O sistema de Previdência na Europa está sob pressão. Enquanto a expectativa de vida aumenta, o número de recém-nascidos diminui a cada ano. A crise na zona do euro agrava o problema, que afeta principalmente as mulheres.
Ralf Bosen
Para inúmeras pessoas que sofrem por causa da miséria ou da perseguição política no norte de África, por exemplo, a Europa é a terra dos sonhos. Para essas pessoas pode parecer estranho que num continente com tantos países desenvolvidos se discuta o risco de pobreza na velhice.
Embora a compreensão de pobreza na Europa esteja bem distante das circunstâncias africanas, o alarme já toca há bastante tempo na União Europeia (UE). O sistema está sob pressão não só por causa do envelhecimento da população em consequência da inversão demográfica, mas também por causa da crise na zona do euro.
Em muitos países, há cada vez menos pessoas em idade ativa, ao mesmo tempo que as taxas de desemprego se elevam. Como consequência, encolhem as reformas e pensões, tanto públicas como privadas.
Existência em risco
De acordo com cálculos da Comissão Europeia, o número de pessoas acima dos 60 anos de idade no continente aumenta em cerca de 2.000.000 por ano – o dobro do registado no início da última década. Atualmente, os governos da UE gastam 10% do seu Produto Interno Bruto (PIB) no pagamento das reformas e pensões. E esse número ainda deve aumentar.
Hoje na UE vivem cerca de 120.000.000 de aposentados, o que representa 24% da população. Há alguns anos, era difícil imaginar um aposentado pobre em nações como a Alemanha ou o Reino Unido. Mas o fim da vida profissional ameaça não apenas a integração social das pessoas, mas a sua própria sobrevivência.
"Não existem dados precisos, pois as informações referentes à pobreza dependem do censo da União Europeia", disse Michael Dauderstädt, especialista em política social e económica da Fundação Friedrich Ebert. "Mas devido à estrutura de benefícios oferecidos aos idosos na maioria dos países europeus, podemos presumir que o risco está a crescer."
De acordo com informações atuais, a Espanha, Portugal e naturalmente a Grécia teriam uma alta taxa de pobreza entre os idosos. "Falamos em percentagens entre 20% e 27%", explicou Dauderstädt.
A tendência deve aumentar em consequência dos programas de austeridade implementados pelos países. No caso da Grécia, pode-se afirmar com certeza, diz o especialista. "No início de dezembro estive uma semana no país por causa de um programa de intercâmbio com políticos e representantes de sindicatos gregos. Lá as reformas e pensões foram reduzidas massivamente."
Reino Unido na "lanterna"
De acordo com um estudo da fundação alemã Friedrich Ebert, não só os países europeus em crise estão ameaçados pela pobreza entre os idosos, mas também o Reino Unido. Lá, as reformas e pensões pagas pelo setor público são relativamente baixas, fazendo com que as pessoas invistam em previdência complementar. Porém, essa segurança "privada" é vulnerável à crise financeira e também a erros nas decisões tomadas por gestores de fundos de pensão.
Na comparação com outros países europeus, a Holanda apresenta bom resultado. Na Alemanha, a taxa de pobreza entre as pessoas com mais de 65 anos é de 15% – considerada intermediária: pior do que a Holanda, mas melhor que a Dinamarca e o Reino Unido.
As mulheres são as que mais sofrem com o aumento da taxa de pobreza entre os idosos, ainda que a igualdade entre sexos seja um dos principais princípios da União Europeia. Já em 1957, o princípio legal "mesmo salário para o mesmo trabalho" foi incluído no Tratado de Roma. Mas no dia a dia, a situação é outra para muitas mulheres.
Mesmo com todos os esforços pela igualdade, a diferença salarial entre homens e mulheres ainda é grande. Em média na UE as mulheres recebem, pelo mesmo trabalho, um salário 17% menor. Como consequência, recebem uma reforma mais baixa e correm o risco de ter menos segurança financeira em comparação com os homens.
Redução do tempo profissional entre as mulheres
Além disso, as mulheres deixam a vida ativa mais cedo do que os homens para tomar conta da família. Assumem também uma parte desproporcional do trabalho de cuidar da geração mais velha e, para isso, reduzem o seu tempo num emprego formal. Todos estes fatores influenciam o valor final da reforma.
A Comissão Europeia já reagiu há alguns meses contra este desenvolvimento problemático. Proclamou o ano de 2012 como o "Ano europeu para o envelhecimento ativo e solidariedade entre as gerações". Além disso, a Comissão sugeriu que as pessoas na Europa permanecessem na vida ativa por mais tempo.
Para proteger o sistema de um colapso, as mulheres deveriam trabalhar tanto como os homens. Na opinião do comissário europeu para o Emprego, Assuntos Sociais e Inclusão, Laszlo Andor, cada país-membro deveria ajustar a idade de reforma à expectativa de vida da sua população.
Europeus querem trabalhar por mais tempo
"É muito importante pensar com antecedência na reforma, encorajar a ocupação e cuidar para que mais pessoas possam pagar a sua contribuição, para que assim os mais velhos tenham melhores condições de vida", diz Andor.
Neste quesito, a Suécia é um bom exemplo. Há mais de 10 anos os escandinavos ajustam a idade para entrar na reforma à expectativa de vida. Além disso, os suecos têm uma das maiores taxas de ocupação de trabalhadores com idade entre 55 e 64 anos.
As sugestões de Andor encontram amparo em grande parte da população europeia. De acordo com a pesquisa Eurobarometer, 61% dos europeus disseram querer continuar a trabalhar mesmo em idade de se aposentar – desde que as condições sejam favoráveis.
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