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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

“O que o berço dá a tumba o leva”…

Enquanto na Alemanha se discute a proibição do partido de direita NPD, a criação de uma sigla de perfil semelhante, batizada de "A Direita", recebe pouca atenção da opinião pública.
Wulf Wilde
Thomas Wulff e Christian Worch
A analogia ao nome do partido alemão "A Esquerda" é clara e fruto de uma escolha consciente. Da mesma forma, o logotipo do recém-fundado "A Direita" é uma imitação daquele usado pelos esquerdistas, com a diferença que a seta vermelha indica, obviamente, a direita.
Criado em maio deste ano na Alemanha, o partido extremista “A Direita” respeita "do ponto de vista de conteúdo e sem ressalvas" a Constituição do país, segundo o seu próprio programa. As suas metas são supostamente "a democracia e uma maior participação do cidadão".
Logo no começo do texto do programa do partido fica rapidamente claro, porém, que a participação democrática não está aberta a todos, pois ali já constam menções à "preservação da identidade alemã" como um dos "pontos cruciais" da nova facção. Entre outras ideias, defende-se que "a tolerância a estrangeiros que vivem permanentemente na Alemanha" deveria ser cessada.
Para Bernd Wagner, criminologista e especialista em extremismo de direita do Centro de Cultura Democrática, sediado em Berlim, o programa do novo partido é uma "reunião de diversos princípios de extrema direita, muito próximo do União do Povo Alemão (DVU, na sigla original)".
E não é por acaso. De facto, “A Direita” vê-se como sucessora da DVU, partido que se fundiu em 2011 com o Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD), ambos de extrema direita. Entre os membros-fundadores da facção “A Direita” estão, além de Christian Woch, seu atual e primeiro presidente, diversos antigos membros do primeiro escalão da extinta DVU.
Convergência da extrema direita
O partido recém-criado praticamente apropriou-se do programa da antiga DVU. "Resumindo, está tudo num pacote só: desde a militância extremista até à crítica moderada à democracia. É preciso esperar para ver como isso evolui", diz Wagner.
No seu site, “A Direita” descreve-se como "menos radical que o NPD", mas "mais radical que o REP (Partido Republicano)" e que o movimento Pro-Köln, surgido em Colónia – todos de extrema direita. Posteriormente, consta ainda do site, que não há muito interesse de cooperação com esses outros partidos "a curto prazo". Ou seja, uma declaração que deixa claro que a nova facção quer ser algo além de mais uma alternativa na ala direita do cenário político do país. A legenda vê-se como ponto de convergência para todos aqueles que se situam à direita das conservadoras União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU). E tendo também em vista a possível proibição do NPD, de extrema direita.
"Essa é com certeza uma avaliação de Christian Worch, defensor permanente do neonazismo, que vê no novo partido uma chance de se fortalecer", opina Hajo Funke, cientista político e especialista em extremismo de direita.
Worch: líder da cena neonazista
Christian Worch, fundador do “A Direita”, tem 56 anos e é um dos líderes militantes da cena neonazi na Alemanha. Desde 1970 o auxiliar de advocacia esteve envolvido na fundação de diversas organizações proibidas de extrema direita – ao lado, entre outros, de Michael Kühnen, um dos mais influentes personagens da cena neonazi no país.
Depois da morte de Kühnen, em 1991, Worch tornou-se a cabeça do movimento, sendo considerado o pai das chamadas "Camaradagens Livres" – mecanismo por meio do qual os neonazis tentam escapar das sanções do Estado desde os anos 1990.
Ameaça de perigo
A jornalista Andrea Röpke, que há anos acompanha de perto assuntos relacionados com a extrema direita na Alemanha, acha impossível que “A Direita” se transforme de facto em ponto de convergência para o alto escalão do NPD. "Worch entrou em atrito com a presidência do NPD e é uma figura polémica por causa de seu passado", diz Röpke à DW.
Worch rejeita a ideia de que o seu recém-criado partido seja considerado anticonstitucional. Segundo ele, em função da associação com o nome da facção “A Esquerda”, é legítimo argumentar perante o cidadão comum que exista também “A Direita”.
Já Wagner não vê só aí um perigo. "Acredito que este partido possa de facto desenvolver-se, pois os envolvidos até agora são realmente pessoas aptas a participar da vida política. Isso significa que eles poderão organizar-se para levar isso adiante", alerta o criminologista.

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