Um incidente na central nuclear de Fessenheim, em França, teve origem na emissão de vapor de água que adveio de um erro durante uma operação de manutenção num dos reactores da central.
Dois funcionários ficaram com “ferimentos nas mãos”, segundo um comunicado da EDF, a empresa encarregue de gerir a central nuclear.
O acidente desta quarta-feira traz ao debate público a questão do futuro da central de Fassenheim, a mais antiga do parque nuclear francês. É que, durante a campanha presidencial, François Hollande prometeu aos ecologistas que a central estaria fechada até 2017.
Estas notícias aparecem e desaparecem nos media, tão rapidamente como surgem, quebrando o estado de alerta dos cidadãos, que não deve ser amaciado, muito menos com a inocuidade dos mesmos. Se, no caso, apenas 2 funcionários se feriram nas mãos, onde reside o valor da notícia?
A cadência de incidentes/acidentes em centrais nucleares em todo o mundo tem vindo a aumentar significativamente, tendo levado vários governos europeus a tomar posições de muita cautela e de nucleares preocupações a ponto de reduzirem a sua dependência desta fonte de energia até à sua extinção, apesar do lóbi, como poderemos pressenti-lo na confusão do artigo abaixo…
Em vez de provocar uma explosão das “energias verdes”, a saída do nuclear, anunciada por Angela Merkel em 2011, levará à construção de novas – e extremamente poluentes – centrais de carvão. No entanto, é opção que agrada aos ecologistas.
Quando um dos nossos vizinhos alemães começa uma declaração com: “Os alemães têm o direito de…”, é sempre preocupante. De que direito se trata? O de intoxicar o ambiente! – defendem os especialistas da Fundação Heinrich Böll num recente relatório. A Alemanha, tendo reduzido suficientemente as suas emissões de dióxido de carbono ao longo dos últimos anos, deverá agora poder aumentá-las. E por que não utilizar o carvão como fonte de energia, nem que isso signifique produzir uma energia quase tão poluente como a produzida pela combustão de pneus! A Alemanha tem o direito de o fazer.
Tais declarações por parte de um país considerado líder da revolução da energia renovável, deveriam preocupar os ecologistas. Algo que não acontece com os ecologistas alemães, uma vez que foram os próprios a redigir este relatório. A Fundação Heinrich Böll é de facto um think-thank do partido Verde alemão. É o fim de tudo. Os ecologistas são apoiados pelo ministro do Ambiente, Peter Altmaier, que declarou recentemente ao Zeit que até 2020, o país produzirá 35% da sua eletricidade a partir de fontes renováveis. Mas não nos podemos esquecer dos restantes 65%.
O início da revolução verde
Terão os ecologistas alemães perdido a razão? Peter Altmaier desempenhou um papel importante no regresso alemão ao carvão. Nenhum outro país está a construir atualmente tantas centrais alimentadas a coque como a Alemanha, que já conta com 23 instalações. A maioria destas instalações irá queimar lenhite, o combustível mais poluente de todas as energias fósseis, com um impacto atmosférico de 150 milhões de toneladas de CO2, e tudo com o apoio dos Verdes.
Terão os ecologistas alemães enlouquecido? Sim, de certa forma. Desde que Angela Merkel anunciou, em março de 2011, poucos dias após o acidente na central nuclear japonesa de Fukushima, a extinção de 7 dos 17 reatores nucleares da Alemanha, só têm olhos para a chanceler. Quanto à decisão do Governo alemão, oficializada no dia 30 de maio de 2011, relativamente à paragem definitiva de todas as centrais nucleares em atividade [até 2022], esta acabou por tornar realidade os sonhos dos ecologistas e marcou o início da revolução verde.
A decisão da chanceler de abandonar a energia atómica não foi nenhum ato de heroísmo político, já que depois da catástrofe de Fukushima, 70% dos alemães se opuseram à energia nuclear. No entanto, teria sido necessário prever as repercussões desta decisão, o que não aconteceu. Inicialmente, a Alemanha deveria renunciar à energia atómica progressivamente, substituindo-a pela energia renovável. Em vez disso, a Alemanha vai perder, numa só década, 20% da sua produção de eletricidade.
No entanto, no início, toda a gente esperava que o gás se tornasse o substituto natural da energia atómica. Porém, essas previsões não se concretizaram devido ao facto de o Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE ou Emission Trading System – ETS) não ter cumprido o prometido. Este mecanismo limita as quotas dos gases com efeito de estufa emitidos por uma empresa, e entrega a cada empresa, incluindo aos produtores de energia, uma licença que lhes permite emitir CO2. As empresas que reduziram o valor das suas emissões podem vender as quotas inutilizadas a empresas que ultrapassaram os seus limites.
Quotas de CO2 inutilizadas
Com um ETS operacional, o carvão não teria qualquer hipótese de sobreviver como fonte de energia, face ao gás natural, que polui 3 vezes menos em termos de CO2. Contudo, os criadores do ETS não tinham previsto que a Europa entrasse numa crise económica que reduziu consideravelmente a procura em eletricidade. Por consequência, os produtores de energia elétrica ficaram com quotas de emissão de CO2 inutilizadas, cujos preços caíram drasticamente. Atualmente, o preço da licença para emitir uma tonelada de CO2 é de cerca de 7 euros, enquanto, segundo o Instituto Tecnológico de Karlsruhe, para que a eletricidade proveniente do gás natural fosse mais barata do que a produzida pelo carvão, este valor deveria rondar os 35 euros.
Numa altura em que certas vozes se erguem no Parlamento para reclamar a manutenção parcial do setor nuclear, os Verdes mostram-se favoráveis ao carvão, um feito inédito para um partido ecológico. “Estamos dispostos a aceitar o regresso temporário do carvão como fonte de energia, para poupar a Alemanha dos efeitos devastadores da energia atómica. De qualquer forma, a nossa principal preocupação é o ambiente” – explicou, Jürgen Trittin, o chefe do grupo dos Verdes no Bundestag.
Será que se trata do interesse do planeta, ou de uma convergência excecional entre os interesses dos líderes da indústria energética e o suposto bem-estar da Terra? De qualquer forma, não são de forma alguma os interesses ambientais que primam sobre os restantes, conforme o demonstra o caso lamentável da indústria solar alemã.
Cultura do ananás
Pode-se afirmar sem medo que os alemães adoram a energia solar. O território do nosso vizinho ocidental é aquecido pela mesma quantidade de raios de sol do que o Alasca, e no entanto, a Alemanha dispõe por si só das instalações de células fotovoltaicas com uma capacidade total que equivale praticamente à potência de todas as outras instalações repartidas pelo mundo. “É como se os habitantes do Alasca começassem de repente a cultivar ananases”, declarou recentemente o deputado do CDU [conservadores], Michael Fuchs.
Esses ananases são muito caros para os alemães. O absurdo de investir no setor da energia solar foi claramente descrito nas publicações do economista Joachim Weimann. Na sua opinião, se os 9.000 milhões de euros, atribuídos este ano ao setor da energia solar, fossem investidos na energia eólica, o país produziria 5 vezes mais eletricidade, ou 6 vezes mais, se os investimentos fossem feitos na energia hidráulica. Do mesmo modo que, para reduzir as emissões de CO2 em uma tonelada, bastava investir 5 euros no isolamento de um prédio, 20 euros numa nova central de gás, ou 500 euros na energia solar.
Apesar de ter custos elevados, o Governo alemão apoiou durante anos o setor, na esperança, diz Weimann, de que os produtores alemães de células fotovoltaicas, beneficiários de subvenções substanciais, conseguissem dominar os mercados mundiais. Mas há dois anos, quando se verificou que os chineses eram capazes de produzir células duas vezes mais baratas do que os alemães, Berlim suspendeu as ajudas, gerando uma onda de falências na Alemanha.
Se as despesas a favor das energias renováveis servissem para proteger o ambiente, a energia solar nunca teria existido na Alemanha. Mas na verdade, a revolução verde alemã não ocorreu em prol do ambiente, mas do lucro e da vontade de criar nichos especializados onde as empresas alemãs pudessem tornar-se imbatíveis.
Assim como a chanceler Angela Merkel conseguiu convencer os ecologistas a favor do carvão, esta poderá fazer provavelmente o mesmo relativamente ao nuclear. Mas isto não teria qualquer interesse para a economia alemã, uma vez que a energia nuclear é um domínio reservado à França. A proteção do ambiente deve, acima de tudo, ser rentável.
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