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sábado, 18 de maio de 2013

Talvez por isso “a tua cara não me é estranha”…

Dois investigadores norte-americanos estudaram os genes de 40 populações de referência do continente europeu. Conclusão: todos os atuais europeus descendem dos mesmos antepassados. Vejamos porquê.
Consideremos 2 europeus do presente, mesmo que vivam em países distantes. Por exemplo um finlandês e um francês: existem fortes possibilidades de os dois terem muitos antepassados comuns, que viveram há cerca de um milénio. É isto que demonstra uma análise dos genes de 2.257 pessoas oriundas de 40 populações de todo o continente: albaneses, ingleses, belgas, dinamarqueses, espanhóis, italianos, macedónios, russos, turcos, etc.
O estudo, que acaba de ser publicado pela [revista científica] Plos Biology, foi realizado por 2 geneticistas das populações, Peter Ralph e Graham Coop (Universidade da Califórnia em Davis). Este estudo mostra que, à escala dos últimos 3.000 anos, existe um grau de parentesco elevado entre as populações das diferentes nações europeias, apesar de estas serem construções recentes que reuniram grupos humanos distintos.
Os 2 investigadores utilizaram o genoma completo dos 2.257 indivíduos estudados. Investigaram segmentos de ADN partilhados por indivíduos diferentes. O princípio geral é que 2 indivíduos que têm um antepassado comum podem partilhar um segmento de ADN herdado desse antepassado. Quanto mais longo for esse segmento, mais recente é o antepassado comum. Analisando o comprimento dos segmentos de ADN partilhados por 2 indivíduos, os investigadores podem avaliar a distribuição no tempo dos seus antepassados comuns.
Mistura de segmentos de ADN
Por que motivo existe uma relação entre o tempo e o comprimento dos segmentos de ADN partilhados por 2 indivíduos? Para se compreender essa relação é preciso considerar a forma como os genes e, por conseguinte, o ADN – que é o seu suporte material –, se recombinam em cada geração. O genoma de um determinado indivíduo é constituído pela mistura dos genes dos seus pais e, deste modo, o seu ADN é constituído por segmentos provenientes da sua mãe e por outros provenientes do seu pai. Na geração seguinte, a mistura integra novos segmentos de ADN, e assim por diante.
Este processo desenvolve-se geração após geração. Deste modo, o genoma de uma pessoa contém segmentos do ADN dos seus antepassados, entrecortados pelos novos segmentos introduzidos em cada geração. Como o local onde as sequências de ADN se modificam é sempre diferente, o resultado é que os segmentos que são conservados são cada vez mais curtos. Assim, os primos-irmãos em primeiro grau, que têm avós comuns, partilharão segmentos de ADN mais longos do que os primos em segundo grau; estes últimos partilharão segmentos mais longos do que os primos em terceiro grau, etc.
Quando um segmento herdado de um antepassado é conservado em 2 indivíduos, ao longo de um grande número de gerações, é possível avaliar a antiguidade desse antepassado a partir do comprimento do segmento. Foi o que fizeram Peter Ralph e Graham Coop. Os seus cálculos mostram que 2 europeus de 2 países vizinhos têm entre 2 e 12 “antepassados genéticos” comuns que viveram ao longo dos últimos 1.500 anos; e têm até 100 desses antepassados, se recuarmos mais um milhar de anos.
Europeus têm os mesmos antepassados
Por mais surpreendente que isto pareça, todos os habitantes da Europa que viveram há 1.000 anos e que tiveram descendentes são antepassados de todos os europeus de hoje! Ou, se preferirmos, todos os europeus contemporâneos descendem do mesmo conjunto de antepassados, que viveram há 1.000 anos.
No entanto, os 2 investigadores concluíram que a distribuição dos antepassados comuns não é homogénea em termos geográficos: por exemplo, os italianos têm menos antepassados genéticos comuns entre si e com os outros europeus, e têm mais ligações com antepassados que remontam a 2.000 anos atrás do que com os de há 1.000. Essa diferença poderá refletir um maior grau de isolamento geográfico.
Contudo, os próprios investigadores reconhecem que, para estudar acuradamente uma história tão complexa como a da Europa, não basta analisar os genes de indivíduos contemporâneos. Será necessário utilizar igualmente ADN de indivíduos que viveram no passado, cuja antiguidade possa ser datada. E ainda recorrer a outras disciplinas, como a arqueologia e a paleoantropologia.

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