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quarta-feira, 22 de maio de 2013

Unanimidade contra a austeridade! Menos um. Wer?

Em 15 de maio, os dados sobre o crescimento na Europa caíram como uma machadada: a economia da zona euro recuou pelo 6.º trimestre consecutivo. Trata-se do mais longo período de descida do crescimento desde a criação da moeda única, constata a imprensa europeia.
Com o crescimento de -0,2% em média no primeiro trimestre (contra -0,1% na União dos 27) e perspetivas nada melhores para a totalidade do ano (-0,7%), segundo o Eurostat, a tão temível “dupla recessão” tornou-se realidade. Um resultado que a imprensa atribui em grande parte às políticas de austeridade.
"A zona euro bate um novo recorde de duração da receção", resume o Financial Times na primeira página. O diário económico salienta que “este último recorde de decréscimo vem na sequência de um desemprego efetivo que atingiu 12,1% no conjunto dos países, o mais alto nível de sempre”. Assim, estes dados “podem aumentar a pressão sobre o Banco Central Europeu para intervir de novo, depois de ter cortado as taxas de juro este mês e de ter revisto em baixa as suas previsões económicas, que anunciavam uma recuperação no final do ano”.
Para o Financial Times, os novos dados, que revelam que a França voltou a entrar em recessão, aumentaram a pressão sobre o Presidente francês, François Hollande, no sentido de aplicar reformas económicas estruturais:
O Governo alemão está cada vez mais preocupado, pois, se Hollande não agir rapidamente, a gestão de crise da zona euro pode tornar-se incontrolável. Berlim encara a maioria dos países atualmente em crise como sendo possível de gerir, embora uma nova crise em Itália viesse a provocar problemas graves. Mas se a crise atingir a França, Berlim considera que a sobrevivência do euro seria novamente posta em causa.
Em Paris, o jornal Les Echos tem esperança de que a recessão, agora oficial, vai “obrigar a França a enveredar pelas reformas”. No mesmo comprimento de onda do FT, Jacques Attali, economista e ex-assessor de François Mitterrand, apela a que François Hollande empreenda “uma terapia de choque de reformas”:
Quer se trate de competitividade, de redução do défice ou das questões europeias, François Hollande tem feito muito, mesmo muito mais do que o seu antecessor, no mesmo tempo. Mas era preciso ser mais rápido. A presidência é como o cimento de secagem rápida – quanto mais se espera, mais difícil se torna intervir. No entanto, nada do que não foi feito é irreversível. É preciso acelerar o ritmo.
Para o România Libera, a recessão na zona euro significa que 2013 “entrou no vermelho”. O jornal de Bucareste salienta que o mau desempenho da economia europeia preocupa o outro lado do Atlântico, onde
a política de austeridade é vista como uma das principais causas da estagnação. Na verdade, o mundo está alarmado por a Europa ser o único continente que não regista crescimento, e por cultivar obsessivamente o “leitmotiv” do saneamento da dívida pública. Trata-se de uma política que pode levar os povos europeus ao desespero. [...] Há que ter em conta o seu descontentamento.
“A zona euro atola-se em recessão”, salienta, por seu turno, El Correo. A “mais longa da sua curta história”, frisa o diário:
O dilema enfrentado pela zona euro não é apenas sanear a consolidação fiscal com eventuais políticas de estímulo, constantemente expostas a contrapartidas, mas também perceber se os duros e continuados ajustes não estão a estrangular qualquer possibilidade de recuperação.
A Holanda, “que atravessa o seu pior período económico, tirando o da guerra”, não escapou à tendência. Mas aí “os consumidores têm evitado uma recessão mais forte”, como destaca o NRC Handelsblad em título. O jornal diz que um decréscimo de 0,1% no 1.º trimestre de 2013 em comparação com o mesmo período de 2012 indica que a recessão iniciada no 3.º trimestre do ano passado continua. O jornal baseia-se nos mais recentes dados do Instituto Nacional de Estatística, publicados em 14 de maio. Apesar de não serem dramáticos, diz o NRC, isso deve-se a alguns “pontos luminosos”:
O comércio externo tem funcionado bem, com um crescimento das exportações de 1% no 1.º trimestre. [...] Mas o que tem sido extremamente positivo é o consumo das famílias. É responsável por quase metade do PIB [...] e aumentou 0,4% em relação ao 4.º trimestre de 2012. Parece pouco, mas é a primeira vez, desde 2011, que os consumidores gastam um pouco mais.
A turbulência na zona euro também afeta os países fora dela. Na República Checa, a coroa sofreu um revés: perdeu 6% em relação ao euro, desde setembro de 2012, salienta o Hospodářské Noviny, em Praga. Para este diário económico,
o arrefecimento da economia em quase 2% do PIB no espaço de um ano é uma surpresa desagradável. [Além disso], a economia checa perdeu o seu último sustentáculo, as exportações.
“A Europa está a sufocar”, destaca o Gazeta Wyborcza, que culpa diretamente a política de austeridade: “Apertar o cinto está a conduzir-nos para a recessão”, adverte o jornal, na altura em que o Instituto de Estatística da Polónia anunciou que a economia do país cresceu apenas 0,4% no 1.º trimestre de 2013, em relação a período idêntico do ano anterior – o pior resultado dos últimos 4 anos e na sequência de 6 trimestres consecutivos de recessão na zona euro.
O GW cita o principal economista do Instituto, Mark Cliffe, que considera que “se a atual estratégia de aperto do cinto continuar, vamos ver mais países entrarem na bancarrota”. O diário salienta que a situação económica é especialmente má nos países que introduziram medidas de austeridade muito estritas, como a Espanha, Itália, Portugal, Chipre e Grécia.
Os dirigentes europeus, em particular os alemães, andaram a argumentar que a redução da despesa era a chave para a superação da crise. É verdade que a estratégia de apertar o cinto provocou défices orçamentais mais baixos; mas, ao mesmo tempo, levou à deterioração das condições económicas e à frustração social.

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