe uma necessidade de preencher o hiato entre os cidadãos que procuram ativamente ligar-se aos políticos e os políticos que ainda não têm mecanismos para se conectarem ou reagirem a essas vozes.
Muitos políticos europeus estão conscientes desta realidade e questionam-me sobre o que devem fazer.
Após vários anos a observar e a analisar a evolução da política online, e especificamente no Facebook, cheguei à conclusão de que o impacto político online não depende dos recursos tecnológicos ou do quão grande é a equipa disponível para interagir online, mas de um engagement autêntico. Por isso, encorajo os políticos a dirigirem-se às pessoas da mesma forma que o fariam pessoalmente. Envolvam-se. Interajam. Respondam às perguntas. Façam perguntas. Construam confiança.
Atualmente, os políticos têm formas sem precedentes de se envolverem com os eleitores, num diálogo direto, franco e aberto. Por exemplo, mais de 2 em cada 3 eleitores europeus elegíveis estão no Facebook e milhões de outros estão acessíveis através de várias plataformas e ferramentas, como micro-blogging, fóruns online, etc.
Na verdade, os cidadãos europeus estão prontos a ligarem-se e dispostos a participar em discussões políticas online. Uma pesquisa do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia mostra que nas próximas décadas as pessoas esperam cada vez mais participar na tomada de decisão política. Neste sentido, o que posso assegurar, na perspetiva do trabalho que desempenho, é que alguém que usa o Facebook várias vezes por dia foi, adicionalmente, 2,5 vezes mais propensa a participar num comício político ou numa reunião desse género; demonstrou uma possibilidade maior em 57% de convencer alguém a votar; e provou ter mais 43% de probabilidade de afirmar que iria votar.
Além disso, de acordo com evidências das Eleições Gerais da Nova Zelândia de 2011 (Can Redes sociais Predict Election Results? Evidence from New Zealand), cada crescimento de 1.000 fãs na página de Facebook de um candidato político resultou num aumento de 1,4% no share de votação.
Para os políticos estes detalhes são importantes. Numa altura em que as pessoas partilham e debatem as suas opiniões políticas online, os líderes políticos da Europa devem tornar-se mais próximos dos cidadãos. Obviamente, não há uma matriz única para falar com os eleitores online. Porém, os políticos que seguem algumas das boas práticas abaixo tendem a ter maior sucesso:
- Começar cedo. Estudos demonstram que quanto mais cedo se ligam aos utilizadores, mais rápido conseguem construir relações de confiança. O investimento precoce em redes sociais compensa efetivamente em situações renhidas.
- Adaptar o conteúdo ao seu próprio estilo. As pessoas conectam-se a outras pessoas e, apesar de um deputado representar oficialmente um círculo eleitoral, é importante que tenha a sua própria persona. Neste sentido, deve optar por usar a tecnologia de uma forma que reflita a sua personalidade.
- Rever a página com frequência. Entender quais os seguidores que apresentam maior nível de engagement com o conteúdo da página, em que momentos do dia interagem mais, por que tipo de assuntos demonstram maior interesse... são aspetos que podem ajudar a ser mais eficaz na comunicação.
- Ser útil. Perguntar diretamente às pessoas o que lhes interessa e o que esperam ouvir de um deputado nas redes sociais também pode trazer vantagens.
- Incentivar as pessoas a criarem. Se os seus seguidores forem incentivados a criarem conteúdos na sua página de Facebook, por exemplo, os seus contactos terão ao mesmo tempo conhecimento das suas mensagens. Neste sentido, há uma série de dicas que podem adotar, como colocar questões, criar hashtags, levar as pessoas a documentar temas que lhes dizem respeito, nomeadamente através de fotos, etc. Além disso, é fundamental criar e cocriar conteúdo atraente que incentive à partilha histórias com a sua mensagem.
Alguns líderes políticos europeus estão já a utilizar as redes sociais de uma forma eficaz, não por ser a "última moda", mas por se tratar de um local onde podem encontrar os seus eleitores:
Angela Merkel faz tags a outros políticos e coloca vídeos diretamente a partir dos eventos políticos. Isto resulta do seu estilo próprio e tem originado um grande número de interações – não só dos seus seguidores mas também dos seguidores dos políticos a quem adiciona tags.
Martin Schulz participa em muitos chats ao vivo no Facebook, nos quais tem a oportunidade de partilhar os seus pontos de vista e responder a questões do público. Este político publica novos conteúdos diariamente para fazer com que os seus seguidores voltem à página com frequência.
Herman Van Rompuy incorpora interesses pessoais, por exemplo, poesia, na sua página, demonstrando que é possível envolver os eleitores através de conteúdos relacionados com outras atividades não políticas.
Como se pode definir o sucesso? A experiência diz-nos que devemos focar-nos menos no número de "likes" ou no número de seguidores e mais na qualidade do engagement.
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