“Eu acho que devias fazer parte do European Creative Board” disse-me o então presidente para a Europa do network onde trabalhava. “Com prazer” retorqui, pensando nas viagens a Paris, Londres e Nova Iorque e na possibilidade de ser convidado a participar em projectos globais com a minha agência.
Pedro Bidarra
Na primeira reunião a que fui, no Hotel Costes em Paris, fui recebido com desconfiança. A coisa parecia uma anedota das antigas. Um inglês, um francês, um alemão, um italiano, um espanhol e eu, o português. Todos directores criativos. O presidente do board, o inglês, perguntou-me por que razão estava eu ali; insinuava atrevimento da minha parte em querer fazer parte de um grupo tão distinto de criativos europeus. Os outros recostaram-se nas cadeiras de veludo vermelho e esperaram a resposta.
Pediam-me para justificar a minha inusitada ascensão ao Creative Board da agência onde trabalhava. Percebi, já desconfiava na verdade, que o trabalho que a justificava era deles desconhecido. Razão? A nacionalidade. Não era esperado que de Portugal pudesse sair trabalho criativo; bom artesanato, toalhas bordadas, sardinhas e jeito prá bola sim, criatividade, inovação, bom gosto e apuro estético não.
Perguntei-lhes se conheciam o trabalho. Com imenso à vontade disseram que não. Eu disse-lhes que tinha trazido um reel e que o melhor era vê-lo de imediato para que pudessem avaliar a qualidade. Disseram que não, que não valia a pena; esperavam ver publicidade merdosa, a que teriam de sorrir amarelamente, e queriam evitar o embaraço. Eu insisti e obriguei-os a ver.
Viram as campanhas feitas para a Optimus, entre elas o filme conhecido como “A Baleia”, para a Nissan “Ninguém gosta tanto do seu carro como o dono de um Micra”, as campanhas do Clix, “fazer Clix custa nix”, algumas das melhores campanhas do BES e muitas outras.
Quando acabou estavam impressionados mas mesmo assim descrentes. “Aqui há gato” terão pensado. Perguntaram se os filmes, impecavelmente produzidos e realizados, eram obra de gente não portuguesa. Disse-lhes que não, que toda aquela obra fora encomendada por, criada por e produzida por portugueses.
Admirados, e não querendo falar mais do assunto, que como era evidente abalava as suas ideias feitas, quiseram passar à agenda. Não deixei. Sugeri, na verdade exigi, ver o reel deles, o trabalho de cada uma das agências do board. Já que tínhamos aberto a porta...
Assim fizemos. Tirando o inglês e um ou outro francês e espanhol (embora claramente protótipos para concursos) o trabalho era medíocre. Disse-lhes que me parecia que o board tinha muito a fazer para elevar o trabalho das agências europeias ao nível em que estava o de Inglaterra e Portugal.
Não quis agradar, nem pertencer, nem fazer amigos. Só quis respeito. No fim consegui: tanto o respeito, como amigos e, sem nunca sair de cá, trabalhar para a Europa, os E.U. o México, a Rússia e o Brasil.
Lembrei-me desta estória quando ouvi que um grande anunciante português sugeriu à sua grande agência, que trouxesse criativos estrangeiros para lhe resolver os briefings importantes; porque os de cá só fazem banalidades, estão gastos. Daí o título.
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