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sábado, 25 de maio de 2013

Ouça um bom(?) conselho, que lhe dão de graça…

Não procures trabalho. É o que te digo. Não gastes nem o teu tempo nem o teu dinheiro, realmente não vale a pena. Tal como está a cena, com 1 em cada 2 jovens e quase 1 em cada 3 adultos em idade de deixar de trabalhar, à procura de emprego é uma farsa, uma piada, uma mentira e uma maneira estúpida para justificar a incapacidade dos nossos políticos, o baixar as calças eurocomunitárias e o que pouco lhes importa, aos que realmente mandam, que se ainda não tinhas notado, são os que falam alemão.
Risto Mejide
Não procures trabalho. Digo-te a sério. Se tens mais de 30 anos, foste dado como abandonado. Embora te chames Diego Martinez Santos e sejas o melhor físico de partículas da Europa. Não importa. Aqui serás um otário muito caro para manter. Aonde fores pedir, nada. Se aí fora tenho mais do que 20 jovens que não pediram mais do que uma oportunidade, eufemismo de trabalhar de graça. Anda, desaparece que me tapas o sol.
E se tens menos de 30 anos, tu sim, podes gabar-te de algo. Finalmente a geração do teu país duplica o resto da União Europeia em algo, mesmo que esse algo seja a taxa de desemprego. Hei, mas não te preocupes, que como disse o mestre, os recordes estão aí para serem batidos. Fica à espera de que os políticos te lancem uma corda, põe à prova a tua paciência mariana e vais ver como te sais bem.
Por isso atrevo-me a dar-te um conselho que não me pediste: tenhas a idade que tenhas, não procures emprego. Procurar não é nem de longe o verbo adequado. Porque a única coisa a que te arriscas é não encontrar. E a frustrar-te. E a desesperar-te. E a acreditares que é por tua culpa. E a voltares a afundar-te.
Não uses o verbo procurar.
Utiliza o verbo criar. Utiliza o verbo reinventar. Utiliza o verbo fabricar. Utiliza o verbo reciclar. São mais difíceis, sim, mas o mesmo acontece com tudo o que se torna real. É complicado.
Dá no mesmo se te vestes de autónomo, de empresário ou de empregado. Caso ainda não tenhas notado, chegou o momento das empresas unipessoais. Serás o teu CEO, o teu presidente, o teu diretor de marketing e a tua rececionista. A única empresa de que não te poderão despedir nunca. E o teu departamento de I+D (isso que tens sobre os ombros) há mito tempo que tem em cima da mesa a tarefa mais difícil de todos os tempos desde que o homem é homem: desenhar a tua própria vida.
Parece lixado. Porque o é. Mas corrige-me se a alternativa te está a pagar as faturas.
Trabalho não é sequer um bom substantivo. Porque é mentira que não exista. Trabalho há. O que se passa é que agora se distribui por menos gente, que em muitos casos se vê obrigada a fazer mais do que é humanamente possível. Chamam-lhe produtividade. Outra farsa, tão manipulável como todos os índices. Mas de qualquer maneira.
É melhor procurares-te entre as tuas competências. É melhor procurar o que sabes fazer. O que vai mais contigo. Todos temos alguma habilidade que nos faz especiais. Alguma singularidade. Alguma raridade. O difícil não é tê-la, o difícil é encontrá-la, identificá-la a tempo. E entre essas raridades, pergunta-te quais as que poderiam ser compensadoras. Se não é aqui, é fora. Se não é no teu setor, é em qualquer outro. Afinal, o que é um setor hoje em dia.
Não procures trabalho. É melhor procurar um mercado. Ou dito de outra forma, uma necessidade insatisfeita num grupo de gente disposta a gastar, seja em que moeda for. Aprende a falar no seu idioma. E não me refiro só à língua utilizada, mas também.
Não procures trabalho. É melhor procurar um ingénuo ou primeiro cliente. Reduz os teus medos, oferece-lhe um teste gratuito, sem compromisso, e promete-lhe que lhe devolverás o dinheiro se não ficar satisfeito. E pelo caminho, ganha a sua confiança, convence-o de que precisa de ti, embora não tenha dado conta. Não pares até obteres um sim. Virá acompanhado de algum ‘mas’, fica tranquilo, que os ‘mas’ caducam sempre e acabam por cair pelo caminho.
E de seguida, da tudo para que ele fique encantado por te ter conhecido. Não poupes esforços, converte a sua felicidade na tua obsessão. Fá-lo acreditar que és imprescindível. Na realidade nada nem ninguém o é, mas todos pagamos todos os dias por produtos e serviços de que nos convenceram do contrário.
Por último, não procures trabalho. Procura uma vida da qual não queiras sair nunca mais. E um dia a dia em que nunca deixes de aprender. Tenta não te vender e estarás muito mais perto de que alguém te compre de vez em quando. Ah, e esquece-te da estabilidade, isso é coisa do século passado. Tenta gastar menos do que tens. E sobretudo e antes de tudo, nunca te hipoteques, pensa que se alugas não estarás a estragar dinheiro, mas a comprar a tua liberdade.
Até aqui é a melhor ajuda que me ocorre, o mais útil que te posso dizer, quer te chames David Belzunce, Enzo Vizcaíno, Sislena Caparrosa ou Julio Mejide. Já sei, já sei que nem sequer te resolvi nada. Mas se esperavas soluções e que além disso essas soluções viessem de mim, então o teu problema é ainda maior do que eu pensava.
Não procures trabalho. Só assim, talvez, algum dia, o trabalho te encontre a ti.

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