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sábado, 22 de setembro de 2012

“Os Europeus” - 1

O historiador Matthias von Hellfeld regista, desde a Antiguidade greco-romana até à Europa unida, 25 momentos decisivos para o que define como "o difícil caminho para a liberdade e a democracia", que publicaremos diariamente.
Apesar de muitos intelectuais (historiadores, sociólogos e filósofos) e políticos considerarem que não há um conceito sinóptico de “Europeu” e de considerar-mos que a série registará apenas momentos da história da Europa, deixamos à leitura de cada um as conclusões que quiserem retirar.
Na batalha naval de Salamina, em outubro de 480 a.C., a frota grega venceu a armada persa. A vitória sobre os persas criou as bases para o florescimento da Grécia e da Europa.
Matthias von Hellfeld
Aguarela de Peter Connolly ilustra a batalha de Salamina
No século 5º a.C. o estratega militar ateniense Temístocles (cerca 525 a.C–459 a.C.) era a figura política dominante. Já em 490 a.C., dera início à construção de uma muralha em torno de Atenas e do porto de Pireus. Ao mesmo tempo, ampliou a esquadra de guerra, armando-se para revidar ataques persas.
Há anos que os reis persas pretendiam ganhar terreno na Europa. Em 490 a.C., a primeira tentativa fracassou na cidade de Maratona. Embora superiores, as tropas de invasão persas foram vencidas pela bem preparada infantaria grega, retirando-se em seguida.
Avanço persa
Mas os persas não se deram por vencidos e armaram a maior força de combate da Antiguidade. Para um transporte mais rápido das tropas, o rei Xerxes 1° (519 a.C.–465 a.C.) construiu um canal através da península de Atos, uma ponte sobre o Helesponto (hoje, Estreito de Dardanelos) e outra sobre o rio Estrímon.
Tamanhos esforços por parte de Xerxes I não passaram despercebidos aos gregos. Os investimentos e a dimensão do contingente persa deixavam claro que o rei tinha em mente uma guerra de conquista, primeiro contra a Grécia e então contra o Sudeste Europeu – para qualquer outro objetivo, o tamanho do seu Exército estaria superdimensionado.
Ao consultar o oráculo de Delfos, Temístocles escutara a profecia: "Protejam-se com uma muralha de madeira", ou seja, os gregos deveriam procurar o combate naval e proteger-se atrás do muro de madeira que representava a sua esquadra. Após alguma resistência na Eclésia, a assembleia pública da democracia ateniense, foi aprovada a construção de novos navios de guerra.
Um pouco mais tarde, em 480 a.C, ficou demonstrado quão certo Temístocles estava do seu prognóstico de que a tropa persa seria invencível num campo de batalha. No desfiladeiro das Termópilas, um contingente grego não pôde conter o avanço persa por mais do que alguns dias, sendo então forçado a bater em retirada.
Xerxes I marchou sobre Atenas, depredando-a sem encontrar resistência, pois os atenienses aptos ao combate tinham-se retirado para a frota de guerra. A visão da cidade devastada deu aos gregos a certeza de que essa era a sua última chance: uma derrota no combate naval significaria o fim da Grécia livre.
Para combater os persas, a frota grega posicionou-se no estreito braço de mar a oeste da ilha de Salamina. Após 12 horas de batalha, os gregos saíram vencedores. Provavelmente, o facto de os navios gregos serem menores e mais facilmente manobráveis foi decisivo para derrotar a esquadra de Xerxes I. Com a vitória grega foi sustida a ameaça de escravidão na Pérsia, como também o avanço persa na Europa.
Europa contra Ásia
A resistência grega contra os persas representou um marco da história europeia. No caso de uma derrota, não haveria mais barreiras para as tropas persas. Elas teriam ampliado o império persa para a Europa continental.
Nesse caso, tanto a cultura grega como o império romano teriam sido soterrados. A partir da Antiguidade greco-romana nasceu a Europa moderna. Caso os persas tivessem vencido a Batalha de Salamina, em outubro de 480 a.C., ela possivelmente se chamaria hoje "Ásia Ocidental" – com população de maioria muçulmana.
Heródoto (490 a.C.–425 a.C.), um dos principais historiadores da Grécia Antiga, deu um suporte ideológico à guerra contra os persas. Para ele, tratou-se de uma "guerra de sistemas". De um lado, estava a Europa da "liberdade e democracia" – afinal de contas foi fundada nessa época a democracia ática, considerada até hoje o berço da Europa democrática. No lado persa-asiático, Heródoto localizou o "despotismo", o sistema da tirania. Dessa forma, o historiador grego dividiu o mundo até então conhecido num par de opostos: Ásia contra Europa e "liberdade contra servidão".

2 comentários:

  1. "...– com população de maioria muçulmana...." !!
    Factos de 480 AC, misturados com outros mil anos depois???.

    Teria havido, no "Império Persa", um:
    Muḥammad ou Moḥammed; Meca, ca. 6 de Abril de 570 — Medina, 8 de Junho de 632) que teria fundado a sua religião?

    ????????

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    1. Não vou responder pelo historiador, que tem direito a uma visão da História posicionado no seu tempo, mas considerando que Maomé é considerado pelos próprios muçulmanos como o mais recente e último profeta do Deus de Abraão, precedido no seu papel de profeta por Jesus, Moisés, Davi, Jacob, Isaac, Ismael e Abraão, o seu nascimento não estaria dependente de outros acontecimentos históricos, o que lhe daria sempre o estatuto de fundador do Islamismo.
      Assim sendo, entende-se a interpretação, tanto mais, que apesar da Batalha de Salamina, surgiu mesmo o Império Árabe muçulmano, com uma área de influência que se estendia do noroeste da Índia, através da Ásia Central, o Oriente Médio, África do Norte, Itália setentrional e Península Ibérica.

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