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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Republicando a análise que “instrui o contraditório”...

"Portugal e outros países do Sul da Europa deviam unir-se e dizer que a maneira como os tratam não é aceitável. Quando Portugal, Grécia, Irlanda e Espanha levam a cabo medidas de austeridade, os outros países do Norte da Europa deviam fazer o inverso e estimular a economia. Vocês têm influência na Comissão Europeia, mas não a usam", disse Paul de Grauwe.
Paul de Grawe, da London School of Economics, diz que Cavaco não vive nesta realidade e que masoquismo é não renegociar dívida
Filipe Paiva Cardoso
"Claro que se deve falar disso [reestruturação da dívida]. Estão a transferir receitas para os estrangeiros, que sentido faz isso?", questionou Paul de Grauwe, economista, que rotula de "quase masoquista" os portugueses estarem a "punir-se a si mesmos". Ou antes, talvez seja mais uma questão de sadismo: "É difícil entender como pode o governo magoar a população e sentir-se orgulhoso disso".
Em entrevista à Lusa, Paul de Grauwe, economista belga e professor na London School of Economics, pôs o dedo em todas as feridas portuguesas, sobretudo naquelas de que governo e Presidente da República nem ousam debater seja com quem for - Cavaco, diz, "está a fechar os olhos à realidade".
"Portugal tem tanta austeridade que a dívida se tornou insustentável, algo tem de ser feito. Não acho que consiga sair do problema hoje sem uma reestruturação da dívida." O economista culpa o primeiro resgate e o governo pelo novo resgate que acabará por surgir, nem que de forma disfarçada: "Um novo programa de austeridade vai empurrar Portugal para a insolvência", antecipou, considerando-a "inevitável" quando o país "foi posto numa austeridade tão intensa que se tornou contraprodutiva para a economia".
Em relação a erros, não há grandes dúvidas: "O governo português fez o grande erro de tentar ser o melhor da turma no concurso de beleza da austeridade. Não havia razão para Portugal fazer isso, podia não ser o melhor da turma, podia ser mesmo o pior e isso seria melhor para economia."
Para de Grauwe mais incompreensível que a atitude de ir além da troika é a falta de união entre os países que estão a empobrecer a troco do enriquecimento dos países do Norte da Europa. "Portugal e outros países do Sul da Europa deviam unir-se e dizer que a maneira como os tratam não é aceitável. Quando Portugal, Grécia, Irlanda e Espanha levam a cabo medidas de austeridade, os outros países do Norte da Europa deviam fazer o inverso e estimular a economia. Vocês têm influência na Comissão Europeia, mas não a usam", disse Paul de Grauwe. De imediato apontou o excedente comercial da Alemanha que engordou nos anos da crise até ao recorde de 20,4 mil milhões de euros em Setembro, isto quando em Portugal se cortam nas pensões. "Se uns têm excedentes, outros têm défices."
O economista reflectiu ainda sobre a necessidade de Portugal implementar reformas e sobre "o mito" de ser esse o problema do país. "Foi criado o novo mito de que temos de fazer reformas estruturais. O problema hoje não está do lado da oferta da economia e as reformas estruturais lidam com isso. Claro que temos de ser mais eficientes, mas o problema é que mandamos abaixo a procura e em resultado a economia não cresce. Temos de alterar isso." A má distribuição de rendimentos e a política de baixos salários serão, assim, o problema por atacar: "Portugal fez reformas estruturais, flexibilizou, reformou o mercado de trabalho e não resultou. Porque o problema está do lado da procura."
Quem leu o post anterior, verificará que a diferença não é muita, mas é alguma, pela seleção que o articulista fez de uma entrevista, que não tive a sorte de a encontrar.
Não deixa de ser estranho que já não conste das “Notícias do Google” nenhuma notícia sobre o que disse Paul de Grauwe, dada a relevância do passado, do presente e do futuro do nosso país, bem como para a própria UE e do Euro…
E só por isso, aqui deixo mais uma perspetiva sobre a situação em que nos enredaram, para não sermos formatados apenas pelos “bispos” da situação e termos direito a ouvir o contraditório, para cada um poder ver o que está para além do “inevitável”…
E por falar em “inevitável”, o que era até há meses “inevitável”, a austeridade, parece que agora o “inevitável” é um beco sem saída em vez do túnel com luz ao fundo…
Mas Paul de Grauwe vai mais longe na análise que faz sobre o BCE e as implicações para Portugal, que nos deixam ainda mais revoltados com tanto obscurantismo e tanta conversa da treta sobre minudências…
É preciso avisar toda a gente!
Na Grécia, 2013 e 2014 serão anos de inflação negativa. Em Portugal, a taxa homóloga é de 0,1% e há sinais de que pode descer mais. Com os juros já quase a zero, deve o BCE fazer mais para combater a deflação?
O debate reacendeu-se na Europa na semana passada, quando o Eurostat, na sua estimativa rápida para o mês de Setembro, anunciou que a taxa de inflação homóloga na zona euro deverá ter caído em Outubro de 1,1% para 0,7%. É o valor mais baixo desde 2009, quando a economia mundial se afundou, e mostra que, para além dos países da Europa periférica, também no centro da Europa se assiste a uma queda da inflação para valores historicamente baixos.
Paul de Grauwe, que não tem dúvidas de que "existe um risco de deflação na periferia", defende que o BCE ainda tem muito que pode fazer. "O BCE pode contrariar a deflação comprando títulos de dívida pública na periferia. Isso reduziria as taxas de juro a que as empresas, especialmente as PME, podem obter empréstimos".
O cenário alternativo, avisa, é assustador para Portugal. "Se a deflação acontece, o peso da dívida vai aumentar ainda mais. E aí, a Alemanha e o seu agente, a Comissão Europeia, dirão a Portugal para impor ainda mais austeridade..

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