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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

“…mas as pessoas estão mais pobres”. Verdade!

Na radiografia da economia que Pedro Passos Coelho leva ao 35.º Congresso do PSD, que se realiza no próximo mês em Lisboa, encontrei 5 verdades, 4 meias verdades e 1 mentira. As exportações são a pedra de toque da sua moção.
Luís Reis Ribeiro
Aliás, tal como Paulo Portas, do CDS, o presidente do PSD elegeu-as como motor da economia e motivo de confiança no futuro. Eis a lista que Passos Coelho inscreveu no texto da moção à liderança do PSD passada a pente fino.
“Um desempenho muito positivo das empresas portuguesas que se voltaram para a exportação de bens e serviços, que tem crescido continuamente nestes 3 anos (atingindo um valor superior a 40% do PIB)”.
Verdade. No 3.º trimestre, o peso das exportações no PIB era 40,9%, mas recuou face ao máximo de sempre no 2.º trimestre (41,2%).
“[Exportações registaram] um dos maiores ritmos no espaço da União Europeia. E isto apesar da adversidade enfrentada no plano interno, com custos comparados mais pesados no acesso a financiamento, e no plano externo, com quebra de procura na União Europeia em razão da recessão generalizada”.
Assim, assim. As exportações reais devem crescer este ano quase 6%. Mas quando se faz uma comparação europeia no segmento das mercadorias (janeiro – outubro acumulado face a igual período de 2012), Portugal regista um crescimento nominal de 4% (um valor razoável em todo o caso e acima da média). Mas fica atrás de Reino Unido (12%), Chipre (11%), Roménia (9%), Lituânia (9%), Bulgária (8%), Polónia (5%). Ironicamente, Portugal, Grécia e Irlanda, os países do ajustamento da troika, estão todos a crescer 4% em termos nominais nas exportações de bens no período em causa.
“Uma mudança de perfil estrutural da economia portuguesa trazido pelas exportações líquidas...”
Assim, assim. Portugal está a exportar mais do que a importar, é verdade. O saldo comercial nominal atingiu o valor melhor de sempre (série desde 1995) no 2.º trimestre, com um excedente comercial de 650 milhões de euros. Mas este afundou no 3.º trimestre para 275 milhões. Muitos economistas duvidam que os excedentes sejam para manter. Quando a retoma for mais sólida, se chegar, Portugal vai reatar as importações. De bens de consumo, de máquinas, de tecnologia, de automóveis, etc. De tudo o que não se produz cá.
“...permitindo-nos apresentar um resultado histórico, pela 1.ª vez em muitas décadas, marcado por uma posição excedentária sobre o exterior, significando que o País parou em termos líquidos de se endividar perante o exterior, contrastando com a década anterior (de 2000 a 2010) em que se endividou à razão média de quase 10% ao ano”.
Verdade. No 3.º trimestre o saldo externo da economia atingiu um valor recorde (excedente) de 3,7% do PIB, embora a média de Janeiro a Setembro seja apenas 1,5% do PIB. Mas ainda assim é um excedente. De 2000 a 2010 o défice externo da economia foi de 8,5% ao ano (10% por arredondamento).
“Uma tendência ainda ligeira mas continuamente descendente da taxa de desemprego, que registou um nível máximo de 17,6% em Janeiro de 2013 e deslizou para 15,5% em Novembro de 2013, isto apesar do ligeiro aumento da população activa registado a partir do 2.º trimestre desse ano”.
Assim, assim. A evolução da taxa de desemprego mensal ajustada (Eurostat) está correta. Mas a população ativa estagnou a partir do 2.º trimestre de 2013. E no 2.º trimestre houve uma queda homóloga de 2,4% na população ativa, isto é, há menos 62.800 pessoas no mercado de trabalho (empregados e desempregados).
“Uma tendência também ligeira mas positiva da evolução do emprego, que registou um aumento de 1,2% no 3º trimestre de 2013 face ao trimestre anterior (o maior na UE) e que significou, nesses 2 trimestres, uma criação líquida de perto de 120.000 empregos”.
Verdade (?). Mas é uma análise arriscada e com informação incompleta. O aconselhável com os indicadores do mercado de trabalho é usar comparações homólogas para expurgar a sazonalidade. Aí o emprego caiu 2,4% em Portugal quando a média da UE foi -0,3%. Da mesma forma que em termos homólogos houve destruição líquida de 102.700 empregos entre o 3º trimestre de 2012 e igual período de 2013.
“A inversão de tendência na actividade económica ocorrida no 2.º. trimestre de 2013, com o PIB a registar o maior crescimento em cadeia na UE face ao trimestre anterior e situando-se no dobro da média da zona euro no 3.º trimestre desse ano. Espera-se, nesta sequência, que no último trimestre do ano de 2013 se tenha registado, pela 1.ª vez desde 2010, um crescimento homólogo trimestral do PIB face a 2012 e um resultado em termos de recessão económica razoavelmente inferior à estimativa corrigida pelo governo e pela Troika (-2,3% estimado na 7.ª avaliação e corrigido para -1,8% na 8.ª/9.ª avaliações)”.
Assim, assim. Portugal cresceu em cadeia 1,1% no 2.º trimestre, mas não teve o maior desempenho da UE. Malta avançou 1,8% e o Luxemburgo 1,6%. No 3.º trimestre, Portugal cresceu apenas 0,2% em cadeia. A média da zona euro foi 0,1%, da UE foi 0,2%. É quase nada, mas de facto é o dobro.
“Em particular, tanto o sector do turismo como a agricultura registaram crescimentos homólogos superiores a 7% e a 8%, respectivamente, com a nota relevante de que, no caso da agricultura, estes 3 anos de investimento contrastaram com a tendência que dominou muitos anos, tendo-se registados ganhos de produtividade e de emprego dos mais significativos quando comparado com outros sectores económicos”.
Falso. Nos 3 anos que terminam no 3.º trimestre de 2013 o valor acrescentado do sector “agricultura, silvicultura e pesca” ficou estagnado (0,4%) em termos reais, mostra o INE. A produtividade aparente até pode ter aumentado na agricultura, mas muito à custa da destruição de emprego. Tomando como base de comparação o final de 2010, o ramo agricultura e pescas perdeu mais de 65.000 empregos em termos líquidos, uma queda de 12,3% no 3.º trimestre 2013.
A faturação no turismo, medida através dos proveitos totais nos estabelecimentos hoteleiros, estava a crescer 5,2% em novembro (valores acumulados desde início do ano). Em quase 3 anos (2011, 2012 e jan-nov 2013), o crescimento médio da faturação hoteleira rondou 2,7%. Aqui o emprego aumentou face ao final de 2010: 10,3% ou mais 29.600 postos de trabalho.
“Os níveis de confiança, tanto de investidores como de consumidores, apresentam uma recuperação para níveis próximos dos registados antes da eclosão da crise, enquanto as taxas de juro dos títulos de dívida portuguesa, nos diversos prazos, evidenciam uma queda para valores pré-crise, fazendo regressar ao mercado de emissão de dívida agentes financeiros importantes sem cuja confiança seria difícil dispensar a ajuda oficial”.
Verdade.
“O combate ao défice público, dificultado pelos tempos recessivos, tem registado uma evolução favorável. Nos últimos 3 anos, o défice estrutural primário recuou quase 7%. Não dispondo nesta data ainda de valores finais, sabemos que o défice nominal em 2013 ficará abaixo do limite estabelecido com os credores oficiais e não apenas por razões extraordinárias. De facto, a despesa pública registou um desempenho em linha com o objectivo, enquanto a receita corrente indirecta, mais ligada ao nível de actividade económica, apresentou um desempenho superior ao estimado conservadoramente pelo governo. Deste modo, é possível esperar que tenhamos reduzido o défice em 3 anos para quase metade do valor registado em 2010”.
Verdade.
Com Carlos Rodrigues Lima e Artur Cassiano

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