O partido Alternativa para a Alemanha vai ser lançado oficialmente a 14 de abril. O seu programa resume-se a retirar a Alemanha do euro. Os seus fundadores não têm um rumo bem definido e, contudo, podem interferir com Angela Merkel nas eleições de setembro deste ano.
Alexander Gauland está um pouco tenso com a aproximação do congresso do próximo domingo, 14 de abril. Encontramo-nos num dos restaurantes mais calmos do [bairro governamental] Regierungsviertel, em Berlim. Ei-lo [...] de cabelo grisalho e casaco de “tweed”. O alarido em torno do seu novo partido começa a deixá-lo pouco à-vontade.
Aos 72 anos, é cofundador do partido Alternativa para a Alemanha (AFD). No dia 5 de abril, já havia cerca de 1.500 pessoas registadas para participarem no congresso, muitas mais do que as que cabem na sala reservada para a ocorrência, no hotel InterConti de Berlim. “Na verdade, nunca se sabe quem vem ao certo”, justifica Gauland. Enquanto outros se congratulam com este êxito, ele teme que muitos totós tomem a palavra.
A partir de domingo, 14 de abril, todos os alemães que já não suportam ouvir a fórmula-fetiche de Angela Merkel (“Não há alternativa”) talvez possam finalmente ter outra, alternativa. Apesar de ter como alvo o cartel dos partidos históricos e o poder dos bancos, o inimigo número um é o euro. Querem voltar ao marco. Se o AFD conseguir pôr o pé no Bundestag neste outono, vai bater-se pela dissolução da moeda europeia.
Eleitores desiludidos com a CDU são o alvo
Uma sondagem recente revela que 26% dos entrevistados se declararam dispostos a votar num partido antieuro. No início de abril, a AFD tinha já 6.000 aderentes. Com uma tal linha política, o partido vai pescar votos nas franjas dos extremos e a direção do partido já teve que excluir alguns simpatizantes da extrema-direita. Mas é sobretudo nas fileiras da direita tradicional que a AFD se alimenta. O seu alvo são os eleitores desiludidos com a CDU [democratas-cristãos] e o FDP [liberais]. “É o tipo de partido que é perigoso para nós”, admite Klaus-Peter Willsch, deputado da CDU.
Alexander Gauland faz também parte dos desiludidos. Era filiado na CDU desde há 50 anos. Na época, ainda era fácil fazer política, as coisas eram claras. A CDU defendia a energia nuclear, o serviço militar e a estrutura familiar tradicional, e o marco era a moeda mais forte da Europa. Hoje, tudo mudou e os conservadores não têm uma vida fácil. Quando Angela Merkel fez aprovar uma lei sobre transição energética a todo o vapor, Gauland começou a ter dúvidas sobre o seu partido. Quando ela se comprometeu a salvar o euro, com injeções de milhares de milhões de euros, atingiu o seu limite. “O euro não está a resultar”, afirma ele. “Esse dinheiro não une o continente, divide-o.” Há algumas semanas, acabou mesmo por bater com a porta da CDU e partiu à procura de um novo refúgio conservador.
Como ele, muitos membros da AFD são antigos militantes da CDU. A liderá-la estão muitos catedráticos com uma certa idade. Depois das revoltas estudantis dos anos de 1960, soa agora a hora da revolta dos catedráticos. A média de idades dos apoiantes da Alternativa para a Alemanha não anda, provavelmente, muito longe da de um conclave do Vaticano.
O antídoto para este predomínio de cabeleiras brancas tem 50 anos e chama-se Bernd Lucke. Professor de Economia de aspeto jovem [deverá] ser eleito presidente do partido. Lucke apresenta os seus pontos de vista de forma clara e compreensível. O tom não tem nada de professoral, é fresco.
Quem tem de abandonar o euro, a Alemanha ou os outros?
Mas os professores têm dificuldade em impor-se na vanguarda de um movimento que se quer de massas. Bernd Lucke já tentou a sua sorte nas eleições regionais da Baixa Saxónia, onde entrou numa aliança de Eleitores Livres. Não contente em apresentar a sua própria candidatura, propôs a cada candidato do grupo que organizasse uma conferência sobre o euro no seu círculo eleitoral. Mas os militantes não estavam nada interessados em palestras académicas.
Bernd Lucke tem especial dificuldade em explicar qual a configuração da alternativa à linha pró-euro de Angela Merkel. Se é a Alemanha que deve abandonar o euro ou os outros que devem sair, é caso para ver. Bernd Lucke explica que ainda não há unanimidade dentro do partido sobre o caminho exato a seguir. Mas qualquer decisão deve ser objeto de consenso. Por outras palavras, os países que a Alemanha quer empurrar para fora do euro terão de concordar. Por que haviam eles de o fazer, quando a Alemanha é tão lesta a puxar da carteira? É precisamente este o argumento crucial do partido, afirma Bernd Lucke: “Não haverá mais injecções de dinheiro.”
E quanto ao ressentimento que isso atrairá para cima da Alemanha? Trata-se, naturalmente, de um ponto a que convém estar atento. “Temos de sentar todos à mesa e explicar que não dá para continuar como está.” Angela Merkel deve encontrar-se com François Hollande para debater a questão e pedir-lhe cordialmente para sair do euro. “Mas não fiques chateado, François, está bem?” É como exigir a supressão dos invernos longos.
Por outro lado, não tem de haver necessariamente um plano realista para garantir o êxito de um partido. Embora as empresas de sondagens duvidem que a Alternativa para a Alemanha ultrapasse o limiar dos 5% [que lhe permitem entrar para o parlamento] nas eleições legislativas de setembro. “Economicamente, a Alemanha continua a ter bons resultados, o que reduz as possibilidades de partidos contestatários”, é a análise de Richard Hilmer, do instituto Infratest Dimap. Sem contar que a maioria da população continua a confiar no governo federal, apesar da crise na zona euro. “O ponto mais forte de Angela Merkel é a política europeia.” A AFD pode, todavia, constituir uma ameaça para a chanceler nas legislativas, se as alianças CDU/FDP e SPD/Verdes ficarem mano a mano.
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