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sexta-feira, 10 de maio de 2013

Se a União Europeia está mal a Eurozona nem se fala!

9 de maio: Dia da Europa
Assente em critérios económicos, políticos e geopolíticos, a UE terá de ser julgada de acordo com estes mesmos critérios. E o veredicto do historiador britânico Niall Ferguson é irreversível.
Thank you. Merci. Mersi. Grazie. Gracias. Grazzi. Go raibh maith agat. Dziekuje. Danke. Aitäh. Köszönöm. Multumesc. Dêkuji. Paldies. Ačiū. Dakujem. Obrigado. Hvala. Dank u. Kiitti. Blagodaria. Merci villmahl. Efharisto. E o meu favorito, tak.
A Deusa Europa
Há 23 maneiras de dizer obrigado na União Europeia e parece-me que isso, por si só, ilustra por que motivo a experiência europeia redundou num fracasso. Recorda-se daquelas experiências que fazia em criança com o estojo de química? Juntava substâncias químicas, umas atrás das outras, para ver quando se dava a explosão. Foi o que fizeram na Europa. Começaram com 6; não era suficiente. Passaram para 9... e nada. 10... e apareceu um bocadinho de fumo e nada mais. 12... e nada. 15... e outra vez nada. 25... e começou a borbulhar. 27... e explodiu!
Tenho a certeza absoluta de que Lord Mandelson e Daniel Cohn-Bendit vos vão dizer que a experiência europeia foi bem-sucedida porque tem havido paz na Europa desde que esta surgiu, no início da década de 1950. Será que não poderíamos deixar morrer esta ideia? A integração europeia não tem absolutamente nada que ver com a paz na Europa desde a II Guerra Mundial, que foi uma conquista da NATO. A criação da União Europeia não foi sobre guerra e paz pois, se assim tivesse sido, teria havido uma Comunidade Europeia de Defesa, que foi vetada pela Assembleia Nacional Francesa em 1954.
Avaliação económica
A Europa tem de ser julgada em termos económicos, visto que os seus próprios termos têm sido sempre económicos. E como resultou isso? Na década de 1950, a economia da Europa integrada cresceu a um ritmo anual de 4%. Na década de 1960, era praticamente igual. Na década de 1970, o crescimento foi de 2,8%; na década de 1980, desceu para 2,1%; na década de 1990, foi de apenas 1,7%; e por aí adiante, até ao zero.
À medida que a integração europeia continuava, o seu crescimento declinava. A parte da Europa no PIB global tem vindo a registar uma descida desde 1980 de 31% para apenas 19%. Desde 1980 que a UE registou um crescimento mais rápido do que o dos EUA em apenas 9 anos num total de 32. A sua taxa de desemprego nunca foi inferior à dos EUA.
Será que os meus leitores são investidores? Quais foram os piores mercados de valores dos últimos 10 anos? Grécia, Irlanda, Finlândia, Portugal, Holanda e Bélgica – foram os piores do mundo. E, para além disto tudo, temos a União Monetária – a mais recente experiência correu mal.
Nós avisámos, meus senhores. Dissemos que uma União Monetária sem integração do mercado de trabalho e sem qualquer federalismo acabaria por explodir. Foi a minha previsão em 2000. É o que está a acontecer, em tempo real, num laboratório de química, do outro lado do Atlântico.
Mas esta também foi uma experiência política que correu mal. Sabem que experiência foi esta? Foi ver se os europeus podiam ser forçados a uma união ainda mais coesa – independentemente das suas vontades – pela via económica, visto que as estratégias políticas não deram resultado.
Perda de legitimidade política
E quando os povos europeus votaram contra uma maior integração, os seus governos receberam indicações para tentar outra vez. Foi o que se passou com os dinamarqueses em 1992 e duas vezes com os irlandeses: em 2001 e novamente em 2008. Estes cidadãos deram a resposta errada no referendo e foi por isso que os seus governos fizeram outro. Isto diz-nos alguma coisa sobre o motivo que levou esta experiência a fracassar – fracassou porque deixou de ter legitimidade política. E vemos isto não apenas na Grécia, mas em todos os sucessivos governos por essa Europa fora. Desde que a crise começou, há 2 anos, que já caíram 13 governos e nos próximos meses vão cair mais.
Por último, a experiência europeia tem sido um fracasso geopolítico. Esperava-se que a União Europeia servisse de contrapeso aos EUA. Recordam-se do discurso de Jacques Poos, em 1991, “a hora da Europa”, onde anunciava que a Europa ia resolver a guerra na Bósnia? [De facto, o seu discurso foi proferido depois de estalar a guerra na Eslovénia e na Croácia.] Isto passar-se-ia em 1991. Mas nessa guerra morreram 100.000 pessoas e houve 2.200.000 de deslocados e o conflito só terminou quando os EUA finalmente intervieram e puseram fim ao conflito.
Ficou famosa a pergunta de Henry Kissinger, “A quem hei de telefonar quando quiser falar com a Europa?”. A resposta chegou alguns anos mais tarde: telefone à baronesa Ashton de Upholland. Nunca mais ninguém soube dela, nem ouviu falar dela. Meus senhores! Sendo canadianos, sabem como é difícil gerir um sistema federal com apenas 10 províncias e 2 línguas oficiais; por isso compreenderão mais depressa do que a maioria das pessoas por que motivo a experiência europeia, com 27 países e um número impressionante de 23 línguas, redundou num vergonhoso fracasso. Felizmente que agora aqui no Canadá só tenho de usar 2 ou talvez 3 palavras: Thank you e Merci.
Este artigo é uma transcrição da intervenção de Niall Ferguson como orador a favor do “sim” no Munk Debate sobre o tema “Será que a experiência europeia falhou?”. Fez parte da história de capa da revista IL do jornal Il Sole-24 Ore sobre “A Europa debaixo de fogo”, publicada em abril de 2013.

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