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segunda-feira, 16 de abril de 2012

Alguns de(os) nós com que se tecem as redes sociais?

O tempo que levo de adesão ao facebook, nem tão curto que me esconda o óbvio, nem tão longo que me cegue para as evidências, revela-me um continente dividido entre fascínio e desamparo. O processo de virtualização, sofrido pelos seus habitantes, obriga-os à constante despedida daquilo que os personaliza, e ao abraço de um futuro de realização problemática. Pelo caminho ficam os restos de um quotidiano de mágoas, os indícios de um sonho nunca atingido, e a comovente aposta na persistência da vida.
Em termos muito esquemáticos poderemos repartir esta espécie de pátria alternativa em duas grandes regiões, a do parque infantil, e a do perpétuo Carnaval. Agitam-se na primeira os mais transparentes, mas nem sempre os mais jovens, agarrados à sua partilha de brinquedos, e implicados em bulhas pela posse dos mesmos, beijando-se eletronicamente, ou envolvendo-se em cibernéticas perrices, por entre exclamativas e interjeições, "que lindo!", "que nojo!", "que fofo!", "ahhhhhhh!", "ohhhhhhh!", "ui!" e quejandos. Na segunda divertem-se a esquecer-se de si os afiveladores de máscaras de todos os tipos, compondo uma galeria de personagens que inclui o ignorante rantigno e metido a sábio, e o experiente armado em naïf, o velho que pretende passar por moço, e o novo que se esforça por parecer maduro, e até o feio que por momentos se convence de que é irresistível. Entre ambos os territórios ciranda um caixeiro-viajante, intentando determinar a extensão da sua geografia, e não tanto a que lhe permita constituir-se em gente como a que lhe confira o direito ao rosto que tem.
Situado a sudeste, o enclave do Chat, formado por campos de minas que alternam com ridentes paisagens, sustenta uma fauna humana que resiste a qualquer descrição. Assombram-na assíduas, mas solitaríssimas, presenças que lembram os mendigos eternamente postados a uma esquina, e que não aspiram à obtenção da esmola, mas à pura e simples satisfação do seu vício de pedir. Para além destas não existe categoria que aí falte, do desesperado ao sedutor, do carente ao trapaceiro, do predador ao alpinista, e ao que, consistindo em tudo isto, afinal se não articula em coisa alguma. Espaço de maquiavélicas estratégias que assentam no estar, ou no não estar, online em função de emoções transitórias, atravessa-o o salteador de quintas, o caçador furtivo, e o fantasma da ópera, sem que lhes assista a força moral para desistir de o frequentar.
Tudo considerado, afirmavam-se bem mais eficazes, e bem mais bonitos, os improvisados telefones de uma infância que, não recebendo de presente o inteiro stock do supermercado, se via constrangida ao fabrico dos seus gadgets de estimação. Furavam-se com um prego a tampa de uma caixa de graxa para sapatos, e a respetiva base, de modo a conseguir-se o bucal e o auscultador. Entre este e aquele, sentindo o empolgamento dos criadores de mundos, esticava-se um fio de barbante, previamente ensebado. E conversava-se de um canto para o outro da sala, conversava-se e conversava-se, verdadeiramente com o coração.
Mário Cláudio

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