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domingo, 5 de maio de 2013

Quando uma derrocada nos reduz a escombros...

A morte de mais de 400 pessoas numa fábrica de confeções do Bangladesh volta a evidenciar as péssimas condições das fábricas onde os empresários ocidentais confecionam os seus produtos. A União Europeia tem razão em pressionar as autoridades locais, mas deve também estar atenta à situação noutros países.
É um desastre que vai aumentando de escala a cada dia que passa: o colapso do edifício Rana Plaza, na cidade de Savar, no Bangladesh, segundo os relatórios mais recentes, custou já mais de 400 vidas [últimas estimativas apontam para 500 mortos]. A contagem começou há mais de uma semana, com 87 mortos e 1.000 feridos. Outro número sinistro que agora aparece é o das pessoas desaparecidas: 1.000, embora nele se incluam contagens repetidas.
O complexo de 8 andares, 3 dos quais acrescentados ilegalmente, alojava diversas empresas, incluindo uma fábrica de têxteis. Os funcionários tinham alertado o patrão para umas rachas nas paredes, mas ele obrigou-os a apresentarem-se ao trabalho – caso contrário, descontava-lhes parte do magro salário.
Os importadores são responsáveis
O proprietário do edifício foi detido. É justo, porque é ele o principal responsável. Mas isso não basta. Por exemplo, teria sido bastante melhor se as autoridades tivessem tomado medidas preventivas em relação ao estado precário do edifício. E não apenas ali, mas também noutras partes do país, dado que o colapso deste edifício não foi um incidente isolado. Condições de trabalho abomináveis no Bangladesh fazem frequentemente vítimas.
O drama laboral tem um efeito colateral imediato – o preço das roupas em algumas lojas ocidentais, em que T-shirts ou biquínis custam apenas alguns euros. Isto deve fazer o consumidor pensar, mas a responsabilidade não lhe pode ser imputada. Na verdade, ela recai sobre os importadores [como a Mango e a Benetton], que deviam informar-se melhor sobre as condições em que a roupa é fabricada.
A União Europeia é o maior parceiro comercial do Bangladesh. A ameaça da alta-comissária para os Negócios Estrangeiros, [Catherine] Ashton, e o comissário para o Comércio, [Karel] de Gucht, num comunicado divulgado desta semana, pode ajudar. Aí avisavam o Bangladesh de que pode perder as vantagens de que goza como país em desenvolvimento, nomeadamente a isenção de direitos de importação na UE.
País enfrenta possível perda de rendimentos
O problema deste tipo de medida, tal como com um boicote, é que pode fazer com que o Bangladesh perca a sua mais importante fonte de rendimentos. Além disso, o trabalho será depois passado para outro país pobre, sob as mesmas condições, se não piores.
A União Europeia requer, com razão, que o Bangladesh atue em conformidade com os padrões internacionalmente reconhecidos da CSR Corporate Social Responsibility (Responsabilidade Social Corporativa). Mas deve exigi-lo também a outros países. Em termos menos diplomáticos, os trabalhadores irados que ocuparam as ruas do Bangladesh exigem o mesmo. São as autoridades daquele país que têm de pôr fim a estes escândalos.


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