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quinta-feira, 30 de maio de 2013

“Numa boa”, para entrar na onda, que nos afoga…

É verdade que temos de olhar para o lado. Não vermos o desmancho na administração da Caixa. Não vermos que empresas outrora geridas por ministros de hoje são investigadas por gestão de fundos. Não vermos as previsões da OCDE. Não vermos a crise na coligação nem o excruciante benfiquismo de Gaspar e de todos os gaspares. Mas há dias em que olhar para o lado é olhar em frente. Hoje é um desses dias.
Pedro Santos Guerreiro
Olhar em frente não é cegar ao vazio nem beber as lágrimas que encheram meio copo. É, apenas, saber olhar. E ver que no mar revolto há quem boie. É o que a edição de hoje do Negócios faz. Não é uma "pílula positiva", é uma edição que dá destaque merecido a quem, por fazer bem, o mereceu. Os números negativos do País não se comovem um segundo, mas por alguns minutos pode ler nestas páginas dezenas de casos empresariais que inventaram um presente tentando chegar ao futuro. E não pode ser mentira se é com gente de verdade.
Empresas, claro, pois do Estado há poucas boas novas e muitas boas velhas. A esperança permanece privatizada: é nas empresas que se encontra quem contrarie a contrariedade. Temos filiais que lideram listas das multinacionais e não é nos índices de baixos salários, mas nos de produtividade. Temos empresas que exportam, que internacionalizam, que inovam. Esta edição está carregada delas. Revelamos um punhado de heróis que saltaram o abismo que as suas empresas enfrentavam. Relembramos dezenas de empreendedores que foram notícia ao longo dos últimos 12 meses neste jornal.
O Negócios cumpre mais 12 meses desde que é diário. Permitimo-nos por isso escrever meio parágrafo sobre nós: a comunicação social vive uma crise de receitas tão ou mais avassaladora que muitos outros sectores económicos, luta contra a crise, contra tentativas de enfraquecimento daqueles que contestamos, até contra concorrentes internacionais que nem impostos pagam. Mas foi nos últimos 12 meses que o Negócios consolidou a liderança na Internet, conquistou leitores no serviço pago online e pela 1.ª vez atingiu a liderança na audiência da edição impressa. Não dá para festança, mas dá para festividade; para a direcção elogiar a maravilhosa redacção; e para agradecer a confiança a todos os leitores. 
É pois com alguma ousadia que celebramos mais 12 meses com uma edição que escreve sobre heróis e fala de felicidade. Mas não é uma ousadia perante a realidade, é uma ousadia perante a monotonia das nossas gravidades. Portugal é o número 28 em 36 no "ranking" da felicidade da OCDE. Somos dos mais insatisfeitos com a vida. Mas ou vamos todos beber cerveja para a Austrália (o país mais feliz) ou resgatamos alegria onde ela exista. O Governo não sabe de que terra é, mas muitos de nós não andamos perdidos. Nas empresas. Na vida. Não é pecado ousar. Não é expiação dançar esta noite no Porto, no Primavera Sound. E um país onde o novo livro de Herberto Helder esgota num dia é um país que, na sua servidão, ainda sente o frémito quando lê "mão tão feliz de ter tocado teu corpo atento ao meu desejo".
Pois, caro leitor, este editorial não é muito normal. Mas esta edição é mais normal do que parece, ainda que esteja pintada com cores daqueles que têm cores alegres. Amanhã falaremos da Caixa, da queixa e da cacha. Hoje, para pasmo dos políticos, falamos da alegria. (Sabe, eles querem muito que nós sejamos felizes, pois isso aparenta paz e é parente das expectativas, de que a economia precisa. É por isso que muitos deles, brutos, dizem que o mal é do Fado, quando triste fado são eles próprios. Mas não estraguemos o andamento).
A felicidade é uma utopia, a alegria uma possibilidade, a realização cabe num livro de auto-ajuda. Nenhuma delas paga a casa a um desempregado, nem compra o pão a um falido. Mas hoje, só hoje, escrevemos não sobre o insulto das políticas falhadas aos excluídos, mas sobre a vitória ocasional sobre elas. Não é olhar para a Lua, é olhar para a terra. A nossa terra. 

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