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domingo, 16 de dezembro de 2012

A explicação mais simples de um fenómeno é a melhor

Guilherme de Occam
Por vezes as coisas simples são contra intuitivas e precisam de esforço para fazerem sentido, como na aritmética, onde menos com menos dá mais. No mundo real dá sempre muito menos.
Outras há que além de contra intuitivas soam contra natura, como o brutal aumento de impostos resultar numa brutal receita fiscal. Ora, se fosse tão simples, bastava termos impostos a 100% durante meia dúzia de meses e a coisa resolvia-se. Prático? Não, simplesmente imbecil, desumano e francamente inútil.
Qualquer economista já deve ter ouvido falar na curva de Laffer, que retrata a elasticidade da receita taxável em forma de parábola (matemática) e que diz que numa situação de impostos a 0% não há receita, sendo que o mesmo se passa numa situação de impostos a 100%. Como em tudo, pelo meio estará a virtude, onde existirá um segmento de curva em que à indiferença dos cidadãos em relação à carga tributária corresponde um óptimo de colecta por parte do Estado, partindo-se do pressuposto que o valor tributado trás benefícios aos cidadãos, num estado mais ou menos keynesiano, o que limita a aversão que os indivíduos têm a entregar parte do rendimento a terceiros sem uma contrapartida imediata.
O problema é quando o estado usa a parábola (política) da multiplicação das receitas fiscais enquanto impõe um stress brutal ao sistema económico, esmagando a sua resiliência e aumentando a entropia até ao ponto da desorganização e perda de valor ser demasiado alta, acaba por levar à falência muitos pontos do sistema, a começar pelas PME, trabalhadores e contribuintes e por efeito cascata, os seus dependentes, como desempregados, crianças e idosos.
Até que ponto é que ao acelerar na curva (de Laffer) fará um Estado derrapar (nas receitas) e despistar (a economia)? O que é aceitável, manter uma máquina complexa e geradora de despesa sem retorno social, ambiental ou económico, que privilegia a intocabilidade de contratos blindados que geram despesas brutais e pouco claras mas vê como aceitável simplificação talhar nos direitos dos trabalhadores e pensionistas, na protecção dos jovens e idosos, no acesso à saúde e educação, no desenvolvimento científico e tecnológico, na conservação dos recursos naturais e até na produção de energias alternativas endógenas e menos poluentes?
Por vezes lembro-me de Occam, filósofo do século XIV e criador do princípio que afirma que "se em tudo o mais forem idênticas as várias explicações de um fenómeno, a mais simples é a melhor", regra também conhecida como ‘a navalha de Occam’.
Aqui a explicação mais simples é brutal: o estado que aumenta os impostos para além da capacidade da economia em gerar valores tributáveis e retira utilidade ao rendimento dos cidadãos ao ponto de gerar miséria e desigualdade e ao mesmo tempo não apresenta actos de brutal diminuição da despesa e do tratamento preferencial de uma elite económica brutalmente habituada a favores não sabe o que está a fazer. Ou então sabe e isto só pode ser um terrível pesadelo onde os mais básicos princípios da racionalidade e parcimónia são destruídos à navalhada.
Nuno Gaspar de Oliveira, Professor e Investigador do ISG Business & Economics School

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