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domingo, 22 de junho de 2014

O joelho do CR7 será a nossa “crise” até à derrocada final?

Sabiam que há uma nova e violenta guerra no Iraque e que o pesadelo do terrorismo está de regresso? Sabiam que há um grupo ainda mais extremista que a Al-Qaeda a fazer fuzilamentos em massa? E na Ucrânia, já deram por um corte de fornecimento de gás que pode afetar a nossa economia? Em Portugal, a crise orçamental desapareceu? A luta pela liderança do PS foi de férias? Olhando para os jornais e televisões portugueses, parece que sim. O mundo pode esperar porque agora não há mais nada a não ser... Mundial de futebol.
João Adelino Faria
Assumo! Esta é mesmo uma crónica politicamente incorreta. Vou criticar o que todos idolatram. Por muito que se goste de futebol, por muito que a nossa seleção seja uma das melhores do mundo (será?), por muito que seja bom para a economia, a informação em Portugal não pode ficar refém durante um mês das notícias de futebol. Os jornais estão quase todos monotemáticos. Antes dos jogos, são horas intermináveis de antecipação, bastidores e comentários. Depois do jogo, o que poderia ter sido, porque foi e o que vai ser. Eu sei que as audiências e as vendas sobem em flecha, mas será que não pode ser de outra forma?
Tudo o que é demais enjoa. Eu não vejo nos outros países, tão fanáticos ou mais que nós pelo futebol, um fenómeno semelhante. Itália, Espanha, Reino Unido falam do mundial mas no sítio e na medida certa. O mundial é importante mas não deve abrir noticiários dias seguidos, nem ocupar 50% das notícias. Como é possível os jornais trazerem dezenas de páginas para falar quase só de um jogo?
O mais triste é que ninguém se indigna e a maioria dos portugueses continua numa dependência quase viciante sobre o estado do joelho de Cristiano Ronaldo e a coxa do Coentrão. São notícias relevantes mas não podem fazer esquecer tudo o resto. Não podemos continuar durante um mês a fazer noticiários em que o mundo é resumido em 5 minutos e o futebol enche o resto dos jornais.
A febre é tal que até os principais comentadores políticos das televisões passam agora grande parte do tempo a explicar e a analisar o desalento da nossa seleção. Mas quem é que fez dos nossos políticos, ex-governantes ou autarcas especialistas em futebol? Podem gostar muito da bola, mas isso não faz deles comentadores encartados do assunto. Sem qualquer pudor, falam de Paulo Bento e da equipa da mesma forma que falam de Passos Coelho e do Governo. Analisam o resultado de um jogo com o mesmo à-vontade e certezas de quem comenta o resultado eleitoral e as lutas pela liderança socialista.
Eu também gostava de ver as cores de Portugal neste Mundial lá no alto, quero emocionar-me com o hino, quero olhar para a minha bandeira hasteada nas casas portuguesas mesmo quando somos derrotados. Mas, por favor, não nos esqueçamos de informar como está este país e o mundo inteiro. Caso contrário, quando a festa acabar a ressaca vai ser bem mais violenta.

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