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terça-feira, 24 de junho de 2014

Quem nos come a “carne” ainda nos rói a saúde (privada)…

Um especialista mundial em nutrição acusa as organizações internacionais de saúde de cederem aos interesses da indústria ao ponto de elaborarem uma pirâmide alimentar e recomendarem alimentos que nem sempre são os melhores para evitar doenças.
Colin Campbell, pela primeira vez em Portugal, é um bioquímico norte-americano especialista em nutrição na saúde e autor do Estudo da China ("The China Study"), o maior estudo epidemiológico sobre o efeito da alimentação e estilo de vida na saúde.
Convidado como orador principal, num seminário sobre nutrição, subordinado ao tema "Factos e mitos", promovido pelo Ministério da Saúde e pelo Instituto Macrobiótico de Portugal, Colin Campbell diz que o principal mito que subsiste "tem a ver com o facto de as pessoas continuarem a olhar para a carne como a principal fonte de proteínas". "Isso está errado. Uma alimentação rica em verduras e legumes também fornece proteínas", disse o defensor de uma dieta completamente isenta de carne, peixe e lacticínios.
Uma das conclusões fundamentais que emanam do seu estudo, publicado em 2005, é que o "principal problema de saúde está associado aos lacticínios e ingestão de carne", uma afirmação que considera "válida" quase 15 anos depois.
De acordo com este estudo, que produziu mais de 8.000 associações significativas entre diversos fatores alimentares e várias doenças, o consumo de carne, peixe e derivados de leite é responsável por doenças degenerativas modernas, como o cancro e a diabetes.
Questionado sobre por que motivo então as conclusões do seu estudo nunca foram aplicadas a nível mundial na alimentação e acatadas pelas associações ligadas à saúde, designadamente a OMS e organizações relacionadas com as doenças degenerativas, Colin Campbell escuda-se na força dos lóbis da indústria alimentar. "Não podemos esquecer que a Pirâmide alimentar que vemos é ditada por uma série de fatores, sendo um dos principais a influência de determinados sectores da indústria alimentar. Os lóbis paralelos que existem, ligados aos sector alimentar, são fortes, poderosos e continuam a ditar as regras gerais da alimentação, incluindo o que se inclui na Pirâmide Alimentar", afirma.
Sobre a importância para a saúde, nomeadamente para o reforço do sistema imunitário, dos bacilos vivos contidos nos iogurtes, Colin Campbell reconhece que "os iogurtes têm mais benefícios do que o leite", mas sublinha que "esses benefícios não são suficientes para que o iogurte substitua o valor dos legumes na comida vegetariana".
Quanto aos chamados peixes azuis, que cada vez mais estudos consideram fundamental para a saúde cardiovascular e o combate a doenças como o cancro, o responsável reconhece igualmente alguma importância, mas descarta-os como necessários. "O peixe é, sem dúvida, o que tem melhor ratio - se comparado com a carne - de Omega 3 e Omega 6. Contudo, podemos substituir o peixe por outros alimentos, como sementes e vegetais, que também nos conferem esses benefícios", explicou.
Confrontado com os vários estudos recentes que apontam cada vez mais para a importância do consumo de carne branca, peixe e lacticínios, contrariando as teses que resultam do Estudo da China, Colin Campbell aponta novamente o dedo à indústria alimentar e ao seu peso na determinação das regras gerais da alimentação.
Segundo o especialista norte-americano, a Associação Americana de Dietistas, uma das principais em todo o mundo, tem o controlo dos currículos das pessoas que depois aconselham todas as outras em termos alimentares (isto na realidade americana), sendo que estas associações "são, na sua maioria, cofinanciadas pelas grandes empresas de bebidas, farmacêuticas e alimentares". "Ora, isto acaba por ser uma bola de neve de informação, se o ponto inicial - a Associação - sobrevive através dessas empresas, então a formação que passam vai muito ao encontro do que essas empresas pretendem. Como sabemos, pouco mudou em termos do que são as regras gerais alimentares, tendo em conta que muito mudou em termos de estudos e dados apresentados. A maioria das regras alimentares é financiada pelas empresas que produzem esses alimentos", acusou.
O tema central não será tanto o da nutrição e as suas vertentes, mas o poder dos lóbis, no caso, no setor da alimentação, que passam sempre por cima de qualquer barreira moral, a qualquer preço (alto e por baixo da mesa), mesmo pondo em risco a saúde pública…
Mas o crime não se situa apenas na realidade americana, passa também pela Europa, com ligações aos EUA (claro!) e noutros setores, concretamente no que aos fármacos diz respeito.
Já em 2011, aqui no “Contra”, demos a conhecer o assunto, e vale a pena reler, para ficarmos cientes, não só da força dos lóbis (crime organizado e legalizado em certos países e tolerado na UE), mas das táticas tão simples, que se traduzem em promiscuidade e suborno
A Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar decide o que colocamos no nosso prato. Mas as suas ligações com a indústria são muitas – e os consumidores estão a pagar.
Nós somos o melhor ingrediente nutricional para quem nos alimenta…

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