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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

"Portugal e o Holocausto - Aprender com o Passado, Ensinar para o Futuro"

Judeus na rampa de Auschwitz-Birkenau
O risco de o Holocausto voltar a acontecer não está completamente afastado, o alerta é do embaixador dos EUA em Portugal, Allan Katz, no dia em que arranca em Lisboa uma conferência sobre "Portugal e o Holocausto - Aprender com o Passado, Ensinar para o Futuro", uma organização conjunta da embaixada, Fundação Luso - Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e Fundação Calouste Gulbenkian.
"Porque é que haveremos de pensar que não há risco de acontecer outra vez", alerta o embaixador dos EUA em Portugal, Allan Katz. "Também ninguém pensava que fosse possível acontecer na Alemanha e aconteceu", recorda. "No contexto de crise em que vivemos há fenómenos perigosíssimos que podem levar a situações muito complexas, como os nacionalismos exacerbados e regimes autoritários", para além da ascensão de partidos neonazis em diversos países, acrescenta.
"Estas situações têm que ser faladas para evitar que voltem a acontecer", sublinha o mais alto representante dos EUA em Portugal. Talvez por isso um dos motes da conferência é a frase de Barak Obama, presidente norte-americano: "Nunca mais! Nunca mais é um desafio às nações. É uma verdade amarga - muitas vezes o mundo falhou ao não evitar a morte de inocentes numa escala massiva".
O objectivo da conferência é “contribuir para o desenvolvimento do conhecimento académica e promover a compreensão do Holocausto e do papel de Portugal durante esse período da história, bem como apoiar o ensino do Holocausto em Portugal", explica-se na apresentação do programa.
Ehud Gol, embaixador de Israel em Lisboa, considerou que "o ensino do Holocausto devia ser do interesse de Portugal" e referiu um acordo com Israel para formação de professores portugueses pelo Yad Vashem.
Maria de Lurdes Rodrigues, presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, defendeu que o Holocausto não deve ser transformado em matéria curricular, mas tratado nas escolas portuguesas no âmbito do desenvolvimento da cidadania ou em áreas de projetos.
Marta Torres, presidente da Associação dos Professores de História, reconheceu tratar-se de um tema difícil de ensinar, por isso defende a necessidade de criação de "situações de empatia", através de vários materiais de estudo ou de viagens aos locais relacionados com o Holocausto, como este grupo de profissionais já tem feito.
Isabel Capeloa Gil, investigadora da Universidade Católica, referiu que no ensino secundário, o Holocausto "nem faz parte dos currículos, é referenciado no programa de História o antissemitismo do regime nazi" e no ensino superior, o "Holocausto está praticamente acantonado nos cursos de História, nos seminários de História Contemporânea, o que pode ter a ver com a profundidade que o tema exige", embora também seja analisado nos Estudos Alemães. "Hoje, os alunos [universitários] sabem o que é, mas quando confrontados com imagens brutais dos campos [de extermínio], é a primeira vez que as veem e ficam chocados", acrescentou.
Helmut Elfenkamper, embaixador alemão em Portugal, declarou que o Holocausto "continua muito presente" na Alemanha, adiantando que "a memória não esmoreceu" sobre o que classificou de "crime único contra a humanidade" que constituiu uma marca na identidade alemã e considerou existir atualmente na sociedade alemã um "sólido consenso" de que o Holocausto "é definidor de como os alemães se veem e veem o mundo".
Bernhard Wrabetz, embaixador austríaco em Portugal, disse que o modo como a Áustria se foi relacionando com o seu passado foi um "processo longo e difícil".
Tal como na vizinha Alemanha, o ensino do Holocausto ao nível dos programas escolares e da formação de professores emergiu nos anos 1990 e, nos últimos anos, tem aumentado a investigação sobre aquele período da história da Áustria, adiantou. A propósito, referiu que uma investigadora austríaca inicia no próximo ano um trabalho sobre os refugiados austríacos que terão fugido para Portugal durante o Holocausto.
Manuel Loff, historiador da Universidade do Porto, disse que o discurso antirracista foi fabricado pelo Estado Novo e que Salazar foi cúmplice involuntário do genocídio. "Salazar não actuava na ignorância das questões do Holocausto", disse, para explicar que, no limite, as indicações de Lisboa durante a guerra foram a de "proteger" judeus nos locais onde se encontravam.
Avraham Milgram, investigador do Yad Vashem em Jerusalém, disse que o Estado Novo evitou ajudar judeus portugueses na Holanda e na Grécia. “O caso mais conhecido foi quando Salazar não reconheceu os 4.000 judeus de origem portuguesa, na Holanda, mas sem vínculo formal a Portugal. Este episódio faz de Salazar um cúmplice involuntário”, disse o investigador israelita, referindo-se também aos casos sobre os judeus portugueses da origem turca ou grega.
Segundo Avrahm Milgram, criou-se uma memória positiva mas, contudo, a memória em Portugal é parcial e não compreende todos os aspetos e é preciso compreender certos aspetos do passado para se compreender toda a História.
Jorge Sampaio disse que a herança traumática da II Guerra Mundial e a catástrofe do Holocausto "marcaram o século XX" e por isso, afirmou, é preciso fazer tudo para que a "as vítimas não fiquem em silêncio". Recordou também que a "Europa política" foi construída nos escombros "da tragédia".
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