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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Milagre económico? E a perda nacional de emprego?

O ministro da Economia, António Pires de Lima, salientou a recuperação da economia portuguesa nos últimos meses e deixou a esperança de que “amanhã, depois de amanhã”, se possa baixar os impostos.
Pires de Lima destacou os números das exportações, fruto do esforço dos empresários. “O Governo fez a sua parte, mas o principal mérito do milagre económico são as empresas. É triste que a oposição não reconheça estes sinais porque seria reconhecer o esforço das empresas, dos empresários, dos trabalhadores, que estão a fazer um esforço para a retoma”, afirmou o ministro, que deu várias notas positivas da economia, desde a produção industrial à taxa de nascimento de novas empresas, apesar de reconhecer que o “desemprego é ainda muito alto”.
Salientando que a recuperação da economia portuguesa é um “aliado fundamental” no processo de consolidação orçamental, o ministro do CDS defendeu ser necessário “proteger os sinais desde Abril de 2013 e a confiança dos agentes (…), evitando aumento de taxas às empresas, e que possam afectar as famílias sobretudo do sector privado”.
É natural que um social-cristão acredite em “milagres”, como é o caso do ministro Pires de Lima, que mesmo tendo sublinhado que o Governo fez a sua parte, sem especificar qual a parte, vem paradoxalmente dizer que há causas, o que contraria o conceito de milagre… O milagre não se comprova,  é um acontecimento dito extraordinário que, à luz dos sentidos e conhecimentos disponíveis, não possuindo explicação científica ainda conhecida e dá-se de forma a sugerir uma violação das leis naturais que regem os fenómenos ordinários
Retirando a parte de corresponsabilidade (do governo), o ministro aponta como causa próxima, o esforço das empresas, dos empresários e dos trabalhadores, sem se referir à cota parte dos ganhos que coube a cada um e tenta entranhar, em cada um de nós, o orgulho pelos nossos privados. E vai a tal ponto, que defende que não haja aumento de taxas às empresas, que possam afetar as famílias, sobretudo as do sector Privado…
E ao de leve, fala no desemprego, mas o que não se entende é por que não houve efeitos nessa variável…
Que rico ministro da Nação, que defende os Privados e se esquece dos privados da Função Pública, Reformados e Pensionistas, que tem sido roubados do seu pecúlio para que o “milagre” esteja a acontecer…
E enquanto acontecem estes fenómenos inexplicáveis à luz dos conhecimentos disponíveis pelos nossos economistas e tarólogos, os governantes ainda nos pedem que fiquemos satisfeitos com os sucessos de outros e que sintamos aquele orgulho nacionalista, sem que haja qualquer alteração no proveito a nível individual, antes pelo contrário…
Talvez porque:
O patriotismo ou falta dele é um terreno sempre armadilhado. É mais patriota uma empresa de calçado português que produz no Vietname ou uma multinacional alemã que gera emprego por cá?
Tiago Freire
Aproveito para parafrasear Jorge Jesus, quando se referiu ao ‘fair-play', no que toca à discussão em curso acerca do interesse nacional. Mais especificamente dos centros de decisão nacional e até do terreno, mais pantanoso, do patriotismo.
Isto vem a propósito da venda, por parte da Caixa Geral de Depósitos, da posição detida na PT, bem no meio da fusão desta com a Oi. Mais, sem avisar a administração da PT, como tem sido hábito e seria cordial fazer.
A reacção mais saliente veio de Henrique Granadeiro, que quase em jeito de desabafo afirmou que "há pessoas e instituições que estão a desistir de Portugal e de manter uma posição portuguesa forte no mundo". Interpreto a resposta algo sanguínea do chairman da PT como uma reacção "a quente" ao que terá visto como uma desconsideração institucional entre 2 das maiores empresas nacionais. A verdade é que, para além da retórica - que não saiu bem a Granadeiro, no momento em que o eixo de poder da PT/Oi se desloca para o Rio de Janeiro - no mundo do dinheiro não há lugar para patriotismos.
Lembremo-nos de bandeiras de há alguns anos, de "compromissos Portugais" e de "centros de decisão nacional", e das posteriores vendas, a estrangeiros, de empresas lideradas por signatários dessas vagas de pensamento.
A praça pública dispensa estas lições de moral. O que importa, então, para o interesse nacional? É a sede, a participação accionista, é a língua?
Para aferir esse tal de "patriotismo", centro-me nos seguintes indicadores:
a) a empresa produz em Portugal?;
b) cria emprego em Portugal?;
c) dá rendimento fiscal em Portugal?;
d) contribui para a formação de quadros portugueses, em Portugal, e estimula a investigação e o desenvolvimento?;
e) vende os seus produtos em Portugal e em concorrência, promovendo a descida dos preços e uma maior qualidade de serviço no sector?
Interesse nacional, para mim e suspeito que para o português comum, é isto. Que diferença me faz que uma empresa seja dominada por uma família milionária portuguesa ou por um conjunto de accionistas estrangeiros, como fundos de pensões? Nenhuma.
É mais patriota uma empresa de calçado tipicamente português que tudo produz no Vietname ou uma multinacional francesa ou alemã que gera emprego qualificado em Portugal?
O trabalho de um administrador é defender o interesse dos seus accionistas, que pode ou não coincidir com o interesse do seu país. É o que é e não há que ter vergonha disto. Tal como no futebol, onde o ‘fair-play' foi rebaixado à categoria de treta, também no mundo dos negócios há muito se foi o "amor à camisola".
O perigo das discussões sobre o patriotismo é que é um terreno sempre armadilhado, e no qual pouca gente não tem telhados de vidro.

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