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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Já ninguém duvida que é tudo planeado! E a seguir?

Afundada numa violenta depressão, a Grécia está a ser exaurida por uma UE "incompetente" e pelo seu "insensível" comissário para os Assuntos Económicos e Monetários, Olli Rehn, acusa Peter Oborne, num veemente comentário de página inteira.
Durante toda a minha vida adulta, o “establishment” britânico tendeu a encarar a União Europeia como relativamente incompetente e corrupta, mas seguramente benigna e, de uma maneira geral, uma força do bem num mundo conturbado. Esta atitude está a tornar-se cada vez mais difícil de sustentar, à medida que a parceria de nações começa de repente a revelar-se efetivamente muito negativa: um opressor brutal que despreza a democracia, a identidade nacional e as condições de vida das pessoas comuns.
O ponto de viragem pode ter-se dado esta semana, com a mais recente intervenção de Bruxelas: os burocratas ameaçam levar à falência um país inteiro, a menos que os partidos da oposição prometam apoiar o plano de austeridade promovido pela UE.
Vamos colocar o problema grego em perspetiva. A Grande Depressão da Grã-Bretanha, nos anos 1930, tornou-se parte da nossa mitologia nacional. Foi a época das sopas dos pobres e do desemprego em massa, imortalizados nos maravilhosos romances de George Orwell. No entanto, a queda da produção nacional, durante a Grande Depressão, nunca ultrapassou os 10%. Na Grécia, o produto interno bruto já está cerca de 13% abaixo do de 2008 e, de acordo com os especialistas, é provável que caia mais 7% até ao final deste ano. Por outras palavras, no próximo Natal, a depressão da Grécia terá o dobro da gravidade da horrorosa catástrofe económica que atingiu a Grã-Bretanha há 80 anos.
Porém, todas as manifestações sugerem que a elite europeia se está nas tintas. No início desta semana, Olli Rehn, o principal economista da UE, alertou para as "consequências devastadoras" do incumprimento da Grécia. O contexto dos seus comentários sugere, contudo, que ele não estava tanto a pensar nas consequências devastadoras que resultariam para os próprios gregos, mas para o resto da Europa. Embora a euro-elite não pareça importar-se, a vida na Grécia, berço da civilização europeia, tornou-se insuportável.
Suicídios aumentaram e homicídios duplicaram
Cerca de 100.000 empresas foram desmanteladas e muitas mais estão a entrar em colapso. Os suicídios aumentaram acentuadamente, os homicídios duplicaram, com dezenas de milhares de novos sem-abrigo. A vida nas áreas rurais, que estão a regressar à troca direta, ainda é suportável. Nas cidades, é muito dura e para algumas minorias – a começar pelos albaneses, que não têm direitos e há muito fazem os trabalhos que os gregos não querem – é aterradora.
Não são apenas as famílias que estão a passar mal – as instituições gregas estão a ser completamente despedaçadas. Ao contrário da Grã-Bretanha em plena devastação económica dos anos 30, a Grécia não se pode reportar a séculos de relativa estabilidade da democracia parlamentar. Ainda há apenas uma geração que o país saiu de uma ditadura militar. E, com zonas do país agora sem lei, forças sinistras estão novamente em ascensão. Só no passado outono, os partidos extremistas recolheram cerca de 30% dos votos populares.
Hoje, os extremistas de esquerda e de direita estão com 50% e a subir. Deve ser dito que este desencanto com a democracia tem sido atiçado pela interferência da própria União Europeia e em particular pela sua imposição de Lucas Papademos como primeiro-ministro fantoche.
No ano passado, fui duramente criticado e inclusivamente retirado do painel de comentadores do programa “Newsnight” da BBC por um produtor muito sensível, por ter chamado a Amadeu Altafaj-Tardio, porta-voz da União Europeia, "esse idiota de Bruxelas". Diversos intermediários bem-intencionados têm vindo, desde então, a procurar-me para garantir que Altafaj-Tardio é um homem inteligente e até mesmo encantador. Não tenho nenhum motivo de peso para duvidar disso, e há que ter em conta que ele é simplesmente o amplificador e mercenário de Olli Rehn, o comissário para os Assuntos Económicos e Monetários.
Desumanidade dos membros da União Europeia
Mas olhando para trás, é evidente que os meus comentários foram demasiado generosos, e gostava de me explicar mais em detalhe e com mais veemência. A idiotice é, naturalmente, uma parte importante do problema de Bruxelas, explicando muitos dos erros de avaliação e das competências básicas ao longo dos últimos anos. Mas o que é, de longe, mais impressionante é a insensibilidade e absoluta desumanidade de membros da comissão da União Europeia como Olli Rehn, uma vez que presidem a um regime – de Bruxelas – que está em vias de destruir o que já foi um país orgulhoso, famoso e razoavelmente funcional.
Tenho idade suficiente para recordar a sua retórica, quando Margaret Thatcher dirigia a Grã-Bretanha através de políticas monetaristas, em resposta à recessão dos anos 80. A primeira-ministra britânica foi acusada de falta de qualquer resquício de compaixão ou de humanidade. No entanto, a perda de rendimento económico durante a recessão de 1979-82 não chegou aos 6%, menos de 1/3 do nível da depressão agora sofrida pelos desgraçados gregos. O desemprego chegou a 10,8%, pouco mais de metade do ponto em que se encontra hoje a Grécia.
A realidade é que Margaret Thatcher era uma figura infinitamente mais clemente e pragmática do que o chefe de Amadeu Altafaj-Tardio, Olli Rehn, e os seus tenebrosos parceiros. Ela nunca teria destruído uma nação inteira por conta de um dogma económico.
Já não pode ser moralmente aceitável que a Grã-Bretanha apoie a moeda única europeia, uma experiência catastrófica que está a infligir uma devastação humana em tal escala. Deixando de lado todas as demais considerações, por simples razões humanitárias, deve David Cameron pressionar uma rutura com Bruxelas e sair, ainda que tardiamente, em auxílio da Grécia.
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