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quarta-feira, 8 de maio de 2013

Qual é o PIIGS(C) que não se revê nesta fotografia?

5 anos de crise, 6.000.000 de desempregados e milhares de despejados das suas casas: apesar da pesada fatura social, os espanhóis aceitam a sua sorte sem se revoltarem contra o Governo e contra a UE. Porque temem perder o pouco que lhes resta, avança um sociólogo.
Estamos no 5.º ano de crise. O desemprego, a pobreza e a exclusão social aumentam; começam a aparecer casos de subnutrição em crianças; há dezenas de milhares de famílias que foram expulsas das suas casas e os salários continuam a ser reduzidos, mas o mesmo não acontece com os preços de bens e serviços. Entretanto, as pessoas perceberam que esta situação não é passageira e pode prolongar-se ainda por mais uns anos. Nestas condições, porque não se verifica uma explosão social? Porque é que o sistema não rebenta? Quanto poderá suportar a sociedade espanhola sem se verificar um conflito?
É difícil pensar numa conjugação de condições mais favoráveis para provocar uma explosão. Em primeiro lugar, os efeitos da crise são terríveis. Como pode uma população sobreviver, com 6.000.000 de desempregados? O pior é que o desemprego vai continuar a aumentar, porque a procura interna caiu a pique. As poupanças e as ajudas com que muitos se têm aguentado até agora estão a esgotar-se. Entre aqueles que têm trabalho, muitos recebem salários de subsistência na economia paralela.
Em segundo lugar, as políticas selvagens de austeridade que a Espanha e a União Europeia estão a aplicar só servem para desmantelar o país e atrasar o momento da recuperação. Em vez de o consumo e o investimento do Estado amortecerem a queda da procura das famílias, o Governo está a realizar cortes em todos os domínios de despesas da administração pública. Desta forma, a crise agrava-se e, além disso, a proteção social das pessoas afetadas pelo desemprego e pela pobreza diminui. Ainda que pareça um pouco brutal, a UE e o Governo consideraram que a saída da crise passa pelo empobrecimento geral da maioria dos espanhóis. É esse o significado de “desvalorização interna”.
Distribuição de sacrifícios terrivelmente injusta
Em terceiro lugar, é cada vez mais comum a perceção de que a distribuição de sacrifícios está a ser terrivelmente injusta. O caso mais flagrante, mas de modo algum único, é o dos despejos. O Estado desembolsa ajudas generosas e endivida-se perigosamente para sanear os bancos, mas não encontra uma solução para a situação de todos aqueles que, com a crise, se viram encurralados pelas hipotecas. A insensibilidade dos poderes públicos e dos dois grandes partidos perante esta situação contribuiu para aumentar o sentimento de indignação de boa parte da sociedade.
Em quarto lugar, neste momento, não há esperança. Apesar da propaganda do Governo sobre uma recuperação iminente, as pessoas perceberam que nos encontramos num processo muito longo de estagnação e que nos esperam anos muito difíceis.
Por último, estamos confrontados com um partido de Governo corrupto e com uma ineficácia espantosa. É incrível que, num momento tão grave como o atual, o primeiro-ministro continue a ser chantageado por causa do financiamento ilegal do partido político que dirige.
Mas, apesar de todas as calamidades que enumerei, as pessoas não se sublevam. O que é que está a acontecer?
Não há alternativas
Por um lado, deixou de haver alternativas. Hoje, não existe uma ideologia que proponha um caminho diferente daquele que estamos a seguir e que sirva para organizar uma resistência efetiva. As pessoas estão dominadas pela raiva, que se traduz pela rejeição e alienação relativamente ao sistema económico e político, mas a raiva não se cristaliza num movimento que implique uma ameaça coletiva.
Por outro lado, apesar do empobrecimento generalizado, a Espanha continua a ter um nível de desenvolvimento considerável. É sabido que as democracias desenvolvidas são extraordinariamente estáveis. Aguentam quase tudo. O padrão de sobrevivência é espantoso: nunca houve uma democracia com um rendimento per capita superior ao da Argentina em 1975 que tivesse caído. Mesmo depois da crise dos últimos anos, a Espanha tem um rendimento per capita muito superior a esse.
Por isso, é de esperar que haja tensões e incidentes violentos, mas não um conflito generalizado. Em parte, porque o Estado é muito poderoso e pode travar os protestos; em parte também, porque há muitas famílias proprietárias de apartamentos, ou que têm poupanças, que não estão dispostas a apostar em aventuras de resultado incerto. O desenvolvimento traz consigo um maior grau de conservadorismo político, a todos os níveis.
O sintoma mais claro de que, por muito irritadas que estejam, as pessoas não querem correr riscos, é a ausência de um debate público em Espanha sobre a utilidade de continuar no euro. Apesar de a união monetária se ter revelado uma ratoeira, quase ninguém quer assumir os custos a curto prazo da saída do euro. Não deixa de ser curioso que as queixas tenham por alvo os partidos e as instituições espanholas, quando boa parte do problema se situa mais acima, nas regras de funcionamento do euro e nas políticas que os países do Norte determinam.
É verdade que o apreço popular pelas instituições europeias também caiu muito, mas as consequências desse facto são poucas: o apoio ao euro continua a ser forte. Esse apoio é decisivo para se perceber por que não se verifica uma explosão.
Ou seja, continuaremos a aguentar com resignação uma situação que, vista seja por que ângulo for, é intolerável.
Será? Não é para nos salvar, a nós, que os governantes andam preocupados com os excessos de penitência…
Os primeiros-ministros, espanhol e italiano, Mariano Rajoy e Enrico Letta, que se reuniram em Madrid a 6 de maio, puseram-se de acordo para "pressionar" a UE a aprovar um plano para o emprego jovem no Conselho Europeu de junho e sublinharam a necessidade de novas políticas para lutar contra o populismo e o sentimento antieuropeu que aumentam em todos os países da UE.
O jornal La Vanguardia comenta que "a frente italo-espanhola continua viva" para manter a pressão sobre os países do Norte e Angela Merkel, a fim de lançar as medidas decididas na cimeira de Roma, em junho de 2012, incluindo a união bancária e orçamental.

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