(per)Seguidores

terça-feira, 28 de maio de 2013

Do Paul, com afeto, solidariedade e conselhos…

O Prémio Nobel da Economia Paul Krugman considerou hoje que "o que se está a passar em Portugal (e o que os portugueses estão a experienciar) é inaceitável", sendo vital "fazer alguma coisa".
No blog que mantém no site do jornal ‘New York Times', Paul Krugman dedica hoje dois extensos artigos a Portugal, onde recorda as suas experiências quando visitou Portugal em 1976, a convite do então governador do Banco de Portugal, José Silva Lopes.
"No Verão de 1976", recorda Krugman, vieram a Portugal cinco doutorandos do Massachussetts Institute of Technology (MIT) para dar conselhos ao executivo português. O Nobel da Economia recorda que, para além de si próprio, integravam ainda o grupo o futuro ministro das Finanças Miguel Beleza, bem como 3 outros economistas norte-americanos que vieram a ter carreiras de renome.
Na altura, diz o economista, "Portugal era um local interessante de um modo bizarro - ainda algo caótico depois do golpe de Estado [o 25 de Abril] e a retirada do seu império africano", estando os hotéis "cheios de ‘retornados'". Para Krugman, a Lisboa de então "parecia um fóssil, como muita da sua aparência e infra-estrutura pouco mudada desde o início do século. A Democracia parecia frágil, embora a verdade era que os ‘posters' maoístas em todo o lado enganavam; a esquerda democrática [o Partido Socialista] tinha ganho [as eleições] de modo decisivo quando chegámos (embora a televisão ainda mostrasse programas sobre tractores da Alemanha de Leste, numa altura em que os cinemas tentavam pôr-se em dia de uma década de filmes pornográficos ocidentais)". "Em suma", diz Krugman, "o país era fascinante, adorável e ainda muito pobre".
O economista recorda então a sua 2.ª vinda à capital portuguesa em 2012, onde se encontrou com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho e o ministro das Finanças Vítor Gaspar.
"Lisboa foi, para ser franco, um pouco decepcionante: tinha-se tornado numa cidade europeia normal, se bem que encantadora. Mas esta normalidade era, como todos admitimos, uma coisa maravilhosa: Portugal tinha emergido de uma longa e atribulada história para se tornar parte da decência básica do modelo social europeu", diz o prémio Nobel.
"Mas agora, tudo isso está sob cerco", avisa. Numa análise separada mas escrita quase em simultâneo, Krugman analisa a situação da economia portuguesa, e verifica que o país está a ficar na mesma situação que os EUA experimentaram durante a Grande Depressão de 1929-1934. O Nobel da Economia avisa que quem quer que esteja a analisar a evolução económica "deverá focar-se, acima de tudo, sobre como e porquê é que estamos a permitir que este pesadelo aconteça de novo, 3 gerações depois da Grande Depressão".
"Não me digam que Portugal teve más políticas no passado e que tem agora profundos problemas estruturais. Claro que tem; como aliás toda a gente, e enquanto os de Portugal poderão possivelmente ser piores do que os de alguns outros países, como é que pode possivelmente fazer sentido ‘lidar' com estes problemas através da condenação ao desemprego de vastos números de pessoas que querem trabalhar?", questiona o economista.
Krugman avança, como solução para Portugal, uma "maior inflação" nos países do centro da Europa, bem como uma forte "ajuda da política orçamental - não uma situação onde a austeridade nos países periféricos é reforçada por austeridade nos países do centro".
"O que tem acontecido até agora, contudo, são 3 anos nos quais a política europeia se tem focado quase inteiramente nos alegados perigos da dívida pública. Eu não penso que é uma perda de tempo discutir como é que esse foco erróneo aconteceu, incluindo o papel desafortunado que foi desempenhado por alguns economistas que têm feito um óptimo trabalho no passado, e que presumivelmente também o farão no futuro. Mas agora o importante é mudar as políticas que estão a causar este pesadelo", argumenta o economista de Princeton.
Krugman sublinha ainda que, por vezes, encontra "europeus que pensam que as minhas duras críticas da ‘troika' e das suas políticas significa que sou anti-europeu. Pelo contrário: o projecto Europeu, a construção da paz, democracia e prosperidade através da união, é uma das melhores coisas que alguma vez aconteceu à humanidade. E é por isso que as políticas erróneas que estão a desfazer a Europa são uma tragédia tão grande".
Começa a perceber-se, que há uma ligação de Krugman a Portugal, desde os idos de 1976, razão porque tantas vezes denuncia a trama em que nos envolvem, a solidariedade que torna pública e as alternativas que propõe para o “nosso mal”…
Realmente, quem naquela data viu em Lisboa as filas dos “retornados” e nos tempos de hoje pode ver Um "campo de refugiados" à hora de jantar, tem que interrogar-se sobre o que se passou e se está a passar (sem se ver o fim), tem que desconstruir as medidas políticas (erradas) e tem que apontar o dedo aos políticos (impreparados) que as impõem, em defesa de um povo fascinante, adorável e empobrecido.
E para quem vê de fora este drama, menos compreenderá o que justifica que mesmo quando 1 em cada 7 (portugueses) trabalha em excesso, a pobreza galgue sobre a classe média, o ordenado mínimo não chegue para sair da pobreza, haja centenas de milhares de cidadãos sem qualquer apoio económico e se insista em sacar mais aos mesmos (já sei que é cassete), sem que se veja qualquer recompensa e sabendo toda a gente que cada vez estaremos pior…
Haja ao menos alguém (e que alguém!), que insiste e não desiste de dizer que os líderes (europeus e nacionais) têm a obrigação, JÁ, de mudar as políticas que estão a causar este pesadelo, que é inaceitável. E injustificável pelas teorias económicas…
Fala quem sabe!
Imagem

Sem comentários:

Enviar um comentário