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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Não ignorar os erros cometidos, evitar a reincidência…

Não se trata de afetar a credibilidade das declarações que, por regra com origem governamental, direta ou indireta, anunciam sinais animadores mesmo quando, quanto à recuperação da crise que estamos globalmente a sofrer, tudo passa das capacidades médias das populações europeias. Mas trata-se de sublinhar, com vigor, que o corolário evidente de confiança no regresso ao tipo de sociedade anterior, antes do novo-riquismo destruidor e do liberalismo repressivo a servir de terapia, exige a maior meditação, prudência e moderação na confiança técnica ou interventora.
Adriano Moreira
Escreveu algures Sun Tzu, lembrado por Hassner, que "aquele que se distingue a resolver as dificuldades, resolve-as antes de surgir. O que se notabiliza em vencer os seus inimigos, triunfa antes que as ameaças destes se concretizem". Trata-se de coisa diferente do princípio da precaução que diz respeito à prevenção de acidentes, e cuja débil utilização foi por exemplo demonstrada com a destruição das Torres Gémeas.
Alguns falam, neste domínio, que tem relação direta com os serviços de informação, da deficiência do conhecimento-antecipação, um facto que esteve aparentemente na base do excesso de zelo do Governo de Obama quando organizou a invasão da intimidade de todos os Estados.
No caso da crise financeira e económica global, não se trata já de nenhuma destas inquietações, porque os factos estão consumados: o que falta é saber se a experiência foi adquirida e se algum saber novo pode ser enunciado, em substituição dos dogmas do mercado sem regulação, aberto à liberdade criadora de financeiros imaginativos. Dispensa-se a temática do carisma, porque o que são necessárias são vozes credíveis de quem demonstre que se aplica e tem a certeza de que ninguém escapa a enganar-se. Neste último ponto, a dolorosa experiência que os europeus têm sofrido para além do humanamente aceitável deve ter proporcionado uma colheita de erros que deve ser mobilizada para evitar novas surpresas com o ainda indefinido futuro que nos espera. E não apenas os erros das teimosas terapias que não provocaram, salvo tardiamente, alguns sobressaltos de enganos, também os que estiveram nas causas da crise, designadamente a incapacidade de vigilância de órgãos reguladores, a irresponsabilidade governativa que conduziu ao desastre da falta de meios para efetivar a relação dos projetos e das ações empreendidas para lá das necessidades e dos objetivos fundamentais do Estado, os defeitos da estrutura política que alteram frequentemente a relação entre o executivo e o legislativo, vista a crítica relação de facto entre o Governo e a maioria de apoio, a circulação do pessoal político para a vida empresarial, e depois a fácil elaboração de uma dogmática jurídica que multiplicou as maneiras semânticas de chamar aos cofres do Estado gastador os recursos dos mais fracos, idosos e pensionistas, e até praticamente transformou, com o IMI, os proprietários de casas em arrendatários das câmaras municipais, elas também necessitadas de cumprir as dívidas financeiras que criaram.
Num mundo em que as interdependências, as redes, as suas interferências recíprocas, a inevitável diferença de poder entre os Estados, pode mudar a ordem da hierarquia, não retirará esta de qualquer sistema que venha a ser estruturado.
Também a experiência vivida aponta para a evidência de que o regionalismo, do tipo da há séculos sonhada União Europeia, é o remédio possível para a afirmação dos que têm afinidades, mas são sobretudo potências médias ou pequenas em face das superpotências que existirão.
A convalescença da Europa exige atenção a muitos males que a afetaram, à falta de estadismo que a diminuíram, a terapias sem experiência que a enfraqueceram.
É aconselhável não ignorar nenhum dos erros cometidos, decidir não consentir na reincidência e chamar as vozes existentes que conhecem e prezam o seu passado, para que a voz europeia volte a ser ouvida na ainda mal pressentida sociedade internacional nova que vem a caminho.

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