Aos 13 anos tive a sorte de ter uma professora maravilhosa que me despertou o prazer pela leitura através da sugestão, quase imposta, do livro "Dom Casmurro", de Machado de Assis, que me garantiu aprovação na 7ª série (hoje 8º ano).
Por via do destino mexia nos livros dos meus irmãos e, garimpando, deparei-me com jóias do tipo "A Metamorfose", de Kafka e o Anti-Cristo de Nietszche que me transformaram num dependente buscador pelo saber. Daquela época até hoje passaram-se 19 anos onde milhares de títulos passaram pelas minhas mãos e alimentaram a minha alma e espírito crítico.
Desperto por um universo de grandes intelectuais, ainda me espanto com várias intrigantes questões. Como me tornei um crítico algoz de uma sociedade de consumo e egoísmo que não se preocupa com o outro?
Outro dia observava, num semáforo, um pedinte e busquei repostas para a seguinte questão: Como seria a nossa sociedade se esses cidadãos de direito pedissem além de trocados, um livro que alimentasse as suas mentes nas noites frias e vazias até que a fome passasse?
Não encontrei a resposta, mas doo livros sempre que posso na esperança de um futuro melhor, mesmo que só para aquele que lê.
Há anos que não passo um dia sequer sem ler algumas ou muitas páginas e, mesmo que isso raramente aconteça, sinto uma ânsia e vontade, que falta de comida ou vontade de comer nunca produziram em mim.
Vários foram os poetas e escritores que, mesmo aprisionados, pediam, ao invés de comida, livros, muitos livros, como no caso de Bertold Brecht, Dostoieviski e Gramsci que enquanto os seus corpos estavam presos, os seus espíritos viajavam até o mais distante e maravilhoso rincão.
Mas mesmo distante das pessoas amadas, estando aprisionado, faminto ou distante do leito materno, o amante do saber, busca nos livros algo que sustente os seus sonhos e a situação humana.
Caso semelhante aconteceu comigo, quando residi em Brasília, durante seis anos. Lá encontrei a possibilidade de retornar à terra-natal, numa parada de autocarros repleta de livros, para quem ouse pegá-los.
Deparei-me assim, na situação, com o livro Iracema de José de Alencar, ali na minha frente, numa prateleira ricamente adornada com um dos bens mais preciosos do homem: os livros.
Os usuários dos famigerados transportes coletivos do Distrito Federal, que já foi considerado como um dos piores sistemas de transportes do Brasil, têm a oportunidade de pegar livros e de devolverem quando quiserem, graças à iniciativa do proprietário de um talho, (pasmem!) um talho, que recebe doações de livros e dispõem em dezenas de paradas no Plano Piloto de Brasília.
Desta forma lanço uma proposta solidária que muitos já a exercitam: após lerem um livro, deixem-no em alguma parada de autocarros, para que outro possa voar e desfrutar do prazer que você sentiu.
Esse ato de Amor, palavra essa que tem sentido para muitos como Frederico Garcia Lorca, que equivale a livro, isso mesmo “Amor = Livro”.
Como o Amor, o livro deveria ser mais dado e recebido.
PS: Minha homenagem a todos os que tanto precisam de alimento e saber.
Prof. Ms. Marney Ferreira Cruz - UFC e FGF
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