Espalhados por Lisboa, andam cartazes com 2 olhos vigilantes. Só graficamente, a coisa já é sinistra. Mas faz justiça ao que nos pede: que ajudemos a combater a fraude. Como o apelo não se resume ao pagamento dos nossos bilhetes, o que se pede é que sejamos bufos. E explica-se porquê. Porque menos gente a pagar são menos carreiras e pior qualidade no serviço.
Daniel Oliveira
Mas o que mais me perturbou foi ver aqueles olhos azuis esbugalhados a apelarem à delação enquanto lia, nas capas dos jornais, que Jardim Gonçalves se tinha safado de uma multa de um milhão de euros, por prescrição. É ver que Oliveira e Costa e Rendeiro podem ir pelo mesmo caminho. E que é mais fácil um banqueiro manipular o mercado de ações e enganar o Estado e os depositantes em milhões do que um desgraçado andar no metro à borla.
Sim, a fraude ajuda a que haja menos autocarros, menos escolas, menos hospitais. Que os títulos de transporte, as propinas ou as taxas moderadoras pesem mais nas nossas carteiras. Que os serviços públicos percam qualidade. A fraude do BPN, que nos está a levar milhares de milhões de euros que ninguém parece querer cobrar a ninguém. Mas não apenas ela. A fraude em que se transformou o sistema financeiro, onde enterramos dinheiro em resgates e juros e que, em Portugal e por todo o mundo, é hoje sinónimo de abuso, escândalo e amoralidade. E nem quando as comadres se zangam e uma delas põe a boca no trombone, como aconteceu com Joe Berardo, alguma coisa acontece. Esta é a fraude que me interessa. Se não querem mobilizar a coragem dos políticos, os recursos do Estado e o empenho dos cidadãos contra ela, como têm o atrevimento de apelar à bufaria nos transportes públicos?
Um desempregado anda, sem pagar, nos transportes que o senhor Sérgio Monteiro se prepara para privatizar? Comigo, pode estar descansado. O máximo que farei será empatar algum tempo o fiscal para lhe dar tempo para escapar. Faço mal? Não farei nem mais nem menos do que o Banco de Portugal e o Ministério Público fizeram com Jardim Gonçalves. E sempre ajudo alguém que precisa.
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