O grande vencedor das eleições italianas é frequentemente qualificado de populista. Mas, na Europa, essa categoria política um tanto vaga abrange perfis bastante diferentes, recorda o historiador belga Marnix Beyen.
A vitória esmagadora de Beppe Grillo em Itália reacendeu o debate sobre o conceito controverso de "populismo". No Morgen, o cronista Bert Wagendorp referiu que, "ao contrário de populistas como Bart De Wever [Bélgica], Geerts Wilders [Holanda] e Berlusconi", Grillo não é oriundo dos partidos políticos existentes. Por outras palavras: como verdadeiro outsider, Grillo não parece fazer parte da grande família populista. Ao dizer isto, Wagendorp esqueceu-se da importância da ideologia na definição do populismo. No entanto, segundo uma definição ideológica deste tipo, Grillo é quase o protótipo do populista: alguém que apresenta a classe política como sendo o inimigo do povo "verdadeiro".
Algumas formas de populismo são fascistas
Pela mesma razão ideológica, Grillo não pode ser simplesmente definido como populista. Com efeito, o populismo é um fenómeno particularmente polimorfo, que pode partir de interpretações muito diferentes do que é o "povo". Em teoria, é possível distinguir duas posições extremas. Por um lado, pode apresentar-se "o povo" como uma unidade metafísica e moral que continua a ser dotada das mesmas características ao longo dos séculos. Esse povo deve ser protegido contra os inimigos do estrangeiro e das influências estrangeiras e pode absolutamente ser incarnado por um líder carismático.
No outro extremo deste leque político, situa-se a abordagem segundo a qual o povo é apresentado como a soma de milhões de cidadãos livres, com aspirações e projetos próprios, que não devem ser travados por regras e leis supérfluas. O populismo integralmente associado à primeira interpretação étnica do conceito de "povo" pode ser designado como fascista. Se assentar na segunda abordagem, trata-se mais precisamente de populismo libertário.
A imagem ideal do povo finlandês
Praticamente todos os movimentos populistas atuais combinam aspetos das duas variantes, mas em doses muito diferentes. A partir do nome do seu partido, poderá deduzir-se que os Verdadeiros Finlandeses, de Timo Soini, se encontram mais profundamente próximos da primeira variante. De facto, este partido político assenta na imagem ideal do povo finlandês, que deve ser protegido de influências estrangeiras como o casamento de homossexuais, a língua sueca e a imigração norte-africana. A mobilização que este partido realiza em torno destes ideais e as medidas concretas que propõe são, no entanto, demasiado moderadas para lhe valerem o rótulo de "fascista".
Pela sua parte, Geert Wilders sublinhou muito mais claramente a faceta libertária do populismo no nome do seu partido, o Partido para a Liberdade. A atitude positiva desse partido em relação à homossexualidade como fazendo parte de uma herança esclarecida corresponde a isso. Contudo, o conceito de "a nossa Holanda" é de facto representado como uma unidade mística, que deve simultaneamente obstruir "a Bruxelas deles" e a "ascensão do Islão".
O partido húngaro Fidesz sofre igualmente de uma ambiguidade deste tipo. Apesar de, inicialmente, ser a abreviatura de Jovens Democratas Livres, agora o nome tem só a ver com o termo latino para fidelidade [fides]. Os ciganos húngaros, entre outros, vivem todos os dias a experiência do resultado dessa fidelidade aos "verdadeiros" valores húngaros.
A favor da “democracia eletrónica”
O Movimento 5 Estrelas de Grillo corresponde muito mais ao pool libertário do leque populista do que os movimentos anteriormente mencionados. É verdade que o seu blogue e os seus discursos estão cheios de referências à Itália eterna, que finalmente está prestes a ser ressuscitada, mas, ao mesmo tempo, Grillo mostra-se alérgico a excessos hipernacionalistas como os de Timo Soini e Viktor Orbán. É verdade que Grillo advoga a necessidade de travar a imigração, mas não baseia essa tomada de posição na fobia ao Islão nem no medo da perda dos valores italianos. A sua defesa da "democracia eletrónica" diz muito a seu respeito. [Considera que], em vez de irem atrás de líderes e de símbolos, os italianos devem fazer ouvir massivamente a sua voz através da Internet.
Esta classificação coloca também a seguinte questão: onde situar Bart De Wever neste leque? Claro que de Wever é o herdeiro de uma tradição que venerava a variante étnica do nacionalismo. Por enquanto, De Wever ainda não cola bandeirinhas com o leão flamengo nas placas [com os nomes] das ruas da sua própria cidade [Antuérpia], mas deixa claro que quer refundir a sua população para chegar a uma comunidade mais ou menos homogénea, com fronteiras externas sólidas.
Graças à história comunitária, De Wever não é obrigado a apresentar-se como populista. Pode definir-se como executante de um processo de formação de Estado inacabado, em vez de como porta-voz do povo contra uma classe política corrompida.
Itália - Rápidas melhoras para a Europa
“Contrariamente ao que muitos pensam, quem está doente na Europa é a própria Europa, não é a Itália”: assim começa um artigo de opinião de dois académicos no EUobserver. Apesar de o habitual estado de coisas neste país da Europa do Sul se caracterizar por um “sistema disfuncional, instituições ineficazes, corrupção generalizada e grande despreocupação com as leis”, o país conseguiu ser a 8.ª maior economia do mundo, refere Francesco Giumelli, professor auxiliar do Departamento de Relações Internacionais e Estudos Europeus da Universidade Metropolitan de Praga, e Ruth Hanau Santini, professora auxiliar de Ciência Política da Universidade Orientale de Nápoles, em Itália.
De facto, a Itália é uma fera que não se consegue compreender bem – quanto mais domesticar – [...] mas é uma âncora e não um icebergue no processo de integração europeia. A Itália vai ser capaz de lidar com as suas incertezas internas. Os europeus deveriam estar mais preocupados com a inexistência de progressos de uma […numa] união bancária [...e] um pacote europeu de austeridade a que não se conseguiu aliar as necessárias medidas de crescimento económico e social para relançar uma confiança renovada nas instituições europeias. Os maiores perigos para a UE residem aqui e não na política partidária italiana.
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