O presidente do Conselho de Administração da Sonae, Belmiro de Azevedo, afirmou que "Os salários só podem aumentar - e oxalá que isso aconteça - quando, de facto, um trabalhador português fizer uma coisa igual, parecida, com um trabalhador alemão ou inglês, seja o que for", afirmou.
Desta forma, para o 'chairman' da Sonae, que voltou a defender que a competitividade em Portugal só pode ser estimulada através da "educação das pessoas e [da] aquisição das máquinas corretas", é impossível comparar os salários em Portugal com os de países como a Alemanha "pura e simplesmente porque os alemães, por hora, fazem 3 ou 4 vezes mais do que os portugueses". "Portanto, é uma maneira de fugir à realidade, porque se não formos igualmente competitivos não exportamos. E não exportando não vamos a sítio nenhum", disse Belmiro de Azevedo.
De acordo com dados do Eurostat e dos Institutos Nacionais de Estatísticas reunidos pela Pordata, em 2012, se num índice da União Europeia a 27 a produtividade do trabalho por hora era 100, em Portugal seria 64,3, enquanto na Alemanha o valor era de 124,8.
Bem, por onde se pode começar? É que há aqui qualquer confusão!
Comparar a produtividade sem comparar a arrecadação das mais-valias, fruto dessa produtividade, é a modos que atirar areia aos olhos dos incautos. Tem lógica que a uma menor produção corresponda um menor lucro, o que não se verifica no caso. Fica por descortinar como é que em Portugal os mais ricos fiquem mais ricos, mesmo quando nada ou pouco invistam na produção e importem os produtos que comercializam… Mistério, que não tem, seguramente, justificação na produtividade, mas indubitavelmente nos salários baixos que pagam, comparativamente…
E para se entender o "paradoxo", convém começar por dizer que os pressupostos estão viciados, já que a produtividade na Alemanha é “apenas” o dobro da dos portugueses e não 3 ou 4 vezes superior e em paralelo, sendo os salários médios na Alemanha mais do triplo dos salários médios em Portugal, quer dizer que os investidores alemães arrecadam menos 1/3 (dos salários) do que os portugueses, o que demonstra que os nossos empresários arrecadam mais 1/3 (dos salários) do que os germânicos, que é razão porque por cá se enriquece mais depressa…
Incompreensível é a solução proposta para o aumento da competitividade em Portugal, através da educação das pessoas (entenda-se por educação, o conformismo), quando se corta na Educação e se exportam os mais “educados”, precisamente para a Alemanha e Inglaterra…
Já sobre a aquisição das máquinas corretas para aumentar a produtividade (certo!), mas tal opção terá como consequência direta a redução de trabalhadores “educados” no mercado de trabalho, com mais desemprego e reduzindo o montante das “despesas” com mão-de-obra e por isso mais lucro, com a vantagem de as máquinas não descontarem para a Segurança Social…
Finalmente, e ainda sobre o aumento da competitividade, que na opinião do ‘chairman’ nos ajudaria a aumentar as exportações, sem as quais não vamos a lado nenhum, não merece qualquer crédito, vindo de quem vive mais ou quase só do mercado interno…
Tendo em conta que os salários de quem trabalha reduziam mais de 12% entre 2011 e 2013 e que o salário médio emagreceu 150 euros/mês em 2013, enquanto a fortuna do “conselheiro" subiu 138% só em 2013, é bom mandar bitaites destes, quando se usa o lema dos cangalheiros:
“Eu não quero que ninguém morra, só quero que o meu negócio corra!”.
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