Há declarações incompreensíveis, formas inúteis de fazer oposição. Mais do que todo o populismo, a que os partidos nos habituaram, o que mais custa é quando, em política, se opta pelo caminho da desinformação. E tem sido esse, infelizmente, o caminho seguido pelo PS de António José Seguro.
Sílvia de Oliveira (Jornalista)
Mas enfim, de política saberá, ou não, Seguro. Eu proponho-me apenas contribuir para a informação geral, coisa que o secretário-geral do PS e o seu partido têm desprezado. Um programa cautelar não é a mesma coisa que um 2.º resgate.
Na Grécia antiga a verdade era definida em função da aderência de um facto, ocorrência ou entidade à realidade; a verdade é o reconhecimento do real. A verdade é ‘tangível’, substantiva, pode ser revelada. Bem sei que desde então muitos outros discorreram sobre o conceito de verdade; mas hoje, na vida política, mais do que nunca, a verdade é necessária. A verdade é real, mas não transacionável. E o PS e o Secretário-Geral do PS não trocam a verdade pela mentira (como sugeriu Sílvia de Oliveira no “Dinheiro Vivo” e nas páginas do DN desta quinta-feira) e, ao contrário de outros, não usamos a palavra ‘verdade’ como capa de mentiras convenientes. Dirão alguns que a mentira pode ser piedosa… Será seguramente essa a abordagem que muitos adotam quando se referem ao possível programa cautelar.
Eurico Brilhante Dias (Secretário Nacional do PS)
Mas vejamos então o que é verdade ou, como diriam os gregos antigos, o que é real. A verdade é que desde Maio 2011 que o PAEF (Programa de Assistência Económica e Financeira) assumiu 3 objetivos: a consolidação orçamental (défice estrutural de 0,5% em 2014), a implementação de uma agenda de reformas estruturais, e o regresso pleno aos mercados (23 de Setembro de 2013 foi até a data anunciada como o verdadeiro momento de regresso). A verdade é que estamos longe de alcançar estes objetivos.
É verdade que dissemos que o OE12 tinha folgas – uma verdade que convenientemente foi desmentida mas que o INE e a própria UTAO não deixaram mais tarde de confirmar. Também é verdade que, entre outras propostas, propusemos – tal como a CIP agora – que parte do resgate não utilizado fosse aplicado num instrumento de capitalização das PMEs. E, também é verdade que dissemos que aumentar o IVA da restauração era uma medida economicamente pouco inteligente. É verdade que cada vez mais portugueses – e até alguns membros do Governo – dizem que sem crescimento económico e a criação de emprego não é possível consolidar as contas públicas. É verdade que no início o PS esteve praticamente sozinho defendendo esta posição, mas também é verdade que hoje são os austerófilos que estão isolados.
Também é verdade que dissemos que Portugal, aplicando-se a receita de austeridade “custe o que custar”, não resolveria a sua crise. Iria adensá-la e encaminhava-se para um 2.º programa, e esse 2.º programa não seria bom para nenhum português. E é verdade que dissemos que aquilo a que chamam programa cautelar é um 2.º programa; e é também verdade que, tal como disse a Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças, ninguém sabe que tipo de condicionalidade será imposta a Portugal na subscrição desse programa. É verdade que ninguém sabe se a condicionalidade será melhor ou pior do que a condicionalidade de um 2.º resgate – ou mesmo se será exatamente igual.
É por isso que é mentira que não digamos – em particular o Secretário-Geral do PS – a verdade quando afirmamos a única coisa real que hoje se pode dizer sobre o eventual programa cautelar: será um 2.º programa com condicionalidade (seja ela ao abrigo de um linha de crédito precaucionária ou de outros instrumentos do mecanismo de estabilidade). É por isso que se trata de desinformação quando se diz, como vêm dizendo os repetidores do Governo, que o programa cautelar não trará associado um programa de austeridade, ou mesmo que fará de Portugal um Estado-Membro menos dependente do exterior. E, como é óbvio, não se sabe se o programa cautelar será igual ao da Irlanda (se houver), ou mais próximo do 2.º resgate à Grécia. Porque como diriam os gregos na antiga Grécia: a verdade é o que é aderente à realidade; e na realidade só há a convicção, e não a certeza, de que teremos um 2.º programa. E isso significará – lá isso será verdade – que este programa de resgate não atingiu os seus objetivos. Quer dizer: falhou. É por isso que a verdade não nos fica só bem: assenta-nos como uma luva (branca).
Não se pode deixar de notar a linguagem política da jornalista e a linguagem técnica do político…
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