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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A extinção de uma classe social globaliza-se…

O segmento que formava 65% da população do país em 1997 diminuiu a participação para 58%, segundo estudo da Universidade de Bremen e do Instituto Alemão de Pesquisa Económica. Especialistas exigem uma ação do governo.
Martin Koch
Na Alemanha, 58% da população pertence à classe média, enquanto em 1997 essa cota ainda era de 65%. Estas são as conclusões de um estudo recente da Universidade de Bremen e do Instituto Alemão de Pesquisa Económica (DIW), realizado por encomenda da Fundação Bertelsmann. Uma dificuldade encontrada no estudo foi a complexidade deste segmento da sociedade, formado tanto por arquitetos, especialistas em informática e pessoal administrativo, como por artistas, médicos e professores. Não há uma definição clara do termo.
Um ponto de referência é o rendimento médio, que divide a população em dois grupos de tamanhos iguais, um com rendimento maior e outro, com rendimento menor. O estudo atual inclui na classe média todos os que ganham entre 70% e 150% do rendimento médio. Uma família alemã da classe média, de 4 pessoas, ganharia então entre 2.400 e 5.000 euros.
Ascensão quase impossível
"O estudo também levou em conta a educação e a carreira como critérios mais restritivos", explica Olaf Groh-Samberg, professor de sociologia da Universidade de Bremen e um dos autores do estudo. "A distribuição do rendimento está a polarizar-se na Alemanha, e há menos oportunidades de ascensão das classes mais baixas para a classe média", conclui, classificando este fenómeno como "dramático", devido ao seu poder de influir negativamente sobre a vida social.
"A solidariedade desaparece quando a classe média alta se orienta para a classe alta e a classe média baixa começa a temer a queda de status, enquanto os das classes mais pobres temem não conseguir ascender à classe média", observa. "Além disso, a parcela da classe média na sociedade caiu de 65% há 15 anos para os atuais 58%", ressalta o cientista social.
O professor de sociologia Stefan Hradil, da Universidade de Mainz, tem opinião parecida, mas adverte do alarmismo. "Muitos integrantes da classe média também subiram", pondera. "Partes da classe média têm excelentes hipóteses de ascender a um status superior. Se a classe média encolheu, isso não é apenas uma má notícia, mas, em parte, também uma boa notícia", avalia.
Classe média garante estabilidade
O filósofo grego Aristóteles já dizia que uma classe média grande e bem estabelecida tem um efeito positivo sobre o conjunto da sociedade. Afirmava ele que a classe média é mais propensa a ouvir a razão, não explora os pobres e não inveja a prosperidade dos ricos.
"Sempre que uma grande parte da classe média começa a ter dificuldades, surge uma época politicamente instável. É quando essa parte ameaçada da classe média tende a ter uma conduta eleitoral relativamente radical", acrescenta Stefan Hradil, citando como exemplo o pujadismo na França da década de 1950, movimento de protesto de pequenos artesãos e comerciantes que mais tarde se tornou o modelo para a Frente Nacional, de extrema direita. O sociólogo também destaca que o enfraquecimento da classe média pela crise económica do final da década de 1920 também exerceu um papel na ascensão do nazismo.
Hradil afirma que o Estado deve tentar impedir o encolhimento da classe média. "Neste momento, são mais importantes do que nunca estratégias de profissionalização e exemplos positivos, ou, no caso das crianças, a criação de um sistema de ensino mais permeável e motivador, especialmente para filhos de famílias de classe baixa e de imigrantes."
Exigências à classe política
Mais de metade dos alemães continua a pertencer à classe média, segundo o estudo. Isto faz com que a Alemanha continue numa boa situação, na comparação internacional. Em muitos outros países, a relação é muito pior, coisa que, segundo Hradil, pode ser percebida através de critérios objetivamente mensuráveis. "Quanto maior a desigualdade social, mais tem que lidar com criminalidade e outros problemas."
O sociólogo Olaf Groh-Samberg também acha que o governo tem que agir, devido à forte proliferação de famílias com baixo rendimento, o que torna a ascensão à classe média algo quase impossível. O especialista acredita que deve haver mudanças nas políticas para o mercado de trabalho com intuito de facilitar o acesso à classe média. "Além disso, os políticos devem pensar em formas de impedir que diminua a solidariedade das classes sociais mais altas", aconselha, pois Aristóteles já dizia “ser importante encontrar em tudo o justo meio entre os extremos”.

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