É muito revelador que o PSD tenha sido lesto a convocar a Comissão Política para reagir às declarações de Paulo Portas de domingo e tenha ficado mudo e quedo ante as manifestações de Sábado. O medo usado pelo Governo foi devolvido pelo povo. Quando o país desparalisou, paralisou o Governo.
Pedro Santos Guerreiro
As manifestações de Sábado foram muito mais do que numerosas. A tensão e raiva que lá se sentia fizeram das manifestações do 12 de Março (há um ano e meio) uma caminhada pela paz e amor. Nestas, pedia-se justiça, demissões, convulsões. Cada pessoa a quem se perguntava "por que razão está aqui?" respondia com o seu próprio drama. Muitas de lágrimas dos olhos. E agora?
"E agora?" é uma das perguntas que os cépticos das manifestações, e alguns amnésicos sobre o que é a sociedade, costumam perguntar no fim. Como se uma manifestação tivesse apenas dois propósitos: enrolar as bandeiras ou usá-las para partir montras. Errado. Os manifestantes é que perguntam, exigem, "e agora?". É Passos Coelho quem tem agora de responder.
O Governo responde com ameaça de cisão. Paulo Portas respondeu com cinismo a Passos Coelho, dando sequência ao processo de autodestruição da coligação. O pior cenário que temos pela frente é o de eleições, mas deixar apodrecer um Governo de traidores é como usar uma máscara de farinha ao vento. É altura de Cavaco Silva intervir. E resolver.
Passos Coelho já perdeu esta luta porque já perdeu todas. A própria "chamada" de Cavaco Silva a Vítor Gaspar ao Conselho de Estado, tornada pública, é um atestado de menoridade e um insulto ao primeiro-ministro. Cavaco chamou "quem sabe" e quem sabe é Gaspar. É esta a mensagem.
Da manifestação de 15 de Setembro à apresentação da proposta do Orçamento do Estado decorrerá precisamente um mês. Já não é possível reconstituir o que havia colando os cacos, mas é preciso reerguer algo. O aumento da taxa social única para os trabalhadores tem de cair. Até porque, como disse ontem Maria João Rodrigues, há alternativas. Mesmo sendo alternativas de austeridade.
Este é o principal dano provocado pelo Governo: ter destruído a disponibilidade para a dor que existia, porque vigorava o sentimento de que este era um caminho duro mas de injustiça justamente distribuída. Esse selo foi quebrado, irremediavelmente. Como perguntou José Gomes Ferreira, como vão ser agora aceites as próximas medidas de austeridade, que obviamente surgirão daqui até 15 de Outubro? Porque disso não nos livramos. Depois das medidas extraordinárias deste ano (que incluem a concessão da ANA, em vez de privatização), há um ror de austeridade para 2013 que não poderemos evitar. Os cortes na Função Pública e nos pensionistas, os impostos para trabalhadores.
Na delirante mensagem que deixou vai para dez dias no Facebook, o amigo, cidadão e pai Pedro escreveu uma frase certa: "Esta história não acaba assim". Pois não. Acabará de outra maneira. Acaba mal para Passos Coelho. Mas não pode acabar mal para o País.
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