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sábado, 13 de abril de 2013

Como se tenta driblar a realidade… Uma riqueza!

Segundo o BCE, os alemães não lucraram com a crise e até são menos ricos que os outros europeus. Para o “Frankfurter Allgemeine Zeitung”, isso é a prova de que os alemães não devem pagar pelos erros dos outros e que têm de distribuir melhor a riqueza.
A classificação divulgada pelo BCE poderá ter o efeito de uma bomba. Pela primeira vez, os europeus dispõem de dados oficiais, representativos e comparáveis, para avaliar as respetivas riquezas. Os alemães, que detêm um património médio por família no valor de pouco mais de €51 mil, são mais pobres do que os eslovacos, possuem uma riqueza líquida igual a metade da dos gregos (€102 mil) e são praticamente miseráveis em comparação com os luxemburgueses (€398 mil) e com os cipriotas (€267 mil).
Esta classificação causa surpresa mas não tem nada de escandaloso. Reflete uma realidade que – por uma razão ou por outra – muitos órgãos de informação e muitos responsáveis políticos se recusam a ver. A única coisa escandalosa é o facto de o BCE ter mantido este estudo secreto, até ao plano de “salvamento” de Chipre. Tal facto mostra até que ponto esta instituição bancária se comporta como ator político na crise do euro.
A classificação desmistifica a imagem – política e tantas vezes evocada – de uma Alemanha a nadar em prosperidade. Em Bruxelas, a Alemanha é frequentemente acusada de, com as suas exportações, ter impelido os países mediterrânicos para a febre do consumo e do sobre-endividamento. Esta acusação é tão verdadeira como a ideia segundo a qual a moeda única terá sido mais proveitosa para a Alemanha do que para qualquer outro país europeu. Na realidade, foi o inverso que aconteceu: após a introdução do euro, a Alemanha recuou vários pontos em termos de crescimento e de rendimento por habitante. Em contrapartida, é verdade que, quando lhes foi oferecido o euro e as respetivas taxas de juro baixas, os países que estavam habituados a uma moeda fraca não acharam nada melhor que contrair uma montanha de dívidas.
Comparações à escala europeia
Os responsáveis políticos alemães também não o querem admitir. Alguns defendem a perequação financeira [mecanismo de transferências financeiras com o objetivo de equilibrar a capacidade orçamental ou os resultados económicos dos diferentes níveis de governo de um sistema federal] na zona euro e pedem mais solidariedade na emissão de euro-obrigações. Depenados pelos seus próprios serviços fiscais, os alemães, os franceses, os holandeses, os austríacos e os finlandeses teriam de pagar as dívidas públicas de Estados não solidários, quando, afinal, não são mais ricos que os italianos, os espanhóis, os belgas, os malteses ou os cipriotas.
Mas, como isso não seria justo, o projeto das euro-obrigações teria de ficar a criar bolor durante algum tempo, numa gaveta de Bruxelas. Contudo, não há certezas. A classificação do BCE é minuciosamente reexaminada. Os números não seriam comparáveis, porque alguns valores imobiliários datavam de 2008 e não de 2010. O que só é válido no caso da Espanha. A dimensão das famílias seria também uma variável importante. Só que, também aqui, não faz sentido: com um pouco mais de duas pessoas [por família], a Alemanha situa-se pouco abaixo da média europeia de 2,32.
Alguns consideram que os alemães são ricos, porque recebem pensões de reforma generosas. Eis um ponto interessante. Desde quando é que os mecanismos de redistribuição social fazem parte do património? Os reformados alemães talvez tenham direito às suas pensões, mas esse dinheiro tem de ser retirado dos rendimentos da geração seguinte. Não tem nada a ver com o conceito de património constituído de seguros de vida e de poupança. É nesse conceito que se centram as comparações à escala europeia, do mesmo modo que, ao valor de uma casa, de veículos e de obras de arte são subtraídas todas as dívidas e outras despesas associadas.
Património da família alemã é o mais fraco
E talvez a classificação sirva igualmente para abrir os olhos a alguns alemães que querem, a qualquer custo, “salvar” os países mediterrânicos, impondo a igualdade de riqueza. Acontece, porém, que, na Alemanha, as desigualdades são mais acentuadas, como mostra a distância considerável entre património médio e património mediano. Mas então porquê?
Este estudo permite concluir que o património da família alemã média é o mais fraco da zona euro, o que é também uma consequência das duas guerras mundiais e dos custos da reunificação. Os europeus mais ricos são aqueles que vivem em pequenos países cujos sistemas bancários são sobredimensionados, como o Luxemburgo, Chipre ou Malta. Também ali, aquilo que sobreviveu à guerra constitui hoje uma herança importante, como na Bélgica, em Espanha, em Itália, em França e na Holanda.
É interessante salientar que, desde a queda da cortina de ferro, até as famílias da Eslovénia e da Eslováquia conseguiram aumentar mais o seu património do que os alemães. A chave deste enigma reside num dos principais pontos fracos do modelo alemão. Na antiga RDA, o acesso à propriedade foi facilitado pelos baixos preços a pagar para comprar a casa própria ao Estado. Resultado: entre 82% e 90% das famílias dessas regiões são proprietárias, apesar de a média nacional se situar em cerca de 44%. Por outro lado, a maior parte dos alemães continua a preferir ter o dinheiro no banco, em troca de uma pequena remuneração, um hábito que lhes custa mais do que aquilo que rende, visto que a inflação é superior à taxa de juro. Globalmente, seria mais sensato comprar bens imobiliários. Com um pouco de vontade e de disciplina, muitos proprietários conseguem constituir assim um património a longo prazo. A Alemanha tem de aprender a distribuir melhor as suas próprias riquezas.
Vou dizer mais uma vez, que não costumo comentar artigos que escolho, mas no caso, para além de não se descortinar qualquer prova do que se diz, muito menos de uma análise com base em quaisquer dados apresentados e como já publiquei, há 17 dias, um post sobre o assunto, fiquei perplexo com algumas inverdades.
O estudo não é do BCE, mas do Bundesbank (embora seja quase a mesma coisa) e foi publicado pelo diário alemão Frankfurter Allgemeine.
O jornal espanhol El Mundo não gostou muito do tom das comparações e aproveitou para publicar um texto algo provocador, onde chega a perguntar: “pobres alemães! Deveríamos resgatá-los?”
Se quiser conhecer alguns dados omitidos agora e uma análise mais detalhada, leia: Quem muito mama, ainda chora…

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