Como se aguentariam os argumentos da nossa elite política, jurídica e financeira se fossem transpostos para o discurso do seleccionador?
Passos Coelho: A selecção evidencia sinais de retoma encorajadores. Depois da recessão profunda com a Alemanha estabilizámos com os Estados Unidos e, agora, estamos muito bem posicionados para suprir o défice de 4 golos contra o Gana. É errado dizer que a nossa tarefa fica mais fácil se a Alemanha gastar mais golos contra os americanos. Dependemos inteiramente de nós e não podemos aligeirar o esforço - se fosse preciso marcávamos 7 ou 8. Se correr mal? Bom, aí a culpa será sempre do juiz. Da partida.
Paulo Portas: Sei que não estive presente no jogo duro contra a Alemanha - estava a tratar de patrocínios para a selecção. E que cheguei tarde ao jogo com os Estados Unidos - estava a escolher o lugar do estágio no Qatar. Ainda assim cheguei a tempo de meter o Varela em campo e de dar um contributo importante para o empate nos descontos. Sobre o jogo com o Gana só tenho a dizer que o que for positivo será resultado da minha influência. Se correr mal? Deixarei o comando. Adivinharam: será uma decisão irrevogável.
O presidente do Tribunal Constitucional: Os jogadores ao serviço da Federação Portuguesa de Futebol são equiparáveis ao estatuto de trabalhador em funções públicas, pelo que devem beneficiar de protecção especial. Pedir aos meus jogadores um esforço adicional de 4 golos contra o Gana, no meio desta humidade, viola o princípio da igualdade face aos restantes portugueses. Em suma: é inconstitucional. Se correr mal? Não estou a dizer que Portugal não pode ganhar ao Gana por 4 - não pode é fazê-lo só com estes jogadores.
António José Seguro: Precisamos de mais tempo para o apuramento - temos de negociar uma fase de grupos com mais jogos. A equipa não deve treinar neste clima sufocante e recessivo, precisa é de crescimento. Proponho umas idas terapêuticas ao Chimarrão. Ali está fresco, o restaurante é suficientemente grande para treinarmos e tem muita proteína. Se correr mal? Renovei contrato há pouco tempo e os estatutos da Federação não permitem novas lideranças oportunistas. Mas permitem lutas greco-romanas. Na lama.
António Costa: Precisamos de mais tempo para o apuramento - temos de negociar uma fase de grupos com mais jogos. Temos de capacitar a equipa, que não deve treinar neste clima sufocante e recessivo. Os jogadores precisam de crescimento. Saibamos mobilizar a equipa com umas idas terapêuticas ao Chimarrão - está fresco, o restaurante é suficientemente grande para treinar lá dentro e tem muita proteína. Já alguém disse isto? Sim, mas reparem como eu digo com muito mais gravitas.
Cavaco Silva: Eu avisei antes do jogo contra Alemanha. Eu avisei antes do jogo contra os Estados Unidos. E aviso agora. Está húmido, a estrela da equipa está a jogar em esforço, há lesionados por toda a parte, os ganeses correm e jogam muito e ainda temos de superar um défice de 4 golos para passarmos. De que precisamos? De consenso no balneário sobre a necessidade de golearmos o Gana. E eu não sinto esse consenso. Se correr mal? Eu avisei.
Ricardo Salgado: Andámos este tempo todo a dizer que o Cristiano Ronaldo estava a 100% e que tudo iria estar a postos e, afinal, o CR7 está a 50% e a equipa de rastos. Sei o que parece - mas a culpa é do preparador físico. Eu nem sabia que o Cristiano andava a gelo no joelho. É preciso recuperar a esperança. Amanhã voo para Acra e a seguir para Berlim, para tentar um último esforço de qualificação. Se correr mal? Vou para um novo conselho estratégico de apoio à selecção e aqui o meu colega da equipa técnica passa a seleccionador. Será a renovação. Completa.
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