Com 26 votos a favor e 2 contra, cimeira da UE aprova a candidatura do ex-primeiro-ministro de Luxemburgo para a presidência da Comissão Europeia. Apenas o Reino Unido e a Hungria são contra a escolha.
A votação no Parlamento Europeu, que confirmará ou não o político conservador como novo presidente da Comissão, está marcada para 16 de julho e Juncker precisará de, no mínimo, 376 dos 751 votos parlamentares.
"Decisão tomada." Foi assim que o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, divulgou esta sexta-feira no Twitter que os líderes dos 28 decidiram propor Jean-Claude Juncker para a presidência da Comissão Europeia. Pela primeira vez, o presidente da Comissão foi escolhido através de uma votação e não por consenso - Hungria e Reino Unido votaram contra.
Quem é o homem escolhido para suceder a Barroso?
É extensa a lista de acusações contra Jean-Claude Juncker nos jornais britânicos: é pró-federalista; é anti-democrático; fala muito durante as reuniões; está sempre a beber álcool; tem origens dos bancos; nunca teve um "emprego verdadeiro"; é desonesto. A "Economist" escreve mesmo que ninguém o quer e chama-lhe "presidente acidental".
Entre os argumentos contra Juncker há considerações falsas, contraditórias, ou apenas parcialmente verdadeiras. A acusação de que o pai era nazi baseia-se no facto de Joseph Juncker, operário de profissão, ter combatido na Wehrmacht (o exército alemão) durante a II Guerra Mundial. Tendo o Reich ocupado o seu país, quantos homens jovens considerados alemães podiam recusar o alistamento? Igualmente sem sentido parece a acusação de alcoolismo, em especial quando feita pela extrema-direita que detesta a Europa. Afinal, o herói dessa fação é Nigel Farage, muitas vezes fotografado no pub com uma enorme cerveja na mão. Farage costuma dizer que a cerveja não o impede de começar a trabalhar de madrugada e acabar já noite dentro. Juncker dirá o mesmo.
Juncker pode ser fã do seu cognac, mas isso dificilmente o torna uma raridade entre os políticos europeus. Quanto aos relatos sobre uma ou outra cena de fúria - um tabloide conseguiu descobrir que certa vez gritou com um alto funcionário durante 5 minutos - também não bastam para o distinguir.
Há um verdadeiro escândalo durante o seu mandato como primeiro-ministro do Luxemburgo, que envolve escutas ilegais e o levou a demitir-se em 2013 após 18 anos no cargo. Mas esse escândalo tem que ver com ações de outras pessoas. Da parte de Juncker, a culpa principal, oficial, reconhecida, foi falta de atenção. Terá negligenciado o governo do seu próprio país porque estava demasiado ocupado como presidente do Eurogrupo durante a crise financeira.
Larga experiência nacional e internacional... e algumas gaffes
Jean-Claude Juncker tem atualmente 59 anos. Nasceu e cresceu no Luxemburgo, estudou lá e na Bélgica, fez o curso de Direito em Estrasburgo. Registou-se como advogado em 1980, mas nunca exerceu. Nessa altura já era membro do Partido Cristão Social Popular há 6 anos e tinha iniciado a carreira política. Secretário parlamentar, deputado, ministro do Trabalho... Estava tudo bem caminhado quando teve um acidente de automóvel que o deixou em coma durante duas semanas. A recuperação seria completa e em 1989 Juncker recebeu a pasta das finanças. Em 1995 passaria a acumulá-la com a chefia do governo.
Enquanto membro do executivo, começara cedo a presidir a reuniões na União Europeia, a vários títulos. Teve alguma proeminência no processo de formação do euro. Ao mesmo tempo, era governador no Banco Mundial e depois no FMI. E ocupou sempre mais que uma cadeira no governo, quer antes de ser primeiro-ministro quer depois. Ministro de Estado, do Tesouro, do Emprego...
Presidente do Conselho europeu em 1997, tentou combater o desemprego na UE. Voltou a ocupar o cargo em 2005 e venceu o referendo sobre a constituição da União. Os seus esforços valeram-se diversos prémios europeus. Tirando uma ou outra gaffe - em 2004, anunciou prematuramente a morte de Yasser Arafat -, Juncker só ficou gravemente embaraçado quando se descobriu que os serviços secretos do seu país andavam a fazer escutas ilegais. O escândalo também metia corrupção e abusos de dinheiros públicos. Junker tentou minimizar (não é surpresa que no mundo dos serviços secretos haja segredos, disse), mas acabou por se demitir.
Ocasionalmente, a sua franqueza tem-lhe arranjado problemas. Por exemplo, quando afirmou que a política monetária deve ser debatida fora dos olhares públicos. Ou quando admitiu que já tem mentido quando os assuntos são sérios. Dadas as acusações de arrogância anti-democrática que esses deslizes têm gerado, não deixa de ser irónico que a sua candidatura agora vencedora tenha sido contestada pelo Reino Unido com o argumento de que não deve ser o Parlamento Europeu, e sim os chefes de governo dos Estados, a escolher o presidente da Comissão Europeia. Afinal quem é que quer tomar as decisões à porta fechada?
Se Cameron realmente pretendia evitar a nomeação de Juncker e não apenas obter dividendos internos, terá cometido o erro de tornar a sua oposição demasiado pública, encostando Merkel e outros líderes à parede. Juncker aproveitou. Garantiu que não ia ajoelhar perante os britânicos. Queixou-se da campanha contra ele na imprensa, contou que lhe andavam a chatear os vizinhos e a remexer no lixo. Lembrou que era importante resistir a esse tipo de pressões. 26 dos 28 chefes de governo da UE, pelos vistos, concordaram.
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