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terça-feira, 17 de abril de 2012

“Diga lá fora o que não convém dizer cá dentro!”

Contam-se pelo menos duas certezas e uma grandessíssima provocação na entrevista de Pedro Passos Coelho à revista brasileira ‘Veja’.
A primeira certeza está no ‘mea culpa' do primeiro-ministro sobre os erros cometidos pelo Governo e que levaram o país ao tapete. Tudo o que os portugueses sofrem hoje, lamenta, "são o resultado de más decisões tomadas por nós mesmos. Usámos mal o dinheiro, seleccionámos mal os projectos de obras públicas, aumentámos os impostos, não abrimos a economia". Os portugueses sabem que tudo isto é verdade e, por isso mesmo, dificilmente alguém o irá desmentir. Mesmo sendo um ‘mea culpa' meio fingido, a bater no peito enquanto se aponta o dedo aos executivos anteriores.
Este assumir de culpa continua - e serve também para desresponsabilizar outras figuras internacionais pela actual crise no país. É a outra grande certeza de Passos Coelho: "Os líderes europeus não agravaram os nossos problemas, pelo contrário, ajudaram-nos", garante. É verdade que não foi a chanceler alemã, o líder do BCE ou o presidente da Comissão Europeia que calcularam quantos quilómetros de estrada se deveriam alcatroar em anos pré-eleitorais, que escolheram os candeeiros de Siza Vieira para as escolas nacionais, que assinaram contratos milionários com privados para gerir infraestruturas públicas, que nacionalizaram bancos minados por actos danosos dos seus próprios gestores, que permitiram que os buracos financeiros das empresas públicas se continuassem a escavar.
Embora a maioria das responsabilidades sejam internas, também é verdade que muitas entidades internacionais ajudaram à festa. Houve um BCE que apostou em teorias monetaristas e numa Alemanha obcecada pela inflação, em contra-ciclo com as restantes economias da periferia. Houve um euro que se revelou uma moeda disfuncional e geradora de desequilíbrios entre países. Houve ainda uma banca carregada de activos tóxicos e que, para os limpar, apostou na especulação com as dívidas soberanas, elevando os juros para níveis astronómicos. Houve tudo isto (também) a empurrar Portugal para o nível mais baixo da sua soberania financeira e a obrigá-lo a estender a mão a ajuda internacional. Podem não ter sido responsáveis pela crise, mas foram seguramente cúmplices. Por isso, Passos Coelho não pode ignorar essa influência, mesmo que o queira fazer por não querer morder na mão que agora nos dá que comer. E numa altura em que não sabe se não terá de pedir um novo resgate.
No meio de muitas justificações e algumas incertezas, Passos Coelho assumiu ainda que quer "tirar o Estado da economia, acabar com o Estado patrão, dono das empresas" - até porque os portugueses já perceberam que, como gestor, a coisa não tem corrido bem. Já sobre o programa de privatizações e a reacção dos portugueses, o primeiro-ministro aplaude: "Não tem havido resistência". Se não é uma provocação, parece.
Com os portugueses totalmente curvados pela austeridade e o orgulho ferido pela dependência internacional, que outra atitude poderia esperar Passos Coelho? Durante décadas, os portugueses acreditaram nos seus líderes e deixaram que os seus erros se perpetuassem até chegar à situação limite que hoje se vive. Agora que são forçados a participar na resolução desses problemas (leia-se, a fazer sacrifícios), também não acreditam que contrariar sirva de alguma coisa. Mas Passos Coelho arrisca-se a que, um dia destes, os portugueses recordem as palavras de Victor Hugo, quando dizia que "entre um governo que faz o mal e o povo que o consente, há certa cumplicidade vergonhosa". Porque um dia, os portugueses perdem a vergonha. 
Helena Cristina Coelho, Subdirectora do Económico
Não é costume meter o bedelho nas opiniões que seleciono de outros, mas no caso tenho que dizer que discordo da interpretação que é dada ao ‘mea culpa’, porque é linear que o que o PM quis dizer foi exatamente o contrário, ou seja, que a culpa não é dele e é anterior ao seu ministério messiânico e de lá para cá, ‘tudo numa boa’, ou para melhor…
Como não tive acesso à entrevista e não sendo prova do que disse antes, as frases mais relevante na ótica do jornalista, são disso prova, para além das contradições notórias entre umas e outras e algumas inverdades buriladas por “arrependimento”…
“É natural que a economia ainda vá contrair um pouco mais ao longo do ano”.
“Não temos razão para pensar que a contração da economia seja superior a 3,3%”.
“Não temos que estar a acrescentar pessimismo apenas por prudência”.
“Não vamos procurar nas medidas de austeridade a causa dos nossos males. As medidas só estão a ser aplicadas porque nos endividamos”.
“A austeridade e as medidas são importantes para que o país possa crescer, mas não são suficientes. É preciso medidas estruturais”.
“O desemprego é a maior chaga social que temos em Portugal”.
“Fasquia do desemprego jovem ultrapassa os 35%”.
“Os jovens devem procurar as melhores oportunidades”.
“Há muitos jovens portugueses a procurar oportunidades noutros mercados e eu não os posso censurar por isso”.
“Não temos uma bola de cristal. Ninguém pode jurar estas coisas. Mas não temos nenhum elemento que nos leve a esperar uma recessão superior a 3,3%”.
“Economia vai crescer a partir do último trimestre deste ano e de forma mais pronunciada a partir de 2013”.
“Não estaremos no próximo ano em recessão. Haverá uma ligeira retoma da economia, que será mais pronunciada a partir de 2014”.
“As medidas de austeridade são as que estão no Orçamento do Estado. Não haverá outro Orçamento”.
“Não temos nesta altura de encarar mais medidas adicionais”.
“Nunca posso jurar que não sejam precisas mais medidas”.
“Orçamento retificativo não inclui mais medidas de austeridade”.
“Há riscos. A situação de emergência nacional vai durar praticamente este ano”.
“Temos que trabalhar todos os dias para que as metas orçamentais sejam cumpridas”.
“Neste momento não existe risco de derrapagem das contas públicas”.
“Portugal vai cumprir os seus objetivos”.
“Eu não me rendo facilmente a inevitabilidades”.
“Não vendo ilusões aos portugueses. Só me poupo a dar más notícias que podem ser evitáveis”.
“Os investidores acham que a dívida portuguesa é uma boa aplicação, o que significa que a nossa política económica é creditada”.
“A cada 3 meses é feito um novo memorando, vamos fazendo ajustamentos”.
“Se alguma coisa exterior a Portugal nos impedir de regressar aos mercados, é tranquilizador saber que o FMI e a UE estão dispostos a ajudar”.
“Portugal não vai solicitar mais tempo para o programa de ajuda, porque isso seria dizer que vamos baixar os braços”.
“Os sacrifícios são para todos”.
“As exceções aos cortes foram decididas pelo Governo anterior”.
“Estado vai pagar menos 20% aos gestores públicos”
“Há negociações para cortar nas rendas na energia. Já houve duas rendas negociais e o processo será concluído nas próximas semanas”.
“Temos que garantir que os contribuintes serão menos penalizados”.
“Nós estamos obrigados a transpor a regra de ouro para o plano nacional e era importante que sinalizássemos para o exterior que vamos fazer isso de uma forma duradoura”.
“Penso que o PS precisa de amadurecer melhor a questão da regra de ouro”.
“Eu achava que devia ser inscrito na Constituição, mas já dei um passo de aproximação ao PS”.
“Não vi crispação no congresso em relação ao PS e ao Governo anterior”.
“Não ponho uma rolha na boca das bases do PSD”.
“Espero que o PS saiba distinguir o que é fazer oposição, das matérias mais de Estado e que não tenha de cair numa guerra, numa espécie de passa-teimas, de atira bolas, entre Governo e PS”.

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