O corrupto português é o inverso do Pai Natal: uma entidade imaginária que, em lugar de oferecer presentes, recebe-os. Segundo a lenda, em vez de um saco vermelho, dizem que transporta um saco azul. Há quem acredite que existe, mas ninguém tem provas. É uma questão de fé pueril.
Ricardo Araújo Pereira
Era uma vez uma empresa alemã que vendeu 2 submarinos a Portugal. Uso esta formulação porque, tendo em conta que os factos ocorreram há 7 anos, tudo parece pertencer já ao domínio da fábula. Na Alemanha, houve um julgamento no qual certos intervenientes no processo foram condenados pelo crime de corrupção. Em Portugal, houve um julgamento no qual certos intervenientes no processo foram ilibados do crime de corrupção. Mais uma vez, a superioridade alemã ficou clara: os alemães conseguem ser corruptos mesmo quando não há ninguém para corromper. É a celebrada eficácia germânica. Neste aspecto, Portugal ficou atrás da própria Grécia, que também comprou submarinos alemães. Um ex-ministro grego envolvido no processo está preso desde o ano passado. Quando os corrompem, os gregos colaboram deixando-se corromper. Só em Portugal as pessoas não têm a decência de participar na dança da corrupção quando são convidadas para isso.
Na verdade, não é uma questão de má vontade, mas de feitio. Os mesmos administradores da empresa que corrompeu o ministro grego confessaram, no tribunal alemão, ter corrompido responsáveis políticos portugueses. Ingenuamente, terão pensado que bastava corromper um português para que se pudesse falar em corrupção. Desconhecem a fibra de que são feitos os lusitanos, cujo material genético é à prova de falcatruas. A História demonstra que não há um único corrupto em Portugal. A corrupção, no nosso país, é como o Pai Natal: só os ingénuos acreditam na sua existência. Para ser mais rigoroso, o corrupto português é o inverso do Pai Natal: uma entidade imaginária que, em lugar de oferecer presentes, recebe-os. Segundo a lenda, em vez de um saco vermelho, dizem que transporta um saco azul. Há quem acredite que existe, mas ninguém tem provas. É uma questão de fé pueril.
Os tribunais continuarão a perder tempo e dinheiro a julgar portugueses suspeitos de corrupção perante a passividade de todos. Ninguém toleraria que a polícia gastasse recursos a perseguir e a prender todos os velhos gordos de barba branca em busca do Pai Natal. E, no entanto, todos se calam perante o escândalo que ocorre nos tribunais, que teimam em tentar encontrar um português corrupto quando é mais do que evidente que não existe nenhum.
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