Há 40 anos, Chico Buarque cantava-nos “Sei que estás em festa, pá.” De facto esse foi um ano de arromba para o então operário (designação em desuso até pelos "pás" de esquerda: mau: deixamos de operar!) e de lá para cá, a festa é cada vez mais um funeral.
Luísa Monteiro
Há panos negros nas praças onde os sindicatos fazem barulho e no fim do espírito saciado, saciar o corpo numa caracolada de amigos com uma "loura" na mão... Que tristeza, pá!!!
Ó pá, tu estás cada vez mais sozinho, mais dependente de políticos e de organizações patronais para um cêntimo a mais ao ordenado! O salário mínimo é uma afronta até à dignidade de um cão; o patrão manda-te para onde quer, para fazeres o que ele entende e, como se não bastasse, até és capaz de pensar que qualquer osso rapado com que te acenem, é conquista dos trabalhadores... Não!: é conquista dos empresários: são eles que financiam as campanhas dos políticos nos quais tu votas (e tu amochado no sofá de comando na mão a olhar os resultados eleitorais: grande comando o teu!).
É 1º de Maio, vamos aos caracóis, é? Fáceis de apanhar: pouca força (mas que força em quem se habituou já a viver dependente, sem paixão pelo que faz e com medo de perder a parca corda - muito bamba - onde se equilibra?), pouca velocidade (mandaste cortar a única que tinhas, a da internet, não é?) e consistência mole (tu sabes que a reprodução biológica é o espelho dos salários e a prova é este país de velhos, e esta educação, esta segurança social, esta saúde que não servem).
Estás a ver porque é que é fácil comer caracóis? Ouve: estes que agora preservam os capitais sob a ordem capitalista e que estão protegidos pelo Estado, não estiveram contigo ombro a ombro lá na praça há 40 anos? E nós que pensamos que os mais frágeis, os menos letrados, os mais pobres, iriam agarrar a vida nas mãos...
Ó pá! Mas não temos ainda mãos?
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