O país deve estar preparado para enfrentar "pelo menos 2 ou 3 anos com um desemprego" a que não estava habituado. O aviso foi deixado pelo primeiro-ministro e também presidente do PSD durante o encontro que manteve este 1.º de Maio com os Trabalhadores Sociais-Democratas (TSD), reunião em que avançou com a possibilidade de alterar os contratos bancários de financiamento à compra de casa, tendo em vista a mobilidade laboral.
Passos quer mexer no crédito à habitação
O chefe do Governo (e também presidente do PSD) apontou a necessidade de "mexer" nas condições dos contratos de crédito à habitação para evitar o aumento de 'spreads' sempre que é pedida autorização ao banco para arrendar a casa. “Temos de mexer nestas condições. Terá que se trabalhar bem para ver como é que isto se faz, em respeito, evidentemente por quem emprestou dinheiro, pela propriedade, com certeza que sim, mas há coisas que têm mesmo de mudar na maneira como nós funcionamos”, ameaçou Passos Coelho. Ficou a promessa de que “o Governo, a seu tempo, intervirá no processo e não deixará participar nessa matéria”.
Bancos não ajudam à mobilidade dos trabalhadores
Um dos exemplos apontados pelo primeiro-ministro foi o entrave que o empréstimo de habitação pode provocar a alguém [desempregado] a quem é oferecido um lugar longe do sítio onde mora.
Passos lamenta que em muitos casos de pessoas a pedir autorização ao banco para arrendar a casa se confrontam com a decisão da instituição de "aproveitar esta oportunidade para subir os 'spreads' dos juros. Acham que há uma modificação do contrato, paga mais. Não ajuda, nós queremos que as pessoas se possam mover em direção às oportunidades e depois há barreiras que nos prendem, que não deixam".
1. A história que se segue é pura verdade e qualquer semelhança com a ficção não é pura coincidência.
Era uma vez, na vigorosa e célebre Nação Portuguesa, um rapaz de seu nome, Pedro Passos Coelho, que manobrando com especial mestria a máquina do seu partido político (o PSD, social-democrata, que ele converteu em "liberal à portuguesa") chegou a Primeiro-Ministro. Hoje, consta que ainda governa, em parceria com o seu séquito Miguel Relvas, este país tutelado pelo FMI e pela Comissão Europeia.
O traço distintivo da sua governação tem sido a austeridade à exaustão, onerando os portugueses com obrigações fiscais de valores que já não são comportáveis, ficando impávido e sereno enquanto o desemprego aumenta galopantemente, sobretudo entre os mais jovens.
Mas Passos Coelho é um profeta: ontem, em pleno feriado do 1.º de Maio, o nosso Primeiro-Ministro lá faz uma das suas promessas em tom de confissão. Não é que Passos Coelho, comemorando o Dia do Trabalhador, resolveu partilhar com os trabalhadores sociais-democratas que o ilustre Pedro Pinto, vice da bancada do PSD, lhe sugeriu que poderia mexer no crédito à habitação para facilitar o arrendamento de casas? Ah! Este Passos é um maroto: até diz publicamente que anda a "matutar" no assunto e quer avançar com as novas condições para o crédito à habitação! É que temos de manter o nosso total respeitinho pelos senhores que nos emprestam o dinheiro (Passos Coelho dixit), mas, senhores banqueiros, coitadinhos dos pobrezinhos que não podem comprar, nem arrendar casa! Tenham lá um pouco de caridade, de compreensão pelo próximo! Caro leitor, pergunta certamente: mas como é que o Governo vai facilitar o crédito à habitação? Que novas condições são essas? Abrange a renovação dos contratos em vigor, poder-se-á rever os contratos em vigor ou só se aplicará aos contratos a celebrar no futuro? Pois, você não sabe, caro leitor. Eu confesso que não faço a mínima ideia. Porém, não se preocupe, não há problema: Passos Coelho também não lhe sabe responder a tais questões. Ele próprio ainda não pensou muito bem no problema - embora já o tenha divulgado na praça pública.
2. Eis a estratégia comunicacional do Governo Passos Coelho no seu melhor: lançar vários foguetes para o ar com o intuito de distrair, de entreter os portugueses - ao mesmo tempo que se desvia as atenções da crise financeira e dos insucessos do executivo. Fácil: é a cara de Miguel Relvas, o guru da comunicação deste Governo. O problema é que estas mentes brilhantes ainda não perceberam que esta estratégia de vender ilusões aos portugueses - ou falar genericamente de soluções mal concebidas ou ainda muito incipientes - só tem um efeito prático: o desgaste sucessivo do Governo.
De facto, ao primeiro anúncio de medidas que um dos ministros sonhou na noite anterior, os portugueses ainda ficam surpreendidos e têm um ténue esperança na capacidade reformadora do Governo. Já à segunda tentativa, os portugueses já desconfiam e não ligam aos anúncios folclóricos de Relvas e Companhia, ilimitada incompetência. A partir da terceira vez, os portugueses já percebem que o Governo não está de boa fé e tudo se limita a declarações de intenção, sem um pensamento estratégico, sem um verdadeiro programa transformador do nosso país. O Governo diz agora para fazer muito, muito depois. Ou, então - mais provável! - para fazer nunca!
A solução para convencer os portugueses do mérito das políticas governamentais, não é lançar ideias sem substrato prático já pensado, delineado e prazos de execução. Não: é mostrar aos portugueses que há um projecto a ser executado. E que esse projecto é complexo, impõe sacrifícios, mas será recompensador. Até agora, as medidas estruturais prometidas pelo Governo ainda se encontram todas na gaveta. O Ministro da Economia, sôr Álvaro, anda desaparecido em combate com o desemprego a aumentar a cada dia que passa; a pobre Assunção Cristas anda perdida; Pedro Mota Soares não sabe muito bem o que afirmar sobre o actual estado da nossa Segurança Social... Enfim, temos um Governo em bolandas.
3. Para concluir, peço apenas um desejo básico e elementar: Passos Coelho, por favor, da próxima vez, não se fique pelas confissões: apresente uma medida clara e já estudada. Senão, fique calado e reflicta consigo mesmo. O Senhor promete, promete, promete... mas, para já, só aplica o memorando da troika. E aí - dizem! - o Senhor Primeiro-Ministro é de uma eficiência louvável... pelo menos, quando toca de afectar os mais fracos.
João Lemos Esteves
Os meus parabéns ao João lemos Esteves por escrever a verdade verdadinha sobre os merdosos que nos desgovernam.
ResponderEliminarÉ raro ver tanta verdade junta...
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