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domingo, 2 de março de 2014

Quem escreve assim, até pode ser gago…

“A quem mais amamos, menos sabemos falar” - (Provérbio inglês)
Nei Alberto Pies
Todo o tipo e forma de discriminação, além de ser um problema pessoal de quem os sofre, é também um problema social.  A gaguez, como outros tantos limites humanos, deixa marcas e imprime maneiras de resistir para sobreviver socialmente. Como eu, pelo menos 1.700.000 pessoas em todo o nosso país apresenta algum grau de gaguez na sua comunicação. A gaguez ganhou também um dia internacional: dia 22 de outubro.
A fala é o meio mais eficaz e mais utilizado para a nossa comunicação e interação social, porém não a única. Esta é a maior descoberta para alcançarmos reconhecimento social, através da comunicação. Se não falamos fluentemente ou temos algum grau de timidez, arranjamos jeitos de ser reconhecidos e valorizados socialmente por alguma outra habilidade ou virtude. Se não somos “experts” na fala, podemos ser bons na escrita, no canto, na representação, no estudo, na convivência ou nas relações. A qualidade da nossa comunicação depende da interação de todos, inclusive do apoio e compreensão que temos de dar àqueles que sofrem para se comunicar.
O ser humano é especialista na arte de compensar. Sem compensar não sobreviveria, porque se não é possível ser bom em tudo, é necessário ser bom e útil em alguma coisa. Por isso a gente se faz “agarrando-se” ao que tem de bom, àquilo que tem facilidade e àquilo que nos renda reconhecimento dos outros. A gente inventa e reinventa jeitos e trejeitos para ser querido, amado e promovido pelos outros. O reconhecimento social é uma das maiores necessidades humanas, pois ninguém sobrevive se não comprovar para si mesmo quanto é útil, importante, querido e estimado pelos outros.
O resgate da autoestima e a autoaceitação são preponderantes para a cura ou convivência com a gaguez. A gaguez é influenciada por fatores neurobiológicos ou emocionais. Conhecer-se, estudar o seu problema, procurar auxílio e terapias, aumenta as possibilidades de conviver socialmente, sem maiores traumas. É fundamental, ainda, assumir publicamente os limites da fala e da comunicação sempre que se puder. Assumir os limites da fala propicia discernimento e tranquilidade interior para lidar com os desafios de se comunicar melhor. Quem fala liberta-se!
Falar é a forma mais concreta de nos apresentarmos ao mundo. Por isso mesmo, falar pressupõe primeiro aceitar-se como se é para depois buscar o reconhecimento junto dos outros. A felicidade de “seres humanos falantes” alicerça-se tanto nos fracassos e limites como nos êxitos e nas conquistas, pessoais e coletivas. Uma boa convivência social pressupõe a aceitação de todos os limites humanos e a superação de todas as formas de discriminação.

2 comentários:

  1. Obrigado pela consideração pela minha condição de gago. Aprendi que problemas se superam quando são assumidos. Assim aconteceu comigo.

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    1. Professor Nei Pies
      Em primeiro lugar, bem vindo ao Contra, em segundo lugar, obrigado pelos escritos que aproveito (e há muitos) da SER, por falar de filosofia de uma maneira acessível e em terceiro lugar, parabéns por assumir a gaguez e publicamente.
      Um abraço e filosofe mais para "obrigarmos" as pessoas a pensar com a sua própria cabeça.

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