(per)Seguidores

domingo, 12 de maio de 2013

E há ditaduras Políticas, de Consumo e de Mercado…

“Não existe uma verdade igual para todos. As leis, as regras, a cultura, tudo deve ser definido para um conjunto de pessoas; o que vale para um lugar pode não valer para outro”.
Nei Alberto Pies
As ditaduras (políticas, de consumo ou de mercado) são as maiores inimigas das palavras. As palavras traduzem sempre conceitos, que nada mais são do que o nome das coisas. Por isso mesmo, as ditaduras são extremamente hábeis em reduzir o sentido e o significado das coisas em que podemos pensar. Só a democracia nos permite alargar os horizontes das ideias que vamos construindo na história. Só ela é capaz de considerar as contradições e imperfeições dos pensamentos, para os aperfeiçoar. Por causa disto, convivemos em permanente tensão entre aqueles que querem fazer das ideias um exercício de liberdade e aqueles que gostariam de dizer aos outros “o que podem e devem pensar e fazer”.

A democracia ainda precisa de ser muito mais exercitada e experimentada, para ser aprendida. Vivemos, por vezes, uma equivocada disputa entre ter posição e ser contra. As disputas demasiadamente ideologizadas não permitem que as palavras/conceitos se revelem em todos os aspetos, sob os mais diferentes pontos de vista. Ser democrático não significa ser dono da verdade. Significa estar aberto à construção do conhecimento, considerando as mais diferentes interpretações das coisas e dos factos, num processo dialético de aprendizagem. A verdade surge no exercício do consenso, nem sempre fácil, mas sempre necessário.

Conquistamos a liberdade de pensar, mas ainda somos moldados nas nossas ações por efeito das ideias dominantes. Temos, então, a sensação de que as nossas ideias pessoais nada resolvem, de que são fracas e impotentes. Isto comprova que o mundo e as pessoas são movidas por ideias, que estão sempre em disputa na sociedade. E comprova que, isoladamente, as nossas ideias perdem fôlego, não conseguindo concretizar-se. Só as ideias geradas e praticadas coletivamente conseguem romper com a lógica da ideologia dominante, e conseguem traduzir-se em prática na vida quotidiana daqueles que resolvem assumir-se como sujeitos dos seus conhecimentos e da sua história.

O problema é que nas ditaduras não somos educados para a cooperação e a solidariedade. Prevalece a cultura hedonista (do culto do eu), que reproduz a ideia e o conceito dos vencedores. Aos vencedores, a glória. Aos vencidos, os sentimentos de incompetência, revolta e impotência. E estes últimos sentimentos geram muitas tensões sociais e de convivência, desfavorecendo a nossa condição de seres em relação.
A autonomia dos sujeitos é o maior marco da concretização de uma democracia real e verdadeira. A luta pela democracia invoca novas relações interpessoais, baseadas na interdependência e na reciprocidade. Jean Piaget, ao estudar o juízo moral das crianças, ajuda-nos a considerar que “a autonomia só aparece com a reciprocidade, quando o respeito mútuo é bastante forte, para que o indivíduo experimente interiormente a necessidade de tratar os outros como gostaria de ser tratado”.

Não é democrática a sociedade que não tolera os pensamentos divergentes e que combate as diferentes formas de organização social que buscam praticar e viver as ideias coletivas. Democrática é a sociedade que permite aos homens e mulheres realizarem-se na sua dignidade, preservando o seu modo de ser, pensar e agir, individual e coletivamente. Pratiquemos e aprendamos, pois, a democracia, intensamente, sem nenhum culto às ditaduras.

Sem comentários:

Enviar um comentário