O vice-presidente do PSD acusou os representantes do FMI na troika de "hipocrisia institucional" por aquela entidade fazer relatórios em que admite "excessos de austeridade", mas depois nas negociações é "muito pouco flexível".
O dirigente do PSD salientou que "ainda ontem os parceiros sociais saíram altamente descontentes do contacto que tiveram com os representantes da troika".
O ministro da Economia pede ao FMI para ser mais coerente. Pires de Lima comenta, desta forma, o relatório do FMI, onde são reconhecidos os riscos das políticas impostas a Portugal e onde se lê que a austeridade deve ter limites de velocidade. Mas, ao mesmo tempo que no relatório se reconhecem erros, os representantes da troika, onde está o FMI, continuam a insistir na austeridade. Pires de Lima pede coerência.
É uma mensagem de vice-presidente para vice-presidente do PSD. Um dia depois de Marco António Costa ter acusado o FMI de "hipocrisia institucional", Jorge Moreira da Silva veio defender um "hábito muito sensato": não falar sobre a troika enquanto estão a decorrer as avaliações das instâncias internacionais. Foi a resposta do ministro do Ambiente quando questionado sobre as críticas - vindas do próprio PSD - ao FMI.
António Pires de Lima, ministro da Economia, veio afirmar que é importante que às palavras "corresponda uma coerência na execução prática". Pedro Mota Soares, ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, também manifestou a expectativa de que as "recomendações venham a concretizar-se em acções". E Rui Machete, ministro dos Negócios Estrangeiros, sublinhou que "ainda não se traduziram no terreno as considerações filosóficas veiculadas pelos organismos superiores do FMI".
Claro que depois de alguém ler as conclusões de (mais) um relatório de um economista-chefe do FMI, que contradiz totalmente a praxis dos seus funcionários, tem que “gritar alto e bom som”, que a Lagarde vai nua (salvo seja!).
Por maioria de razão, os primeiros vitupérios a ouvir-se deveriam partir do próprio governo ou dos seus ministros e em último caso dos partidos que o suportam (embora quem os suporte, mesmo, sejamos nós).
Vai daí não se entender o sururu que nasceu de um vice-presidente do PSD (Marco António) denunciar essa hipocrisia institucional, acompanhado de um ministro do mesmo partido (Rui Machete) e de mais 2 ministros do CDS (Pires de Lima e Mota Soares), sem que o Presidente do PSD e PM os tenha censurado…
Mais estranho ainda é um outro vice-presidente do PSD (Moreira da Silva) e atual ministro do Ambiente (terá sido por isso?) ter puxado as orelhas a todos os “dissidentes”, sugerindo-lhes o silêncio cúmplice, justificando tal comportamento como “um hábito muito sensato” (sensata era a minha tia e morreu!)…
Em contrapartida, os funcionários da troika, obedecendo à mesma tática de “um hábito muito sensato”, logicamente aconselhados por outro qualquer “Moreira da Silva”, nas reuniões com todos os interlocutores (que convidam), fazem o papel de “múmia paralítica”, entrando mudos e saindo calados, uma atitude insultuosa, se o objetivo dos encontros é dialogar…
Assim sendo, até parece que a hipocrisia, para além de institucional, é um hábito, mas muito pouco sensato ou mesmo imprudente!
E se a hipocrisia está institucionalizada no FMI, que não se institucionalize no Governo (já não se vai evitar), muito menos nos partidos (mesmo nos do poder) e menos ainda nos cidadãos (que não se calem)!
Bote-se a boca no trombone!
A troika aterrou na segunda-feira em Lisboa, com vento de norte e os juros da dívida portuguesa a ultrapassarem os 7%. É uma troika nova, com 2 novos técnicos: o irlandês John Berrigan (CE) e Subir Lall (FMI) – Subir é nome, não é alcunha. Infelizmente, para nós, o FMI foi buscar o único indiano que acha que não há vacas sagradas.
João Quadros
Os parceiros sociais, que estiveram reunidos com a troika, dizem que os credores internacionais se mantiveram em silêncio durante toda a audiência e não responderam a nenhuma das perguntas. Justificaram-se dizendo que não se podem pronunciar porque "estão de chegada". – Não falo enquanto não comer um pastel de Belém – terá dito um deles. O principal problema é mesmo esse. Ao contrário do prometido, eles não estão de partida.
Segundo António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal, "os 2 novos responsáveis vieram com uma lição estudada de manter silêncio" e aguentam olhos nos olhos sem piscar durante 12 minutos. Têm "uma postura de robot", disse Arménio Carlos. Até parece que têm uma cassete – terá acrescentado o líder da CGTP.
Vi as imagens do encontro e acho que os cobradores do fraque da troika estão com ar de: "meus amigos, até o Costa Concordia já regressou aos mercados". Subir Lal respondeu a todas as respostas com um: "Nom compriendo espanol". E o John Berrigan estava a pensar: "não percebo o que eles dizem, mas estes tipos parecem gregos."
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