A imagem dos “homens de negro” que controlam as finanças do país é utilizada num jogo e para um anúncio publicitário. Mas, por trás deste humor, reside o medo de ver a situação económica e social degradar-se ainda mais em 2013.
E há um anúncio de um novo cartão de crédito que permite fracionar em 3 meses o pagamento das compras de Natal, que foi reproduzido nos painéis dos centros comerciais e que reza ironicamente: "Ai se a troika sabe…" Quer dizer: que não saibam que, apesar de tudo, gastamos o pouco dinheiro que nos resta (ou que nos emprestam).
Quebra de 10% do poder de compra
Em Portugal, são constantes as piadas e brincadeiras, para exorcizar a asfixia económica e vital. Porque vão ser umas férias duras. Os funcionários não recebem subsídio de Natal e, além disso, em janeiro, começam a ser aplicadas as novas normas e cortes do orçamento de 2013, o mais polémico e restritivo da história recente do país, que prevê um aumento brutal de impostos, equivalente, em média, à retirada de um mês de salário.
A Confederação do Comércio e Serviços de Portugal calcula que o comércio português irá cair entre 10% e 15% em relação ao ano passado, que já foi mau. Alguns comerciantes garantem, de cenho franzido, que vendem cerca de 30% menos e alguns taxistas juram que ganham menos cerca 40%, apesar de passarem “todo o santo dia” na rua.
Nas revistas e nos programas de televisão abundam as informações sobre promoções e lojas de artigos em 2ª mão, sobre maneiras de poupar e sobre feiras disto e daquilo. Surgem lojas de móveis usados que reciclam quase tudo, de roupa não muito usada e de apetrechos que se revendem até ao infinito.
A economia regrediu cerca de 3% este ano, o consumo em geral quase 2% e o desemprego disparou até aos 16%, uma taxa nunca vista em Portugal. Os sindicatos calculam que, nos últimos anos, os trabalhadores perderam perto de 10% do poder de compra. "E em 2013 vai ser pior", segundo o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos.
"Já não estamos à beira do abismo"
Assim, os portugueses perguntam-se, acima de tudo, quando vai terminar esta corrida para o nada. O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, considera que tudo começará a mudar no 2º semestre de 2013. O problema é que, precisamente há um ano, pensava o mesmo de 2012, um ano que só serviu para aprofundar o buraco.
Para já, tudo indica que 2013 será pior, muito pior. Além do aumento de impostos, da extorsão dos pagamentos extra e das inúmeras taxas que o português médio tem de pagar agora, o Governo já anunciou que, em fevereiro, apresentará à troika um plano estrutural que prevê uma poupança de €4 mil milhões e que se baseará sobretudo em reduzir a dimensão das estruturas do Estado, saúde e educação incluídas.
O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, já avisou, numa polémica entrevista concedida há algumas semanas, que estava a ser estudada uma maneira de os cidadãos pagarem ou ajudarem a financiar o ensino secundário dos filhos.
Seja como for, nem tudo é tão negativo. O mesmo Passos Coelho, que, em geral, aparece na televisão para dar as más notícias à população, deu ontem, numa visita oficial à Turquia, no momento de falar de macroeconomia, uma notícia que poderá ser interpretada como boa: "Pela primeira vez desde há algum tempo, já não estamos à beira do abismo”.
Privatizações - Um país à venda
Portugal acaba o ano com uma série de privatizações, que incluem a TAP (transportadora aérea portuguesa), a televisão pública (RTP) e a empresa que gere os aeroportos (ANA). O Governo de Lisboa espera ainda finalizar a privatização dos Estaleiros de Viana do Castelo. A escolha será entre as propostas apresentadas pelo grupo brasileiro Rio Nave e pelos russos da RSI Trading.
A corrida entre 4 consórcios ansiosos para adquirirem a Aeroportos de Portugal (ANA) também é muito controversa. Os "Franceses da Vinci dão 3 mil milhões pela ANA", revelou o Jornal de Negócios.
Quanto à televisão pública, o Expresso explica que “o Governo tem 3 modelos para a RTP” – gestão através de concessão a privados, privatização de 49% do capital com um compromisso absoluto de gestão em cooperação com o operador privado ou reestruturação. O Governo parece preferir a privatização, avança o semanário, que acrescenta que o assunto ficará resolvido até ao final do ano. Até agora, o único interessado é o grupo angolano Newshold, dono do semanário português Sol e de parte do grupo de comunicação social Cofina.
Em dezembro de 2011, o Governo português vendeu a sua posição maioritária (21,3%) na empresa nacional de eletricidade (EDP) à empresa pública chinesa Three Gorges, por 2,7 mil milhões de euros.
Sem comentários:
Enviar um comentário