O acidente provocado por um cavalo no dia de Natal, perto de Évora, e que causou quatro mortos e quatro feridos graves, foi um dos que ocorreu numa zona coberta com viatura médica de emergência, mas que se encontrava inoperacional.
TEMOS DIREITO À VERDADE!
A Ordem dos Médicos e a comunicação social têm denunciado a inoperacionalidade recorrente de várias Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER), de Norte a Sul do país.
No dia 16 de Janeiro de 2014, na sequência de um artigo por mim publicado num jornal diário, o INEM entendeu comentar e esclarecer as referências feitas pelo Bastonário da Ordem dos Médicos à inoperacionalidade da VMER de Évora no momento em que ocorreu um acidente com múltiplas vítimas.
Conheço a Dra. Regina Pimentel e a sua competência, seriedade e honestidade, desde o tempo em que ambos trabalhámos na VMER de Coimbra. Por isso mesmo tenho a profunda convicção que o comunicado não é de sua iniciativa (que não será abalada por declarações contrárias), mas sim que resulta de pressão da tutela para a sua emissão.
É um comunicado infeliz, despropositado e mistificador.
Procura fazer crer que a assistência às vítimas é semelhante com ou sem presença de médico e dos recursos da VMER, o que ambos/todos sabemos que não é verdade. Com respeito por todos os outros meios e pelas respectivas equipas e capacidades, nenhum outro meio substitui ou iguala a qualidade e prontidão dos recursos de uma VMER, exceptuando o helicóptero médico em algumas circunstâncias.
Aliás, o próprio comunicado do INEM reconhece a complementaridade dos vários meios de emergência. Complementaridade e não substituibilidade. Se as VMERs fossem substituíveis e, portanto, dispensáveis, não existiriam VMERs!
Com ou sem justificações ou eventuais atenuantes, é um facto indesmentível que aquele acidente era uma indicação formal para a saída de VMER e que a VMER de Évora estava inoperacional. Por conseguinte, os meios disponibilizados para a assistência às vítimas não foram aqueles que deveriam ter sido. Se esse facto teve ou não consequências, só uma auditoria independente o poderá afirmar.
A Ordem dos Médicos não pode deixar de recordar ao INEM que a emergência médica deve afirmar-se cumprindo integralmente a sua nobre e essencial missão de assistências às vítimas com a operacionalidade e disponibilidade de todos os meios da rede nacional de emergência, salvaguardando-se assim do debate público das suas lacunas e inoperacionalidades.
No entanto, e aproveitando este pressuroso empenho do INEM em fazer comunicados públicos de esclarecimento, venho publicamente solicitar ao INEM que divulgue:
1 - A lista de inoperacionalidades de todas as VMERs durante os anos de 2012 e 2013.
2 – As razões de tais inoperacionalidades.
3 - A lista de transportes secundários inter-hospitalares efectuados por VMERs (as funções das VMERs são o socorro primário e não o transporte secundário), também durante 2012 e 2013.
4 - A listagem de todas as chamadas recebidas no INEM durante esses períodos e que, de acordo com os protocolos em vigor, teriam obrigado a uma activação das VMERs em situação de inoperacionalidade, bem como a razão desses pedidos de socorro.
5 - Quais desses casos corresponderam a situações com vítimas em paragem cardiorrespiratória ou que evoluíram para paragem cardiorrespiratória durante a falta de assistência médica competente.
Conheço a Dra. Regina Pimentel e a sua competência, seriedade e honestidade, repito, pelo que sei que, por ela, não terá quaisquer reservas em divulgar a informação agora solicitada. Confio que a tutela não a proíba de ser transparente e esclarecedora. Os portugueses exigem conhecer a verdade.
A Ordem dos Médicos aguarda expectante.
Bastonário da Ordem dos Médicos
Coimbra, 19 de Janeiro de 2014
Sem comentários:
Enviar um comentário