Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser…
E a pergunta roda
E a cabeça agita.
Fico com a pureza das respostas das crianças:
É a vida, é bonita,
E é bonita!
Gonzaguinha
A família e a escola foram constituídas, historicamente, alicerces da formação humana. Delas se espera que construam ferramentas que permitam aos indivíduos, de um lado, inserir-se socialmente e, de outro, realizarem-se como seres desejantes, física, moral e espiritualmente. Neste sentido, é imprescindível a espiritualidade, tomada como “unidade sagrada do ser humano (...), convivência dinâmica de matéria e de espírito entrelaçados e inter-retro-conectados”. Leonardo Boff
Nei Alberto Pies
Nas aulas de ensino religioso, para além do conhecimento de diferentes credos e crenças, buscamos estimular opções de vida e comportamentos que tragam sentido de vida às crianças e adolescentes. Ensinar o sentido da vida pressupõe processos educativos que implicam com a autonomia, com a responsabilização das ações na medida das forças de cada um, com a vivência da liberdade, com a abertura do eu para o outro.
As crianças produzem as mais puras obras da sensibilidade humana e orgulham-nos com os seus ingênuos e inocentes encantos. Na infância e adolescência, os sentimentos são mais efervescentes, por isso a necessidade de educar em e para os sentimentos.
Educar para os sentimentos não significa trabalhar conceitos abstratos e acabados, mas exercer perene e permanente escuta para que, ao dizer os seus sentimentos, as crianças e adolescentes possam construir e reconstruir os seus próprios conceitos. E para que, ao interagir com os demais, possam enriquecer as suas ideias, alargando os horizontes da sua compreensão sobre si mesmo, sobre o mundo e sobre os outros. Afinal, “educar é ajudar a ser, nascendo aos poucos para a luz; é fazer passar do seio materno da natureza em dependência e ignorância para o reino da verdade e da liberdade, que é o reino do espírito. Educar é possibilitar o nascimento do ser... Dá-se à luz não para deter, mas para que o outro possa ser; isto é, para que possa percorrer o seu próprio caminho e construir o seu próprio lugar no mundo” (Moreno, Ciriaco Izquierdo, Educar em valores, Paulinas 2001).
É difícil, senão impossível, educar os outros sem se educar primeiro. Não basta um bom método, é preciso também ter fé na vida, amor e sensibilidade para ouvir. Atentos e vigilantes, abramos os nossos olhos para ver, os nossos ouvidos para ouvir e a nossa boca para falar, serenamente. Pois quando reina em nós a insensibilidade, esta gera autossuficiência, arrogância e rancor, qualidades que não cativam e não agregam ninguém.
Ao apreendermos e compreendermos o universo infanto-juvenil, podemos impulsionar novas e renovadas perceções de vida, de ser humano e de beleza. No filme Tesouros da Neve (produzido por Nigel Cooke, LPC Produções), a partir de um desentendimento entre 3 crianças: Lucyen, Annete e Denny, o perdão é abordado sob a forma de um drama humano, de difícil aprendizagem, mas necessário para quem quer seguir vivendo. Demonstra, ainda, a necessidade da compreensão e apoio, para quem está arrependido e se quer reparar com os outros. A consciência humana cobra permanentemente pelos eventuais erros cometidos: “quando fazemos algo errado, recebemos o castigo sem ninguém interferir”.
Esta extraordinária história do filme ajuda-nos a compreender pequenos grandes dramas juvenis que necessitam da nossa atenção e apoio, na condição de pais, mães, avós ou avôs ou educadores/as. As crianças e os adolescentes vivem os seus dramas; esperam a nossa compreensão e a nossa luz para que possam assumir-se sujeitos das suas histórias. Crianças espiritualizadas são aquelas que conseguem compreender os seus dramas e os dramas do mundo, apontando soluções para os superar.
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