Depois de Paulo Portas ter criticado abertamente os chamados "senhores da troika", o ministro das Finanças aproveitou a presença em Bruxelas para deixar bem claro que, do seu ponto de vista, nem a Comissão Europeia nem a troika são responsáveis pela austeridade que o Governo está a impor em Portugal.
"As necessidades de consolidação orçamental em Portugal não são impostas pela Comissão Europeia nem pela troika - são impostas por realidades orçamentais e financeiras. Devemos procurar alcançar o equilíbrio orçamental e a sustentabilidade das finanças públicas", afirmou Vítor Gaspar.
“Adoração do Bezerro de Ouro” de Nicolas Poussin
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Embora mantendo-se fiel ao papel de bom aluno, Vítor Gaspar aproveitou a ocasião para deixar um apelo, ainda que numa formulação vaga. "A União Europeia tem que permitir que os seus Estados-membros possam proporcionar os bens sociais que os seus cidadãos exigem. E se me permitem fazer um apelo, basta olharmos para o aumento dramático do desemprego juvenil, em particular nos países sob programa, para perceber exactamente o que é que este apelo significa na prática", disse.
O Conselho Económico e Social (CES) critica a ausência de políticas de relançamento da actividade económica que permitam a criação de emprego no Documento de Estratégia Orçamental (DEO) apresentado pelo Governo.
De acordo com o projecto de parecer do CES, "não são apresentadas políticas de relançamento da actividade económica com maior efeito multiplicador no emprego, agravada pelo facto de em todo o período até 2016 as taxas de crescimento do PIB (em termos reais) serem inferiores a 2%" e reconhece que o DEO para o período 2013-2017, ao contrário do anterior, refere a evolução do desemprego, mas alerta para o elevado nível de desemprego resultante dos custos de ajustamento.
"Embora não prevendo variações significativas na taxa de desemprego, o valor actualmente atingido e previsto para 2013 e 2014 (18,2% e 18,5% respectivamente) justificam a reafirmação do alerta do CES no parecer sobre o DEO 12-16, não só sobre o nível de desemprego, como também sobre a repartição dos custos de ajustamento", lê-se no documento.
O CES enfatiza que o DEO "é o único documento oficial de política económica de médio prazo" e apela ao rigor. "Para sermos mais rigorosos, e no caso presente da economia portuguesa, o DEO deverá ainda ser complementado pelo documento Estratégia para o Crescimento, Emprego e Fomento Industrial 2013-2020, recentemente apresentado pelo Governo", recomenda o parecer.
Ainda no que respeita ao DEO, o CES considera positivo "o diagnóstico financeiro que justifica em parte o debate sobre a reforma do Estado", mas "não pode, contudo, deixar de sublinhar as contradições que poderão existir, como já existiram no passado recente, entre política orçamental e política de desenvolvimento, a qual comprometeu e poderá vir a comprometer os objectivos de consolidação orçamental".
Ora bem! Se a austeridade não é imposta pela troika, nem pela Comissão Europeia (que faz parte da troika), só pode ser opção deste governo, por sugestão do ministro das Finanças (Vítor Gaspar), apoiado “tecnicamente”, apenas, nas realidades orçamentais e financeiras e nos métodos constantes dos livros que lê, que dizem, se resume a uma folha de Excel, que por acaso estava viciada, para não falar de outro “erro” denunciado pelo FMI dos “multiplicadores”, que até hoje nem leu, nem lhe deu qualquer importância…
Ou seja, nem Gaspar se confessa responsável por esta tragédia, desenhada por ele, nem mesmo quando reconhece que tudo deu para o torto, com a evidência do desemprego (só o jovem?) e só. E vem agora, sem fazer mea culpa, sussurrar um apelozinho à União Europeia para lhe por à disposição umas moedinhas para disfarçar o problema (criado por ele), que já confessou que durará por mais de 25 anos…
Entretanto, o CES, como no ano anterior, no seu parecer sobre o DEO 2013/16, vem mais uma vez (no ano passado foi contundentemente crítico e acertou) criticar o desenho, chamando mais uma vez a atenção para a ausência de medidas para o crescimento e emprego, que é uma “preocupação” de Gaspar.
E já não bastava a hipocrisia de Vítor Gaspar e a crítica do CES, para se juntar Boaventura Sousa Santos, que vem dizer que Portugal vive sob "brutalismo político" e a democracia está suspensa, por se orientar pela matriz definida pelo ministro das Finanças, que fez transbordar a paciência de seus anteriores apoiantes, que deixaram de acreditar no “deus com pés de barro” e aconselham-no a ir dar uma volta, já que não consegue dar a volta à situação…
"Vítor Gaspar restabeleceu a confiança dos mercados e teve sucesso nas suas políticas de voltar a inserir Portugal nos mercados financeiros mas, neste momento, eu julgo que o país precisa de uma nova etapa neste combate tremendo à crise económica financeira e social em que estamos e que o tempo político de Vítor Gaspar terminou", afirmou Carlos Abreu Amorim.
Já vem tarde, o desmascaramento do “bezerro de ouro”, mas talvez venha a tempo de repor a democracia, o social e o humanismo à frente da miopia financeira, cuja doutrina já imolou pessoas demais…
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